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Motivo fútil

Grupo que matou jovem em Charqueadas atacava quem era de fora da cidade

Detalhes do crime foram divulgados na manhã desta terça-feira pelo Ministério Público Estadual em Porto Alegre

04/08/2015 - 13h37min

Atualizada em: 04/08/2015 - 13h37min


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Divulgação / Arquivo pessoal
Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior tinha 17 anos

O estudante Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior, 17 anos, teria sofrido as agressões que o levaram à morte na madrugada de domingo, em Charqueadas, só porque estava acompanhado de um amigo da vizinha São Jerônimo. A informação foi revelada na manhã desta terça-feira na sede do Ministério Público Estadual, em Porto Alegre.

Ronei morreu atingido por chutes, socos, garrafadas e golpeado com os cacos de vidro. Motivos fúteis como "pegar" quem vinha de outros municípios para festas em Charqueadas eram o combustível das ações do "bonde", que atuava há mais de um ano na cidade. Até então, as agressões não haviam resultado em morte.

- Esses jovens se juntam para cometer delitos sem motivo algum - afirmou o promotor de Justiça Roberto Carmai Duarte Alvim Junior.

Pedida prisão preventiva de suspeitos de matarem adolescente em Charqueadas

O promotor pediu a prisão de oito adultos e representou pela internação provisória de seis adolescentes pela morte de Ronei. Sete adultos já estão presos, e a Justiça ainda não definiu o destino dos adolescentes. Segundo o promotor, o crime explicita diversos problemas que têm incentivado a criminalidade no país, desde as leis brandas que geram um clima de "não dá nada" até a desestruturação da segurança pública e a educação falha dada pelos pais. De acordo com a investigação, os envolvidos comemoraram as agressões pelo aplicativo de mensagens WhatsApp.

- Os pais ajudaram a criar esses monstros. As famílias não deram limites. É crescente a omissão dos pais. Eles entregam à escola e ao Estado a responsabilidade (pela educação) - disse.

Imagens de câmera de segurança mostram agressões que resultaram na morte de jovem em Charqueadas

Segundo o promotor, o município seria "conhecido pelo alto uso de bebidas alcoólicas e maconha, mas não tem ocorrido repressão das famílias" aos jovens. Os adolescentes envolvidos têm entre 15 e 17 anos, enquanto os adultos não passam dos 20 anos - de classes média e baixa. No total, 14 pessoas participaram do ataque (os nomes não foram divulgados até o momento). Boa parte deles tinha menos de 18 anos e não deveria ter tido acesso a bebidas (várias garrafas foram utilizadas como armas contra Ronei), quer dizer, já há aí uma falha no cumprimento da legislação, lembra o promotor.

Completa o panorama o fato de Charqueadas contar com somente uma viatura e dois PMs para patrulhas. O promotor acrescenta que horas extras foram cortadas pelo governo do Estado na segurança pública e muitos PMs tiveram de ser alocados nos presídios do município para evitar que os colegas esticassem seus horários. Para o promotor, a economia de recursos na segurança é uma omissão do Estado.

Como foi o crime

Conforme o MP, Ronei estava em uma festa no sábado à noite no Clube Tiradentes para arrecadação de fundos para sua formatura na Escola Técnica Cenecista Carolino Euzebio Nunes. Segundo testemunhas, ainda durante a festa, um amigo dele havia sido ameaçado de morte pelos integrantes do bonde. Ronei ofereceu carona para o amigo e a namorada dele e combinou com o pai de buscá-los de carro. No entanto, quando saíram do local, os três foram abordados pelos integrantes do bonde.

Como combinado, o pai de Ronei, o empresário Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, foi buscá-lo. Ao chegar ao local, por volta das 5h, o pai desceu do carro e então viu o filho e o casal caminhando depressa para entrar no automóvel. O pai foi agredido com uma garrafada e um chute, mas conseguiu entrar no carro e levou o filho até o Hospital de Charqueadas. O adolescente chegou a ser encaminhado ao Hospital Santo Antônio, em Porto Alegre, mas, com traumatismo craniano, não sobreviveu.

Os familiares dos integrantes do "bonde" demonstraram surpresa com a violência cometida, conforme relatos. O "bonde" é conhecido em Charqueadas: a população sabe onde mora cada um de seus integrantes. Por isso, começou na cidade um burburinho de que seria feita justiça com as próprias mãos pela comunidade. Segundo o promotor, a medida de internação dos jovens é buscada pelo MP até para garantir a segurança deles.

- O MP não vai descansar enquanto não for definida a internação máxima, de três anos - reforçou o promotor.


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