Tensão em Porto Alegre
Dois ônibus e um lotação são incendiados após morte de jovem no Morro Santa Tereza
Revoltados, moradores contrariam versão da BM e dizem que jovem de 18 anos não reagiu a abordagem
A manhã desta quinta-feira foi de muita tensão no Morro Santa Tereza. Três horas depois de policiais militares terem sido encurralados num beco onde um jovem foi morto, homens encapuzados espalharam medo na região incendiando dois ônibus e um lotação. Os ataques ocorreram numa distância de em torno de 300 metros um do outro. Não há registro de feridos.
Por volta das 11h, dois homens obrigaram o motorista do lotação da linha Menino Deus, que estava parado na Rua Corrêa Lima, a descer e atearam fogo ao veículo. Eles carregavam um galão com combustível. Quase ao mesmo tempo, outros seis criminosos queimavam dois ônibus da linha TV, na Rua Silveiro.
A Brigada Militar garante que havia policiamento na região no momento dos ataques, mas ninguém foi preso. A Polícia Civil investigará a relação entre as ocorrências.
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O comandante do 1º BPM, tenente-coronel Antônio Carlos Maciel Junior, disse que reações desse tipo são esperadas sempre que há confronto.
A suspeita da BM é de que os "olheiros" do tráfico tenham relaxado a vigilância nestes dias de paralisação e operação-padrão das polícias, e, por isso, o jovem que foi morto acabou surpreendido pela presença da BM. A queima dos veículos seria uma resposta à ação da polícia na região.
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Após os ataques, pontos de fumaça podiam ser vistos desde o Estádio Beira-Rio. O Corpo de Bombeiros se deslocou para o morro, um helicóptero sobrevoou a região, e o policiamento ganhou reforço.
Como foram os ataques
Os ônibus eram da linha 195 TV. Os veículos estavam vazios, no fim da linha e com a porta aberta. Havia dois motoristas na casinha que há no local. De repente, eles viram o fogo atingir um dos coletivos. Como os ônibus ficam em fila, logo as chamas atingiram o veículo da frente.
O ataque ocorreu na entrada da Rua Dona Maria, que acaba no Buraco Quente, beco onde aconteceu o confronto entre PMs e moradores da região. Em paralelo ao ataque aos ônibus, dois homens abordaram um lotação da linha Menino Deus no Belvedere Ruy Ramos e mandaram o motorista descer. O motorista disse que não viu nada. Os bombeiros chegaram para atender a primeira ocorrência e depararam com mais fogo, desta vez no lotação. A área foi cercada.
Os incêndios do fim da manhã seriam o desdobramento de um tumulto que começou no início do dia. Uma guarnição da BM fazia a ronda de rotina quando fez a abordagem a um jovem, identificado como Ronaldo de Lima, 18 anos. Ele estaria armado e teria reagido, na versão da BM. Na confusão, um soldado disparou contra Lima, que morreu no local, na Rua Dona Maria.
Moradores do bairro se revoltaram com a morte, queimaram lixo e atiraram pedras contra a viatura e contra oito policiais, que, acuados, pediram reforço. A ajuda veio do batalhão, o 9º BPM, e do Batalhão de Operações Especiais (BOE). A corporação chegou a mobilizar um helicóptero para controlar a situação. Testemunhas negam que o jovem tenha reagido.
- Ele se rendeu. Levantou os braços e levou um tiro pelas costas. Se ele estivesse armado, a arma teria ficado no local. E a perícia teria recolhido (o revólver) - disse Juliana, irmã do jovem.
Apesar do clima de tensão e medo, dezenas de crianças permaneceram nas ruas, até brincando em uma praça ao lado de onde o lotação foi queimado.
- Não temos escola para mandar as crianças. Cheguei ao trabalho, e minha patroa me mandou voltar para ficar com meu filho - disse uma auxiliar de serviços gerais que preferiu não dar o nome.
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Foto: Ronaldo Bernardi/Agência RBS
* Zero Hora