Natureza em fúria
Tempestade que castigou o Estado ainda deixa marcas
Luz e água faltaram em parte do dia depois do temporal que derrubou árvores, quebrou telhados e alagou ruas na Capital
São Pedro parece ter se revoltado contra o Estado que o adotou como padroeiro. O Rio Grande do Sul foi castigado entre a noite de quarta-feira e a manhã desta quinta-feira por temporais que deixaram um rastro de destruição, como poucas vezes se viu. Três pessoas morreram e 15 ficaram feridas.
Na Capital, o desabamento de uma estrutura de lona e ferros na quadra da escola Imperadores do Samba deixou 11 feridos. Na cidade de Dilermando de Aguiar, a 367 quilômetros de Porto Alegre, quatro pessoas se feriram no desabamento da estrutura montada para uma feira.
A tempestade na Capital, que iluminou o céu com clarões de raios, foi a segunda maior dos últimos sete anos. E o vento atingiu 110 km/h. Em Santa Maria, a chuva destruiu parte do ginásio do Guarany-Atlântico, onde estavam as doações para os atingidos por enchentes no município.
Porto Alegre teve 24 ruas bloqueadas por alagamentos ou quedas de árvore. Um cinamomo desabou sobre um automóvel no bairro Rio Branco. O motorista, Marcos Saldanha, escapou por pouco. A árvore esmagou o carro quando ele chegava em casa, durante o temporal da noite de quarta. O condutor não se machucou, mas o lado do passageiro ficou completamente amassado.
- O capô afundou e trincaram todos os vidros. No desespero para sair, não consegui abrir a porta. Comecei a dar socos e chutes no vidro, e até cortei a mão. Tinha acabado de deixar meu amigo em casa. Se houvesse alguém na carona, não sei se sairia vivo - conta o jovem recém-formado, que trabalha com finanças.
O Hospital de Clínicas teve várias janelas de vidro quebradas, o que ocasionou alagamento de salas e corredores e danificou equipamentos, como computadores e um bisturi de argônio, utilizado em transplante de fígado. Por causa dos estragos, as consultas desta quinta foram canceladas, assim como as cirurgias não urgentes.
Piratini estima precisar de R$ 10 milhões para estradas e pontes
O vendaval deixou também 700 mil residências sem eletricidade no Estado. Se os alagamentos foram o principal problema nas grandes cidades, em outros pontos a destruição veio mais pelo vento do que pela água. Pelo menos 400 casas foram danificadas por granizo e ventania na madrugada em São Francisco de Paula. Em Parobé, o vento destelhou mais de cem moradias.
Após reunião com o governador José Ivo Sartori e prefeitos realizada em Porto Alegre na manhã desta quinta, o ministro interino da Integração Nacional, Carlos Vieira, garantiu que o governo repassará recursos para ajudar na recuperação dos estragos causados pelo temporal. Somente em estradas e pontes, o Piratini estima serem necessários R$ 10 milhões. O ministro prometeu agilidade.
- Dinheiro não é problema, pois são valores extraorçamentários - assegurou Vieira, que sobrevoou regiões inundadas.
Conforme a Defesa Civil, já passa de 130 mil as pessoas prejudicadas pelo mau tempo no Estado. São mais de 2,3 mil famílias desalojadas e 1,4 mil desabrigadas em 95 municípios. Pelo menos 31 mil residências foram atingidas por temporais. Também de acordo com a Defesa Civil, as cidades mais afetadas são Rio Pardo, Cachoeira do Sul, Nova Santa Rita e São Jerônimo. Também há registros de estragos na Fronteira Oeste, na Serra e na Região Metropolitana.
* Zero Hora