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Economia em crise

Os reflexos do layoff em Gravataí: trabalhadores temem desemprego e comércio já amarga prejuízos

Com cerca de mil trabalhadores com seus contratos de trabalhos suspensos, Gravataí sofre consequências da crise que afeta as montadoras de veículos

29/01/2016 - 10h03min

Atualizada em: 29/01/2016 - 10h03min


Jeniffer Gularte
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Tadeu Vilani / Agencia RBS
Anderson com os filhos e a esposa Geisa: temor seguirá pelos próximos meses

De um lado, pelo menos mil trabalhadores em layoff, o que significa que estão com os contratos de trabalho suspensos temporariamente, em Gravataí, sem saber quando e se voltarão ao emprego. De outro, comerciantes e lojistas sentindo os reflexos da incerteza enfrentada por quem consome.

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Na General Motors (GM), são 825 pessoas paradas desde o dia 1º de dezembro. A previsão é de que o período se estenda até 30 de abril. Estima-se que em todo país, são 33 mil trabalhadores em regime de layoff, consequência da crise econômica que abalou as vendas de veículos no país. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), houve queda de 24% nas vendas de carros novos no ano passado, se comparado a 2014.

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Previsto em lei, o layoff pretende evitar demissões nas empresas que, ao adotar o mecanismo, reduzem custos ao deixar de pagar encargos e salários por até cinco meses.
<TITULO COLUNA 1>
"Estou em casa, mas estou tenso"

Em layoff desde o 1º de dezembro, o operador de produção do terceiro turno da GM de Gravataí Anderson Mello Maia, 25 anos, vive a agonia de um futuro sem perspectivas. Desde que começou a trabalhar, aos 16 anos, passou por três empresas e jamais ficou mais do que os 30 dias de férias em casa. Morador do Bairro São Vicente, também em Gravataí, ainda não havia sentido o sabor da incerteza em relação ao próprio emprego.

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- Estou há seis anos na GM. Não sabemos o que vai acontecer e a gente sabe que a crise não vai se resolver este ano. É muito ruim, porque não fomos nós que fizemos essa crise acontecer.

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Ele recebe Bolsa Qualificação -  modalidade de seguro-desemprego bancada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (Fat) - e faz curso de atualização industrial no Senai pela manhã junto com outros colegas em layoff. O que gera mais apreensão é que, após o layoff, os funcionários podem ser demitidos, sem o direito a receber o seguro-desemprego. O clima entre a turma é um só:

- Não tem um colega que não esteja apavorado. E se formos demitidos, serão 825 trabalhadores procurando emprego. É muita gente. Eu tenho minha família e sou responsável por ela.

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A renda mensal da família de Anderson caiu de R$ 3 mil para R$ 2,4 mil. A redução de 20% tem provocado mudanças de hábitos para ele, a esposa, a dona de casa Geisa Laís Machado, 27 anos, e os três filhos: Paulo Henrique, 11 anos, Ane Caroline, seis anos, e Antônia, dez meses. Com carro e motocicleta na garagem, ele tem ido de bicicleta para o curso. A economia tem ajudado o casal a não fechar as contas no negativo.

- Antes conseguíamos guardar alguma coisinha, hoje o que ganho vai tudo, não sobra nada - diz Anderson que, pelo menos, não precisa pagar aluguel, pois tem casa própria.

Os passeios de final de semana foram cortados. Este ano também não teve a tradicional temporada de 15 dias na praia de Quintão. Do layoff, Anderson só vê o lado positivo de conseguir ficar mais perto da família. O resto é apenas indecisão:

- Estou em casa, mas estou naquela tensão, porque tu não sabe o dia de amanhã.

<TITULO COLUNA 1>Sem movimento no comércio

Inevitavelmente, o efeito cascata do layoff atingiu o comércio da cidade. Em 13 anos, este é o momento de maior dificuldade para a pastelaria de Dalvir Rabaioli, 57 anos, no Centro de Gravataí. Ele calcula queda de 30% nas vendas e um movimento bem mais baixo do que em período anteriores:

- E quem vem está gastando menos. É um prejuízo que eu não estou conseguindo recuperar.


Pela primeira vez, o comerciante Alberto Shott, 82 anos, está fechando no intervalo do meio-dia a loja de confecção, também no Centro de Gravataí. A crise começou a impactá-lo já no começo de 2015 e vem piorando devido ao layoff. 

- São 11h45min (de ontem) e nós ainda não fechamos nenhuma venda. Já comprei menos mercadoria para o verão e vou comprar menos ainda para o inverno - prevê ele, que está com duas funcionárias a menos.


O presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Gravataí (Acigra), Regis Marques Gomes, estima que as vendas de janeiro fecharão com queda de ao menos 30% em todo comércio, comparadas com o mesmo período de 2015. 

- O comércio está bem apavorado, alguns até temem fechamento. Os mais atingidos são os pequenos negócios. Muitas lojas já começaram a fazer liquidação logo depois do Natal para ver se recupera alguma coisa - comenta Regis.

- Gravataí está um marasmo. No Centro, nas churrascarias, tu não vê gente. E para os trabalhadores é uma agonia - completa o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (Sinmgra), Valcir Ascari.

E as perspectiva futuras são incertas. O pagamento da segunda parcela do PPR (programa de participação nos resultados da empresa) ainda não está acertado, o que representa menos dinheiro circulando. Reforçando a ansiedade dos trabalhadores, a GM anunciou esta semana que vai conceder férias coletivas a partir entre os dias 11 a 28 de fevereiro a todos os demais funcionários.

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Pastelaria de Dalvir já sente os prejuízos
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS

 
Alberto alterou o horário da loja de confecção pela primeira vez
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS


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