Crise na segurança
"Somos reféns dos bandidos", diz aposentado
Irmã mais nova de Antônio Dias foi morta com tiro em tentativa de assalto em janeiro
A família do aposentado Antônio Carlos Grandini Dias, 64 anos, é marcada pela violência. Em 2012, ele foi assaltado, e o carro, roubado. Teve um revólver apontado para o peito. Dois anos depois, foi a vez da irmã sofrer o mesmo e ter o veículo levado pelos bandidos. Mais uma vez, a vida foi poupada.
O pior viria este ano. Irmã mais nova de Antônio Carlos, a contadora Isabel Cristina Grandini Dias, 47 anos, foi morta com um tiro em uma tentativa de assalto no dia 11 de janeiro. Revoltado pela falta de segurança, clama para que o poder público aja de alguma forma para conter a escalada da criminalidade no Estado.
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Como foram esses três episódios de violência na sua família?
O primeiro aconteceu em maio de 2012, comigo. Estava na Avenida Nova York, no bairro Floresta, e tive meu carro roubado por dois elementos. O segundo foi com a minha irmã, em maio de 2014. E o fatal aconteceu com outra irmã, dia 11 de janeiro. Ela foi abordada por três elementos. Não levaram o carro, mas levaram o bem maior, a vida dela. A Isabel tinha uma cachorra, que estava com um problema, e foi levá-la para a minha filha, que é veterinária. Mas ela se antecipou e acabou chegando antes, pouco depois das 22h. Nesse meio tempo, chegou um carro, com três elementos, que cortaram a frente dela. Ela se assustou, ficou com uma das mãos na direção e a outra como se estivesse tirando o cinto de segurança. E a pessoa, não sei se assustada, deu um tiro. Acertou a cabeça. Minha filha chegou 10 minutos depois e encontrou a tia morta.
E o que isso mudou na rotina de vocês?
A família está enlutada, em um momento de tristeza. Estamos alertando todas as pessoas do nosso círculo de amizade para terem o maior cuidado na hora de sair, em andar na rua, porque infelizmente estamos sem nenhuma proteção da segurança pública.
Quando o senhor sai à rua, como se sente?
O que aconteceu com a minha irmã foi muito violento. E, a partir daí, estamos com medo. Uma insegurança geral. Estamos tentando digerir. Todo mundo chocado. Era uma pessoa muito querida na família, fazia trabalhos sociais, cuidava de animais para todo mundo. Foi simplesmente tirada do nosso meio em cinco, sete segundos. Eram 47 anos de uma vida ilibada.
Qual é a sua impressão da escalada da criminalidade no RS?
A violência é muito grande. A gente vê em todos os jornais, meios de comunicação, que os bandidos estão à solta. A legislação é muito branda. Todos estão armados e o cidadão de bem não usa armas. Eles chegam na tua casa, te afrontam, te abordam no carro, fazem arrastão em restaurante, estouram máquinas de dinheiro nos bancos. A insegurança é geral. O poder público tem de fazer alguma coisa. Sabemos que há uma defasagem de pessoas (na Brigada e na Polícia Civil), mas não podemos ficar apenas com esta resposta.
Como o senhor vê, nos últimos anos, o trabalho de autoridades em frear a criminalidade?
Acho pouco o trabalho que estão fazendo porque sempre alegam falta de recursos. Até entendo isso. Mas enquanto esses crimes, esses assaltos, não chegarem nos comandantes, a tomada de decisões será branda. Falam muito, mas não vejo atitude. O meu grito em relação à falta de segurança é para que evitem que outras famílias sofram como estamos sofrendo.
Quais são as causas, na visão do senhor?
As leis são muito brandas. E também tem um crescimento (da criminalidade) que é proporcionado por esta liberdade da legislação no sentido de permitir que pessoas que traficam, usam drogas, estejam à solta. O poder público tem perda de efetivo, até por aposentadoria, e não existe reposição.
O senhor considera que há inversão de papéis, com a população encarcerada e os bandidos em liberdade?
Infelizmente, somos reféns dos bandidos. Eles sabem que a legislação é branda. Sabem que praticam o crime e logo depois vão estar de volta às ruas. E nós, cidadãos de bem, ficamos gradeados. Alguns que podem ter carro blindado ou segurança pessoal, como algumas autoridades, ficam mais tranquilos. Mas o cidadão de bem que está em um ônibus, que pega um lotação, que vai num teatro, num restaurante, não tem tranquilidade.
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