Crime na internet
Três acusados de racismo contra Taís Araújo são soltos no Rio de Janeiro
Outros dois presos, um em Porto Alegre e outro no Paraná, permanecem detidos por acusação de pedofilia
Os três homens apontados pela polícia civil do Rio de Janeiro de terem promovido os ataques raciais contra a atriz Taís Araújo, em sua rede social, foram soltos no sábado pela Justiça. Francisco Pereira da Silva Junior, Pedro Vitor Siqueira da Silva e Thiago Zanfolin Santos Silva estavam presos desde a última quarta-feira. Na decisão, a 23ª Vara Criminal do Rio converteu a prisão temporária dos acusados em medidas cautelares para os réus. Os réus agora responderão em liberdade pelos crimes de formação de quadrilha, pedofilia e racismo.
Na mesma operação, um homem de 27 anos havia sido preso por pedofilia, em Porto Alegre. William dos Santos Trisch era investigado por participar dos ataques à atriz e, quando a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão na sua casa, no bairro Rubem Berta, na quarta-feira, identificou quase 2GB de conteúdos pornográficos envolvendo crianças e adolescentes. Ele foi preso em flagrante por pedofilia, mas também responderá pelos crimes de racismo, injúria racial e formação de quadrilha. Conforme a Superintendência dos Serviços Penitenciários do Estado (Susepe), ao contrário dos detidos no Rio de Janeiro, Trisch permanece no Presídio Central, para onde foi encaminhado ainda na quarta-feira.
Um quinto homem, Gabriel Sanpietri, também teve mandado de prisão cumprido em Curitiba, no Paraná, pelo crime, mas ele já estava preso por pedofilia na internet e, portanto, continua detido.
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De acordo com o alvará de soltura, obtido pelo Estado carioca, os três acusados deverão comparecer em juízo todas as vezes em que forem intimados, fornecerem informações sobre os seus endereços e não se ausentarem da comarca de suas residências sem expressa e prévia autorização judicial. A medida foi tomada em reposta a um pedido do delegado da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), Alessandro Thiers, para converter a prisão temporária dos réus para prisão preventiva.
Pela legislação, a prisão temporária é cabível quando for imprescindível para as investigações do inquérito policial ou quando o indiciado não tiver residência fixa. Já a prisão temporária tem um prazo de duração de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Os três homens foram detidos em Sertãozinho (São Paulo), Brumado (Bahia), e Navegantes (Santa Catarina).
De acordo com o delegado, foram constatados indícios fortes de que o ataque contra a atriz foi premeditado e articulado entre um grupo criado com a exclusiva intenção de disseminar o racismo e o ódio, em perfis, páginas e contatos de Whatsapp. Nas convocações para os ataques, os acusados criam grupos secretos e temporários para potencializá-los e chegam a informar maneiras de mascarar a conexão para tentar dificultar o rastreamento. Além disso, as investigações concluíram que a quadrilha tem estrutura organizacional definida, onde os administradores definem as ações, com planejamento e execução dos ataques, selecionando premeditadamente as vítimas. Quem desrespeitasse essas ordens, era expulso da "sociedade".
Segundo o delegado, há indícios de que a quadrilha também tenha participado dos ataques raciais nos perfis do Facebook das atrizes Sheron Menezzes e Cris Vianna e da jornalista do Jornal Nacional, Maria Júlia Coutinho.
– Eles demonstravam uma afinidade de pensamento, para disseminar o ódio. Geralmente, escolhiam como alvo pessoas que estavam na moda, como protagonista de novelas, para as ofensas terem mais repercussão. Mas tudo na internet deixa rastro. É importante deixar claro que racismo é claro e a polícia não vai tolerar essas ações – declarou, no dia da prisão.
Na quinta-feira, um dos acusados, Pedro Vitor Siqueira da Silva, divulgou um pedido de desculpas pela ação, na página do grupo que teria promovido os ataques. Na postagem, ele segura um cartaz com os dizeres: "Peço perdão pelo vacilo, Thaís. QLC (nome do grupo) não tolera racismo".
Durante a prisão de Silva, a polícia achou montagens com a foto da atriz acompanhadas de frases racistas, salvas em seu computador. O advogado de Silva, Luiz Gustavo Vicente Penna, afirmou ao Estado que seu cliente não foi o responsável pelas postagens racistas contra a atriz.
Em nota enviada pela sua assessoria de imprensa na quarta-feira, Taís Araújo comemorou as prisões: "Fico feliz que a justiça tenha sido feita. Espero que crimes deste tipo contra qualquer mulher negra não fiquem impunes", afirmou.
Relembre
Taís teve o seu perfil no Facebook atacado na noite de sábado, 31 de outubro de 2015. Ela reagiu e anunciou que levaria o caso à polícia. Na rede social, escreveu: "É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar. Na última noite, recebi uma série de ataques racistas na minha página. Absolutamente tudo está registrado e será enviado à Polícia Federal. Eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que eu senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena neste país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça".