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Crise em Brasília

As últimas cartadas de governo e oposição na véspera da votação do impeachment na Câmara

Decisão no plenário sobre aceitação do processo de afastamento de Dilma começa a ser debatida nesta sexta-feira em meio ao duelo de contrários e favoráveis 

15/04/2016 - 02h00min

Atualizada em: 15/04/2016 - 04h59min


Carlos Rollsing e Guilherme Mazui, de Brasília
Enquanto bancada do PMDB orientou deputados a votar pelo afastamento, mas não definiu punições aos dissidentes (E), aliados da presidente protocolaram na Câmara criação de "frente parlamentar em defesa da democracia"

Vinte e quatro anos depois do afastamento de Fernando Collor, a Câmara voltará a fazer história ao votar o impeachment da presidente Dilma Rousseff a partir desta sexta-feira. Aceito em 2 de dezembro, o processo entra na etapa de análise em plenário e se estenderá até domingo. Nestes três dias de sessões, serão intensas as articulações políticas. O governo tenta reunir forças para se salvar. A oposição busca confirmar os 342 votos que levariam a discussão do afastamento para o Senado.

A quinta-feira não foi auspiciosa para as pretensões do PT. Pela manhã, a bancada do PMDB, a maior da Câmara, decidiu que a orientação será pela aprovação do impeachment. Dos 67 parlamentares da sigla, estima-se que 61 votarão pelo sim. Um dos seis contrários ao afastamento, o líder Leonardo Picciani (RJ), que pretende se manter à frente da bancada, é pressionado a acompanhar a posição da maioria. Em acordo já feito com o vice Michel Temer, Picciani se comprometeu a não articular votos a favor de Dilma.

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A oposição, que fechou a quarta-feira contabilizando 349 votos a favor do impeachment, manteve o otimismo ontem.

– Temos 360 votos contados. Não há mais o que o governo possa fazer. Para virar, só se acontecer o imponderável – avaliou Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Apesar da confiança no discurso, uma das preocupações dos oposicionistas é neutralizar as ofensivas do governo para garantir apoios de deputados a partir de acordos individuais de ocupação de cargos. Grupos do PP do Nordeste se movimentaram para manter o controle do Ministério da Integração Nacional, entregue nesta semana. Para contrapor, a ala majoritária do partido, que aderiu ao afastamento de Dilma, chamou reunião da executiva nacional para hoje. A intenção é fechar questão partidária pelo impedimento e discutir punições para quem ocupar cargos.

Já a tentativa da Advocacia-Geral da União (AGU) de anular o processo de impeachment no Supremo Tribunal Federal (STF) foi alvo de ironia. A interpretação é de que o Planalto resolveu judicializar porque se convenceu de que não tem apoio suficiente para arquivar o pedido.

– É como alguém que está morrendo afogado e tenta se agarrar a uma folha que está passando – disse Jovair Arantes (PTB-GO), relator do impeachment na comissão especial.

Conversas por telefone e contagem voto a voto

Em ato pró-afastamento aberto pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), a oposição ainda se reuniu na quinta-feira com juristas, como Carlos Velloso, ex-ministro do STF, para rebater o discurso do PT de que o processo é um "golpe". Em contraponto, advogados, membros do Ministério Público e professores universitários lançaram um manifesto em defesa da presidente.

Pelo lado do governo, seguem articulações para conter a onda do impeachment. Pensado por Lula, foi protocolado na Câmara por aliados do governo um pedido de criação da "frente parlamentar em defesa da democracia", com 186 assinaturas, resultado superior às 172 necessárias para barrar o impedimento. A ideia era mostrar que o jogo não está perdido, mas o documento continha nomes de parlamentares favoráveis ao afastamento, inclusive do DEM e do PSDB.

Em outra frente, Dilma passou o dia, em conversas por telefone, tentando conquistar congressistas. Ontem, assessores do gabinete dela ligaram para o deputado João Derly (Rede-RS), favorável ao afastamento, mas ele não atendeu.

As principais lideranças petistas continuam afirmando que o governo terá pelo menos 200 votos para enterrar o processo, mas há quem reconheça publicamente as dificuldades.

– Há uma fragilidade imensa na Câmara. Queremos ter 200 parlamentares, mas, nesta Casa, não se confia. Se passar, ainda temos o Senado, que é um foro mais responsável – avaliou Zé Geraldo (PT-PA).

Os quatro ministros que deixaram o governo para votar a favor de Dilma circulavam ontem pelo Salão Verde. O grupo inclui os peemedebistas Marcelo Castro (PI), da Saúde, Celso Pansera (RJ), da Ciência e Tecnologia, Mauro Lopes (MG), da Aviação Civil, e o petista Patrus Ananias (MG), do Desenvolvimento Agrário.

– Se sou ministro de um governo, tenho o dever de votar a favor dele, contra o impeachment – disse Castro.

Depois de receber um abraço de boas-vindas de Maria do Rosário (PT-RS), Patrus expôs parte da estratégia de plenário, que é colar discursos impopulares em Temer:

– Temos de fazer a discussão de projetos. De um lado, aqueles que querem retroceder nas conquistas sociais. Nós queremos mantê-las e ampliá-las.

Governadores petistas, como Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará) e Wellington Dias (Piauí), também desembarcaram em Brasília para articular contra o impeachment, trabalho que só terminará no domingo.

OPOSIÇÃO até domingo

Temer no corpo a corpo
Michel Temer continua mergulhado nas negociações para aprovação do impeachment na Câmara. Mantém conversas com deputados, líderes e presidentes de partidos, concentrado nas maiores bancadas, como PP, PSD, PR, PRB, PTB e PDT. Temer deve acompanhar a votação do impeachment de São Paulo, onde estará em contato com empresários capazes de influenciar parlamentares na votação.

Monitoramento de deputados
Como a oposição garante ter os 342 votos necessários para dar continuidade ao impeachment, o trabalho se concentra na manutenção da coalizão. Deputados de diferentes partidos se dividiram para monitorar colegas que são procurados e conversam com o governo. Cerca de 30 indecisos ganham marcação cerrada, a fim de impedir que votem com Dilma.

Pressão nos indecisos e contrários
Em aliança com MBL e Vem Pra Rua, a oposição intensifica a pressão sobre indecisos e contrários ao impeachment. Serão enviadas mensagens no Facebook e Twitter dos parlamentares, que também receberão cobranças em grupos de WhatsApp. Uma força-tarefa dos movimentos pressionará os deputados.


GOVERNO até domingo

Dilma e Lula no corpo a corpo

A presidente Dilma Rousseff entrou no corpo a corpo para tentar virar votos ou levar os indecisos ao grupo contra o impeachment. Passou a telefonar para deputados e pode receber bancadas. Lula, ministros, parlamentares do PT e da base reforçam as conversas, que têm ofertas de cargos, emendas, apoio nas eleições municipais e, até, na chamada de eleições gerais. Cada interlocutor recebeu uma quota de deputados para procurar.

Discursos contra Cunha e o golpe

Entrevistas, pronunciamentos, discursos e ação nas redes sociais manterão a tese de que está em curso “um golpe” no Brasil. A ofensiva também questiona a legitimidade de Eduardo Cunha, presidente da Câmara e réu na Operação Lava-Jato, para conduzir o processo de afastamento da presidente.

Ofensiva nos Tribunais
Deflagrada ontem pela AGU, a estratégia de ingressar no Supremo Tribunal Federal com ações para questionar, anular ou atrasar o processo de impeachment pode ser intensificada. A ideia é que partidos, filiados e o próprio governo tentem novas ações na Corte, mesmo após a votação do processo na Câmara.


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