Conflito
Motoristas do Uber registram ao menos 25 ameaças de taxistas em Porto Alegre neste ano
Fato mais recente aconteceu na madrugada desta sexta-feira, em um posto de gasolina na Zona Norte
Intimidações e perseguições feitas por taxistas contra motoristas do Uber em Porto Alegre têm se tornado cada vez mais frequentes. Tanto que pelo menos 25 ocorrências de ameaça foram registradas neste ano, conforme o advogado da empresa na Capital, Jean Severo. Ele relata que a cada semana novos casos têm surgido.
O mais recente aconteceu na madrugada desta sexta-feira, quando um motorista do Uber foi perseguido por dois taxistas na Avenida Assis Brasil. Ao perceber que estava sendo seguido, encostou o carro em um posto de combustíveis, na esquina com a Rua Dona Alzira, na Zona Norte. Ele relatou ter sido ameaçado pelos dois taxistas com um facão.
– O motorista foi se refugiar no posto porque achou mais seguro em função das câmeras de segurança. Os taxistas chamaram ele de clandestino, disseram que não podia trabalhar ou pegar passageiros e o ameaçaram, apontando um facão – relata Severo.
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O caso foi registrado na tarde desta sexta-feira, na 20ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre. Conforme o delegado Ajaribe Pinto, será instaurado um termo circunstanciado, e os agressores e testemunhas devem ser identificados. Após reunidos, os dados serão encaminhados ao Foro regional.
– Esse é o procedimento padrão para situações de ameaças, casos de menor potencial ofensivo. Também reunimos provas, com gravações e imagens das câmeras de segurança – explica.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Uber informa que considera “inaceitável o uso de violência” e que “todo cidadão tem o direito de escolher como quer se mover pela cidade, assim como o direito de trabalhar honestamente”.
O diretor de Operações da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Marcelo Soletti de Oliveira, destaca que todas as ocorrências que chegam à autarquia são formalizadas e apuradas por processo administrativo. Em caso de ser comprovada a ameaça ou agressão, o taxista envolvido pode ser descadastrado ou até ter sua permissão cassada. Casos graves podem ter uma suspensão automática, mas outros podem levar até 90 dias para que se tenha uma definição.
– Este caso ainda não foi formalizado para nós. Temos outros em avaliação ou aguardando análise, mas não posso confirmar este número de 25 ocorrências neste ano – diz Oliveira.
Conflito seria mútuo
Segundo o advogado do Uber, entre os casos de ameaças ou tentativas de agressões também estão inclusas perseguições no trânsito, taxistas que “jogam” seus carros em cima dos motoristas do serviço e até mesmo apedrejamento de veículos.
– Temos mais de 25 ocorrências registradas neste ano, mas tem vezes que o motorista releva e nem faz o registro. O sentimento que eu tenho é que daqui a pouco vai acontecer uma coisa pior. Um já quase mataram.
Mas, se de um lado Severo relata casos de ameaças quase que semanais, o diretor de Operações da EPTC afirma que também há situações onde os taxistas são intimidados pelos motoristas do serviço, ainda irregular na Capital.
– Temos recebido áudios e gravações que mostram motoristas do Uber dizendo que “vão tomar providências” com os taxistas, que vão “dar um susto” em determinada pessoa. A gente é totalmente contrário à violência, estamos trabalhando para melhorar os táxis e regulamentar o Uber – afirma Oliveira.
Ele destaca ainda que até agora, pelo menos 104 taxistas que respondem a inquéritos ou processos por prática de crimes tiveram suas permissões cassadas em Porto Alegre, num esforço da EPTC para “limpar” o serviço. Além disso, reforça que qualquer pessoa que se sentir lesada por operador do sistema de transporte público deve contatar a empresa, fazendo o registro para que o processo administrativo possa ser aberto.