Força para eles!
Trabalhadores que encaram tarefas congelantes contam como aguentam esta friaca gaúcha
Enfrentar o frio é ainda mais difícil para quem está em contato direto com as baixas temperaturas, inclusive quando está trabalhando. Nesta sexta-feira, quando o Sistema MetroClima registrou mínima de 3,4°C em Porto Alegre, o Diário Gaúcho entrevistou três profissionais que enfrentam o frio ao exercer seu ofício. O trio não desanima, independentemente da temperatura, e dá as suas receitas de coragem.
"Com esse frio, tem que ter coragem"
A época de trabalho mais sofrida é também a mais produtiva para o pescador Marco Antônio Ramos da Silva, 54 anos, da Ilha dos Marinheiros, em Porto Alegre. Na quinta-feira, pescou 4,5kg de pintado e, na sexta, mais 3kg. Foram os dias mais gelados da semana que passou. Essa média cai para 1kg no verão, quando fisicamente é mais confortável ir para a água, mas mais difícil sair do rio com a matéria-prima.
Pescador desde criança, está comemorando o inverno mais seco, em que o nível do rio permite que faça a pesca de segunda a sexta-feira. De jeans, cuecão, casaco, colete salva-vidas, boné e manta, sai para pescar diariamente às 7h, assim que acorda.
– Com esse frio, tem que ter coragem, mas preciso ir nessa hora. Se não, não pego os peixes.
Ele fica ao menos meia hora retirando o peixe pego no espinhel, uma cortina com vários anzóis que lançou ao rio na noite anterior. Ao sair do barco, as mãos congeladas são imediatamente imersas na água morna preparada pela esposa – e também pescadora – Ivone Pereira da Silva, 50 anos.
Só então ele toma o café e volta a sentir as mãos novamente.
– Enquanto estou remando, eu me esquento. O pior momento é quando a gente afunda a mão na água para retirar o espinhel.
Todos os sábados, ele vende os peixes inteiros na ilha por R$ 10 o quilo.
Dicas do Marco para aguentar o frio no trabalho
- Não pensar ao acordar. Levantar, se agalhar e ir para o serviço.
- Aquecer as mãos com água morna.
- Deixar para tomar o café depois de pescar.
- Remar bastante enquanto está no barco.
"Com frequência, sequer sinto as pontas dos dedos"
Toda vez que o motorista, vendedor e entregador de carnes autônomo Itamar Michellon, 54 anos, vê na previsão do tempo que o frio intenso vai persistir, ele se preocupa. Para percorrer 150km por dia e entregar peças de carne bovina em Porto Alegre e na Região Metropolitana, usa três calças e dois casacos. Lamenta não poder usar luvas, já que as mãos estão sempre geladas.
Na câmara fria do caminhão, a temperatura é de -7ºC. Dali, carrega nas costas peças de 60kg e 70kg como costela, traseiro e dianteira do boi.
– O pior é carregar essas peças geladas, e eu passo a maior parte do dia fazendo isso, nesse vai e vem. Trabalho há 36 anos com isso e este é um dos invernos mais rigorosos que me lembro. Quando a gente chega nos mercados, as pessoas já brincam que estou com frio, oferecem café – diz o trabalhador de Canoas, bem-humorado.
Na cabine do caminhão, não usa ar-condicionado para evitar o choque térmico. Morador de Canoas, ela acorda às 4h e só para de trabalhar as 18h. Na sexta-feira, quando conversou com o DG, estava fazendo uma entrega em um mercado da Ilha dos Marinheiros, que é, segundo ele, um dos locais mais frios da região:
– Com frequência, sequer sinto as pontas dos dedos.
Dicas do Itamar para aguentar o frio no trabalho:
- Usar três calças.
- Usar meia térmica.
- Não usar ar-condicionado para evitar choque térmico.
- Esfregar as mãos para esquentá-las.
"Água do lava-jato respinga no rosto e congela"
Este é o inverno mais gelado da vida do lavador de carros Jordan Agostinho Brandão, 23 anos, de Porto Alegre. Há dois meses, ele trabalha na empresa da mãe, no Bairro Azenha, e lava cerca de 15 veículos por dia.
– Passo muito frio porque a água do lava-jato respinga no rosto e congela. E não tem o que fazer, é lavar o carro e ir para dentro do escritório tomar um café, mas se tem outro carro esperando, tem que seguir aqui fora.
E ele não pode nem torcer para ter pouco serviço. Cheio de disposição, quer e precisa trabalhar independente da temperatura. Cada lavagem leva de 40 minutos a uma hora usando água, xampu neutro, xampu cera e desengordurante.
Enquanto está lavando, ele ainda retira a jaqueta para evitar que o zíper da peça risque a lataria do carro. Fica, por isso, só de camiseta, calça e com bota galocha.
– Tem que ser forte e gostar do trabalho. O principal é a motivação. Se a gente não está motivado, não consegue fazer nada. Temos que fazer com determinação. E minha motivação é ver entrando um carro para eu lavar.
Dicas do Jordan para aguentar o frio no trabalho:
- Tomar café.
- Ficar no sol.
- Se agasalhar bem sempre que não estiver lavando um carro.
- Varrer o pátio para não ficar parado.
Vem mais frio por aí
- Sábado: frio intenso durante todo dia. O sol aparece com nuvens. Vento fraco a moderado com algumas rajadas, trazendo sensação térmica abaixo de zero em alguns momentos. Mínimas ficarão entre 2ºC a 4ºC e máximas não passarão dos 13ºC. Nos morros mais altos da cidade, a máxima ficará em apenas 10ºC. O vento impedirá formação de geada.
- Domingo: como o dia será ensolarado, mínimas ficarão entre 0ºC e 2ºC e máximas entre 13ºC e 15ºC. Vento fraco. Há chances de geada ao amanhecer nas zonas Leste, Norte e Sul da Capital.
- Segunda: a madrugada terá marcas de 0ºC a 2ºC e provável formação de geada em muitos bairros das zonas Sul, Leste e Norte. A tarde terá máximas bem mais altas com o ar seco e o gradual enfraquecimento do ar polar, em geral, de 15ºC a 17ºC nas diferentes áreas da cidade.
- Terça: mais uma madrugada muito fria com mínimas de 2ºC a 4ºC nos bairros mais periféricos, onde pode ter geada. A tarde será bastante agradável com máximas em torno dos 20ºC.