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Moradores do Morro Santana temem por novos casos de leishmaniose

Morte de menina ascende o alerta em comunidade da Zona Leste de Porto Alegre

02/12/2016 - 10h40min

Atualizada em: 02/12/2016 - 10h42min


Jeniffer Gularte
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Renata com as filhas Emilly e Sara: mãe teme contaminação das pequenas

A morte de uma menina de um ano e sete meses por leishmaniose visceral, o primeiro caso da doença registrado na Capital, deixou os moradores do Morro Santana, na Zona Leste de Porto Alegre, em alerta para uma enfermidade pouco conhecida, mas bastante perigosa.

A doença é causada pelo protozoário Leishmania chagasi, transmitido por um inseto popularmente conhecido por mosquito-palha. Embora a doença atinja principalmente cães, seres humanos podem ser infectados, acidentalmente, pela picada do inseto. O mosquito-palha se contamina picando um cão infectado. A doença, entretanto, não é transmitida diretamente de uma pessoa para outra nem dos cães para as pessoas.

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Na região onde ocorreu o caso, as equipes de Vigilância de População Animal e da Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda) fizeram testes com 103 cachorros. Destes, 21 tiveram a doença confirmada no teste rápido e no que foi enviado para o Laboratório Central do Estado (Lacen). Na Vila Tijuca, pela proximidade com o local, foram 111 animais verificados, dos quais 21 foram tiveram a doença confirmada no teste rápido. Ainda se aguarda a confirmação do teste do Lacen. Todos os animais positivados foram encoleirados, microchipados e levados das residências, ficando sob os cuidados da Seda.

Só da residência da dona de casa Katia Navarro foram retirados quatro cães detectados com a doença. Sobrou apenas Neguinho, um filhote que não tem a doença.

– A gente não conhece essa doença e fica preocupada em pegar, porque tem muito mosquito aqui – preocupa-se Katia.

Na região mais afetada não há água encanada e o esgoto corre a céu aberto entre as casas da área invadida. Com duas filhas pequenas, a dona de casa Renata Cristina Silva de Oliveira, 20 anos, recebeu repelente do posto de saúde mas só pode passar na pequena Sara de dois anos e seis meses. A caçula Emilly, de um ano e quatro meses, não tem idade para usar o produto fornecido:

– Uma filha está protegida e a outra não. Depois disso (da morte do bebê), eu tenho medo pelas minhas filhas. Eu limpo o pátio, mas não adianta só o meu esforço porque existe esgoto em toda rua.

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"Nunca tinha ouvido falar dessa doença"

Mãe da criança que morreu, a dona de casa Amanda Pereira da Silva, 21 anos, ficou por quatro meses tentando diagnosticar o motivo da febre quase diária da filha. Levou a menina diversas vezes na ESF Laranjeiras, mas em nenhuma delas o bebê saiu com um diagnóstico. Percorreu as emergências dos Hospitais Conceição, Santo Antônio e também foi ao Pronto-Atendimento da Bom Jesus.

– Toda semana íamos no médico, diziam que era virose, os dentes saindo, sinusite. Até tratamento para asma fizeram – relata a mãe.

Amanda perdeu a filha de um ano e sete meses


Foi quando a menina começou a passar mal em casa que ela retornou ao PA da Bom Jesus e a pediatra que a atendeu solicitou uma série de exames. Foi solicitada a internação do bebê no Hospital de Clínicas. Três dias após a internação, quando estava sendo tratada por leucemia, veio o diagnóstico. Cinco dias depois, a menina faleceu:

– Nunca tinha ouvido falar dessa doença. Minha filha era uma criança forte, grande, nunca teve nada até começar a ter febre todos os dias – desabafa a mãe.

– Era uma menina linda que já me chamava de vó, tinha a vida toda pela frente – emociona-se a avó, Ana Valéria Pereira da Silva, 46 anos.

Profissionais não tinham conhecimento

À reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse que há registro de atendimento da menina na ESF Laranjeiras em 5 de abril e 15 de julho, quando houve registro de febre e foi recomendado que a criança fosse para uma emergência, e no dia 5 de setembro, quando também apresentava febre e a mãe recebeu a mesma orientação.

A SMS informa que a ESF Laranjeiras possui um médico, um enfermeiro, dois técnicos em enfermagem, além de três agentes de saúde, um dentista e um auxiliar de saúde bucal.A secretaria admitiu que as próprias equipes de saúde não tinham conhecimento da doença e que a partir de agora passarão por um processo de capacitação para atender casos semelhantes, uma vez que este é o primeiro registrado na Capital.

Os sintomas

Em cães: emagrecimento progressivo, feridas e descamações de pele, queda anormal de pelos, aparecimento de ínguas, crescimento anormal das unhas, inchaço de pernas, sangramento de nariz, entre outros. Caso seu cão apresente estes sintomas, procure um serviço veterinário e informe a existência de caso confirmado da doença próximo à sua residência.

Em pessoas: febre persistente. Pessoas que viajaram ou que residam próximo de casos confirmados de leishmaniose canina devem ser levadas a unidade de saúde mais próxima da residência, para acompanhamento e providências. A medicação é fornecida pelo poder público após confirmação da doença.

Recomendações e prevenção

– Mantenha a casa limpa e o quintal livre dos criadores de insetos. O mosquito-palha vive nas proximidades das residências, preferencialmente em lugares úmidos, mais escuros e com acúmulo de material orgânico. Os insetos costumam picar os animais durante toda a noite. Também podem atacar nas primeiras horas do dia e ao entardecer.
– Se possível, coloque telas de 1mm nas janelas.
– Se possível, use mosquiteiros com tela de 1mm.
– Use repelente corporal.
– Embale sempre o lixo.
– Evite acúmulo de fezes de animais, restos de alimentos, frutas e folhagens no quintal ou pátio.

Cuidados com os cachorros
(em especial se mora próximo a matas nativas, ou caso saiba de caso confirmado da doença)

– Cuide bem da saúde do seu cão, mantenha o animal no pátio, evitando a circulação pela rua.
– Se possível, utilizar coleiras repelentes nos cães.
– Afastar os animais domésticos e suas instalações da casa.



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