Dez foragidos da Justiça, apontados como chefes de gangues que estão por trás de boa parte dos roubos e do tráfico na Região Metropolitana, desafiam a polícia gaúcha. Por mais que agentes e PMs tentem, não conseguem chegar ao paradeiro dos criminosos, que usam da força (ou da caridade) nas comunidades para garantirem anonimato. Para os policiais, eles estão embrenhados no Estado.

A exceção é o ex-professor Luiz Henrique Sanfelice, condenado por assassinar sua mulher. Apesar de ele não ser considerado de alta periculosidade, sua prisão é ponto de honra devido à repercussão do crime e pelo fato de ele não ter proteção de uma rede criminosa. Confira aqui quem são os mais procurados do Estado.

Wanderley Grehs, 49 anos - Começou no tráfico no final dos anos 80, então migrou para os assaltos a banco e a carros-fortes. Responde seis inquéritos por homicídio. Recebeu um dia para passeio no Instituto Penal de Charqueadas, em junho de 2008, e não voltou mais.

Juraci Oliveira da Silva, o Jura, 35 anos. Suspeito de ter intermediado a morte do médico Marco Becker, responde por seis homicídios e seis ações de tráfico. Fugiu do Pio Buck em abril de 2009.

Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão, 51 anos. Desde 1983, são dezenas de processos por tráfico no Morro da Conceição. Responde ainda quatro inquéritos por homicídios e outros por ameaça. Cumpria prisão domiciliar até 2008, quando fugiu.

Luiz Henrique Sanfelice, 45 anos. Condenado a 19 anos e três meses de prisão por matar a mulher, entrou na cadeia em 19 de junho de 2004 e fugiu em 10 de abril de 2008.

Gilmar dos Santos, o Gordo, 41 anos. Responde a 15 inquéritos por assalto e um por homicídio. Em fevereiro de 2009, com Alemão, foi resgatado do Presídio de Taquara por comparsas.

Alexandre Moacir Huhnfleisch, o Alemão, 37 anos. Condenado por assalto, foi indiciado por sequestro e outros crimes. Fugiu nove vezes da cadeia, a última do Presídio de Taquara, em fevereiro de 2009.

Leonardo da Silva Mallet, o Gigio, 41 anos. Tem 22 inquéritos por assaltos, 11 por homicídios e três por tráfico. Fugiu do semiaberto de Charqueadas em junho de 2009.

Agnaldo Evaldt Magnus, o Naldo ou Alemão, 37 anos. Tem oito inquéritos na Delegacia de Roubo de Veículos, além de outros assaltos a carros em DPs de Canoas, Sapucaia, Montenegro e Porto Alegre. Fugiu do sistema penitenciário em novembro de 2009.

Igor Machado, o Nenê, completa 37 anos sábado. Indiciado por seis assaltos, formação de quadrilha, tráfico e um homicídio. Fugiu em abril de 2009 da Colônia Penal Agrícola de Charqueadas.

Oséas Cardoso, o Português, 60 anos. Natural de São Paulo, começou a vida carcerária no Sul em 2001. Lidera, segundo a polícia, bando especializado em assaltos e tem ligações com o PCC.

- DP pensa em site

Homicidas, assaltantes de bancos e ladrões de carga têm delegacias específicas. No que diz respeito ao trabalho de prender criminosos fugitivos, o titular da Delegacia de Capturas, delegado Eduardo de Oliveira César, não pode escolher o tipo de crime.

Ele tem em mãos uma lista com mais de 700 nomes para serem capturados:

- Por meio de investigação, vamos levantando dados e procurando chegar ao paradeiro dos criminosos. Pode parecer simples, mas não é. Eles mudam de lugar semanalmente, não criam raízes. Muitas vezes, quando conseguimos autorização judicial para uma diligência, os criminosos já se mudaram - completa o delegado Juliano Ferreira.

- Deic: não há fotos para denúncia

O diretor do Deic, delegado Ranolfo Vieira, admite haver a lista dos criminosos mais procurados, mas evita divulgar. Para ele, localizar os bandidos não é a parte mais difícil do trabalho:

- À exceção de um ou outro que acaba saindo do Estado e até do país, a maioria está mesmo por aqui. A maior dificuldade é manter eles presos, pois ficam no máximo 60 dias presos e retornam - reclama.

Ao contrário da imensa maioria das delegacias especializadas do Brasil e do Exterior, o Deic gaúcho não mantém um banco fotográfico atualizado em seu site sobre os principais criminosos.

- Roubos vai criar site sobre assaltantes

- Teríamos de ter mais recursos humanos para alimentar o site diariamente, tirar os nomes dos que foram presos, colocar novos foragidos. E é um recurso que não gera muito sucesso, poucas pessoas entram no site para conferir - avalia o diretor do Deic.

Mesmo no Deic, nem todos parecem concordar com a ideia. Nas próximas semanas, o titular da Delegacia de Roubos, delegado Juliano Ferreira, pretende criar um site com fotos dos assaltantes.

- E também com imagens dos assaltos a bancos, tudo o que possa levar pessoas a nos darem pistas sobre os criminosos. O FBI (polícia federal americana) faz isso - justifica.

- É como enxugar gelo"

A Superintendência dos Serviços Penitenciários não informa a polícia quando um criminoso, dos regimes fechado ou semiaberto, foge. A informação é colocada na ficha do preso, e PMs e agentes só ficam sabendo se consultarem o nome - o que normalmente é feito quando desconfiam de alguém nas ruas.

- Pedimos ao efetivo para que sempre consulte o sistema e confira se os criminosos que prenderam nos últimos dois anos ainda seguem presos. É uma maneira de capturá-los - informou o Comandante do Policiamento Metropolitano, coronel Carlos Bondan.

O comandante do CPM revela que, várias vezes, prendeu em flagrante criminosos que, oficialmente, já estavam cumprindo pena no semiaberto.

- É como enxugar gelo - lamenta o coronel.