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Supervalorização

Humaitá: o patinho feio vai virar um belo cisne

Construção da Arena do Grêmio trouxe obras de infraestrutura, atraiu megaempreendimentos imobiliários e valorizou toda a região

02/06/2012 - 10h28min

Atualizada em: 02/06/2012 - 10h28min


Rafael Ferreira é vizinho da Arena do Grêmio

Desassistido por governos e ignorado pela iniciativa privada há anos, o Bairro Humaitá vive atualmente sua melhor fase. Uma casa de dois pisos em frente à Arena do Grêmio já vale tanto quanto um imóvel no coração do Moinhos de Vento, um dos bairros mais caros  da Capital.

Pintada de azul, a residência de 240 metros quadrados da família Ferreira, na esquina da Avenida Padre Leopoldo Brentano com a Rua Frederico Mentz, a 70m do estádio, está à venda por cerca de R$ 1 milhão. Esta semana, o proprietário Sebastião Ari Ferreira, 62 anos, recusou oferta de R$ 400 mil para compra da parte térrea.

Aluguel também dá lucro

- Isto aqui valorizou uns 300%. A primeira ideia é fazer uma lancheria para os filhos trabalharem, mas acho que vou vender por uma milha - revelou Sebastião, que é motorista de táxi aposentado.

Mesmo que não venda a casa, Sebastião já está faturando. Por R$ 500 mensais, ele alugou as peças da parte inferior para sete operários nordestinos que trabalham na obra do estádio.

Placas de venda multiplicam-se

E este é apenas um dos exemplos do aquecimento do mercado de imóveis na região. Na avenida principal e nas ruas adjacentes, placas de vende-se multiplicam-se. Uma casa que custava R$ 85 mil há três anos, hoje não sai por menos de R$ 400 mil.

Gerente de vendas de uma imobiliária, Élbio Pereira Dorneles está impressionado com o investimento das construtoras.

- Muitos terrenos já foram comprados para implantação de conjuntos residenciais a médio e longo prazos.

Até a segurança melhorou

Além de fomentar negócios, a valorização da região, marcada pela violência, falta de saneamento e ocupações irregulares, começa a melhorar a vida da comunidade. Filho de Sebastião, Rafael da Silva Ferreira, 26 anos, afirma que até a segurança melhorou. 

- Em dez anos, a Brigada me parou só uma vez. Nos últimos meses, já fui abordado umas dez vezes por policiais diferentes - revela Rafael.

Rafael, que acompanha a construção da sede do tricolor gaúcho desde a colocação da primeira estaca, também alugou sua casa para um grupo de operários por R$ 800 por mês.

Waldir abrirá uma pousada

Na parte de baixo da casa de dois pisos do radiotelegrafista aposentado Waldir Barbani Garcia, 72 anos, funciona uma lancheria que chegou a fornecer cem garrafas de refrigerantes de 2l por dia para os operários contratados pela OAS. Waldir contratou uma ajudante, comprou mais dois freezers e aumentou a produção de lanches.

De olho no futuro, o comerciante decidiu investir na reforma do piso superior para abrir uma pousada. Mudou o piso, comprou móveis novos e decorou o ambiente para receber torcedores em dias de jogos. 

- São dois quartos, banheiro, sala de estar com tevê de 32 polegadas, DVD, aparelho de som, lareira, e uma sacada de frente para Arena - conta, imaginando o retorno que terá a partir de dezembro, quando o novo estádio for inaugurado.

Nem todos aprovaram as mudanças no bairro

Cansada da poeira e da poluição sonora causadas pela obra, moradores como a funcionária pública aposentada Núbia Margot Pacheco Pinto estão contando os dias para ir embora do Humaitá. Mas, antes de se mudar para o Litoral Norte, onde pretende fixar residência, Núbia pretende lucrar um bom dinheiro com a venda da moradia.

Em 1984, ela e o marido compraram o imóvel, na Avenida Padre Leopoldo Brentano por
R$ 7 mil. Hoje, ele está à venda por R$ 400 mil. 

- Quero ir antes de iniciar o bate-estaca do prédio residencial que vão erguer aqui em frente. Já me ofereceram R$ 250 mil, mas eu recusei - revelou Núbia.

O que vem por aí...

No entorno do estádio
* Além de um hotel, centro empresarial e um shopping, outras obras estão previstas.

Melhorias viárias
* Projetos como a duplicação das avenidas A. J. Renner, Amynthas Jacques de Moraes e das ruas Ernesto Neugebauer e José Pedro Boéssio não beneficiarão apenas o Humaitá. Os bairros Navegantes e Farrapos também serão contemplados.
* Conclusão da Rodovia do Parque, construção de rótulas, passarela sobre a BR-116 e duplicação de acesso a alças da freeway

Complexo residencial 
* A OAS lançou o projeto Liberdade - um megaempreendimento que inclui um complexo residencial com três subcondomínios, que terão inicialmente 916 apartamentos, além de áreas de lazer e serviços.

Loteamentos populares
* O Programa Integrado Entrada da Cidade (Piec) prevê a construção de nove loteamentos com 3.074 unidades habitacionais (casas, sobrados e pontos comerciais).
* Deste total, 1.533 já foram feitos. Outras 169 estão em andamento
* Reurbanização da vila Santo Antônio e da vila dos Ferroviários
* Unidade de Saúde e uma base do Samu na Rua Frederico Mentz
* Recuperação de parques e praças

Educação
* As creches comunitárias Vitória e Pé de Moleque, para crianças de zero a cinco anos e 11 meses, com 120 vagas cada, foram inauguradas recentemente.

Expansão do comércio
* Em 2011, a Smic concedeu 96 alvarás para atividade comercial no Humaitá, quase o dobro da emissão no ano anterior (53).
* Até maio deste ano, já foram entregues 41 alvarás.

Saúde
* Uma unidade de Estratégia da Saúde da Família, composta por três equipes, será construída no bairro.
* Também é prevista a construção da Unidade de Pronto Atendimento  Navegantes/Farrapos.
* A Saúde afirma, também, que teria solicitado à OAS a doação de um terreno para construção de uma unidade de saúde no Humaitá. A reportagem entrou em contato com as assessorias de comunicação da construtora para confirmar  a informação, mas não obteve retorno da empresa.

Segurança
* O 11º BPM reforçou o patrulhamento na região, com quatro viaturas e 20 policiais do Pelotão de Operações Especiais.

O bairro hoje

População residente: 11.502 habitantes

5.322 homens

6.180 mulheres

Domicílios particulares: 4.165

Fonte: Censo 2010 do IBGE


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