Correndo atrás do sonho
Morador do Bom Jesus correrá Meia Maratona do Rio
No dia 6 de julho, Nelson dos Santos embarcará para o Rio de Janeiro e, no dia 8, será um dos 8 mil participantes da Meia Maratona do Rio

Quando decidiu que era hora de realizar um sonho de infância, o zelador Nelson dos Santos, 50 anos, descobriu que não estava sozinho: tinha a companhia de pessoas solidárias, que ajudaram a tornar o desejo real.
- Eu não tinha noção de que era tão querido por essas pessoas. Sou muito grato a elas - conta o dono de um sorriso largo e cativante.
Confira a preparação de Nelson para a Maratona:
É assim que Nelson se refere aos moradores do condomínio Pôr do Sol, no Bairro Partenon. Juntos, eles garantiram o par de tênis, o calção, a estadia e a ajuda para alimentação no Rio. Já a primeira viagem de avião foi custeada com as economias do zelador.
Roteiro para o embarque
- É uma coisa tão bonita que a gente tem de cooperar. Ele é muito educado, prestativo, ficamos muito amigos. Queremos que ele consiga chegar o mais alto possível - afirma a pensionista Ieda Fischer, que participou da corrente.
A jornalista Sandra Veroneze não apenas garantiu a hospedagem como fez também um roteiro para o corredor ficar seguro quanto ao embarque no avião.
Realizando um sonho
Enquanto Nelson estiver fora, as tarefas dele no condomínio serão desempenhadas pelo síndico Evandro de Almeida da Silva.
- Estamos na expectativa. O lugar em que ele vai ficar (na competição) não interessa. Eu e minha namorada (eles deram o tênis e o calção) estamos realizando o sonho de uma criança - diz o aposentado Marco Ribeiro, 65 anos.
Cigarro cedeu lugar à corrida
Há 15 anos, Nelson trocou o cigarro - fumava duas carteiras por dia - pelas corridas. Ele afirma que abandonou o vício sozinho. O estímulo para a prática do exercício veio da tevê:
- Eu assistia às corridas na tevê e pensava: Se eles podem, por que eu não posso?
Na brincadeira, Nelson se inscreveu na Corrida dos Correios e determinou que, se completasse a prova, não pararia mais.
- Virou o meu vício. Já corri em Caxias, Esteio, Sapucaia do Sul, Viamão, Novo Hamburgo. Tenho um monte de medalhas (de participação). Meu negócio é participar, não é competir com ninguém - revela o corredor de 1,56m e 57kg.
A esperança de conhecer o Rio foi alimentada também pela tevê, com as belas paisagens que apareciam nas novelas. Mas, os anos foram passando, e compromissos como o cuidado com a mãe, deficiente visual, e o sustento da família, adiaram a viagem:
- Eu fui criando aquela imagem do Rio, mas nunca tinha dinheiro para ir. Pensava: Um dia eu vou, nem que seja de bicicleta, de carona.
Atleta de final de semana
Mesmo acumulando dois empregos (zelador e entregador de jornais), Nelson encontra tempo para o hobby. Nas sextas, depois de largar vassouras e baldes, ele corre na pista de atletismo da Puc. Nos domingos, sai às 4h para fazer um percurso de mais de 20km pelas ruas de Porto Alegre.
- A vontade de ficar na cama (nos dias frios) é grande, mas a vontade de desempenhar alguma coisa, de crescer é maior.
Além da garra, ele conta com o apoio da esposa, Alaeci, 65 anos, dos três filhos, seis enteados e dos netos.
Rústica da Bonja
Além do sonho de conhecer o Rio, Nelson alimentava a vontade de organizar uma corrida dentro do bairro onde vive há 30 anos. Assim nasceu a Rústica da Bonja, com apoio da associação beneficente do bairro.
- O primeiro ano (em 2010) foi uma choradeira. Se Deus quiser, em setembro teremos a terceira rústica - conclui.