Caçada policial
No encalço do novo barão do pó
Depois de encontrar central das drogas em sítio de Candelária, polícia procura o homem apontado como um dos mais poderosos traficantes do Estado
A caçada ao homem apontado pela Polícia Civil como o novo barão da droga do Rio Grande do Sul está aberta. Ontem, o diretor da Defrec de Santa Cruz do Sul, delegado Luciano Menezes, formalizou o pedido de prisão preventiva do traficante, investigado há pelo menos sete anos na região dos vales do Rio Pardo e do Taquari. A polícia ainda não revela a identidade do homem, dono dos 412 kg de cocaína e crack achados na manhã de quarta em um sítio de Candelária, a 184km da Capital. Caso a resposta do Judiciário seja positiva, o suspeito passará a ser um dos principais - e talvez mais poderoso - procurados do Estado.
● Prejuízo foi milionário
- Não há dúvida de que este homem é um dos mais poderosos traficantes do Estado. Mantém uma rede de contatos nas principais regiões do Rio Grande do Sul e, certamente, nas fronteiras do Brasil, de onde vem toda a cocaína - afirma o delegado do Denarc Thiago Bennemann.
A estimativa da polícia é de que a quebra da central de distribuição de drogas tenha gerado prejuízo de pelo menos R$ 15 milhões aos criminosos. Além das drogas e insumos, foram apreendidos R$ 130 mil e meio quilo de ouro.
● Laboratório era sofisticado
Um químico de Porto Alegre seria o responsável pelo laboratório, com sofisticação muito maior em relação ao encontrado pelo Denarc há um ano em um sítio de Viamão.
- O crack encontrado em Candelária era um produto exclusivo. Pela quantidade de
insumos como lidocaína encontrados no local, o ritmo de produção era industrial - avalia o delegado do Denarc.
Entorpecente tinha selo de cartel internacional
Alguns tijolos de cocaína pura encontrados na lavoura de Candelária traziam a inscrição
Totto. O selo, constatou a polícia, funciona como uma espécie de marca "tipo exportação", atestando a qualidade da droga. É um dos tipos de cocaína mais poderosos, repassados pelo Cartel de Pando, que reúne traficantes bolivianos e colombianos, controladores do corredor da coca na região amazônica. Teria teores
semelhantes à cocaína encontrada com traficantes cariocas, cuja marca nos tijolos é de um escorpião.
De acordo com o delegado Thiago Bennemann, é possível que o produto fosse exclusivo deste traficante.
● Caminho ainda é mistério
A polícia trabalha para apurar a forma como a cocaína chegava até Candelária.
- Já se sabe que não foram usados aviões nem carros pequenos, pela grande quantidade. Provavelmente, chegava em caminhões ou caminhonetes. E isso pode ter acontecido em diversos pontos da fronteira - explica o delegado do Denarc.
A periodicidade com que a droga chegava ao Estado também é desconhecida.
- Esse estoque demonstra o quanto este homem é poderoso, já que armazenar tamanha quantidade de drogas não é muito comum, pelo temor que os criminosos têm de uma baixa como essa - aponta Thiago Bennemann.
Químico de luxo
De acordo com a polícia, um químico era levado da Capital até o sítio e, provavelmente,
ensinava técnicas para que caseiros terminassem o processo de transformação da cocaína pura em crack e óxi. A suspeita é de que este homem seja o elo entre o maior distribuidor de drogas do Estado e quadrilhas da Grande Porto Alegre.
- Há evidências de que as drogas iriam para a Região Metropolitana, pela quantidade que havia no sítio. Mas ainda estamos apurando quais eram as rotas, os contatos e as formas de financiamento desse traficante - explica o delegado Luciano Menezes.
● Parte da droga estava fresca
A polícia quer saber ainda a periodicidade com que ele aparecia no sítio. O caseiro Hildo Jung, 53 anos, preso em flagrante, segundo os policiais confirmou as "lições" ensinadas por um homem da Região Metropolitana. Entre o material apreendido, havia quatro formas de alumínio com crack não sólido, que teria sido preparado um dia antes.
O suspeito
● O traficante seria natural do Vale do Rio Pardo e já estaria baseado em Candelária há pelo menos uma década. Teria influência e contatos com gerentes do tráfico de todo o Rio Grande do Sul.
● Há pelo menos sete anos ele era investigado pela polícia. Tudo teria começado com
a suspeita de que distribuía drogas para a região de Venâncio Aires. Logo se descobriu que os negócios dele eram bem mais abrangentes.
● O sítio aparentava uma propriedade rural, mas era fortemente guardado por seguranças.
● Cada quilo da cocaína trazida pelo traficante é avaliado pela polícia em R$ 10 mil, no
atacado, fora do Brasil. No país, seria vendido aos distribuidores por cerca de R$ 15 mil. O acréscimo de insumos poderia quintuplicar a quantidade de cocaína.
● Se fossem transformados em crack, os 412kg de cocaína pura renderiam cerca de 10 milhões de pedras.