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Rio 2016

Atletas da periferia sonham com a Olimpíada de 2016

O Diário Gaúcho reencontrou três jovens atletas que sonham em representar o Brasil nos próximos Jogos Olímpicos

18/08/2012 - 11h54min

Atualizada em: 18/08/2012 - 11h54min


Jovens da periferia sonham em brilhar no pódio

A contagem regressiva para os Jogos Olímpicos de 2016, no Brasil, já começou. Em 2009, quando o Rio de Janeiro foi confirmado como cidade-sede, o Diário Gaúcho mostrou a história de cinco jovens que praticavam esportes olímpicos e sonhavam em competir pelo país.

Três anos depois, reencontramos três destes personagens. Um segue os treinamentos, sonha representar a nação, mas sabe que apenas esforço não basta. Dois precisaram seguir o mesmo caminho de outros incontáveis talentos do país: deixaram o esporte porque precisam trabalhar para se manter. Descobrimos também atletas que vivem a expectativa de uma vaga na equipe brasileira. O caminho é longo e há muitas dificuldades a serem vencidas.

Uma aposta para 2016

Foi na capoeira que Lucas Gonçalves de Oliveira Cardoso, 14 anos, começou a dar seus primeiros saltos. A ginástica foi ideia do avô, Edgar, 71 anos, que na época era funcionário antigo do Grêmio Náutico União e levou o neto para um teste.

O garoto de oito anos conquistou espaço na pré-equipe de ginástica artística.

- Ele é um projeto nosso para 2016. Será jovem para a Olimpíada (do Rio). Estará no auge em 2020 - opina Leonardo Finco, treinador de Lucas.

Solo, cavalo, argolas, salto, paralelas e barra, são aparelhos que fazem parte da rotina do ginasta de 1,54m. O dia de Lucas começa às 6h. Pega dois ônibus para ir de Alvorada, onde mora, até a Escola Estadual Uruguai, na Capital. Depois da aula da sétima série, ele almoça no clube e inicia o treinamento. São seis dias de treino por semana, de três a seis horas diárias.

Assistir aos jogos de Londres foi um estímulo:

- Em 2016, eu vou estar lá (no Rio), minha mãe vai poder me ver.

Esforço que está gerando medalhas

- Eu era muito hiperativa quando era pequena, então meus pais me colocaram na ginástica.

Foi assim que Andressa Wendel Jardim, 13 anos, começou na ginástica rítmica. Atleta do Grêmio Náutico União, está focada no esporte que combina ginástica e dança, além de aparelhos como bola, fita, arco, maças e corda.

- Eu quero muito estar lá (na Olimpíada do Rio). Mas tem um baita processo até chegar - revela a moradora do Bairro Sarandi.

Andressa se divide entre as aulas da oitava série na Escola Estadual Prudente de Morais e os treinos. De segunda a sexta, são seis horas diárias. No sábado, quatro horas. Vale a pena: a jovem já venceu provas nacionais e internacionais.

É preciso investir no atleta

Para o treinador chefe da equipe de atletismo da Sogipa, José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, a falta de incentivo financeiro para os novos atletas e o distanciamento entre autoridades que cuidam de Educação e Esporte podem explicar as desistências:

- Uma semente, por mais especial que seja, se não for jogada em solo forte, regada, protegida, não chega lá. O jovem atleta precisa receber assistência médica e odontológica, estudar num lugar decente, ter transporte, alimentação e não precisar trabalhar num turno extra, para chegar ao alto rendimento.

Força na canhota para chegar a titular

O desafio a ser vencido pelo estudante Raoni de Paula Fantinel, 14 anos, é conquistar a titularidade no time de vôlei do qual faz parte, no Grêmio Náutico União. Ele também contou sua história na reportagem publicada há três anos mas, diferentemente dos outros, segue treinando três vezes por semana e sonha com a Seleção Brasileira. Segundo ele, o vôlei ocupa 70% da sua vida.

- Antes, eu pensava: "Se eu me esforçar, eu irei para a Seleção." Mas não é só isso. A gente tem que se comprometer - observa.

Hoje, o estudante da oitava série, que vive no Menino Deus, joga como oposto (a mesma posição do jogador Wallace, da Seleção Brasileira), mas queria ser ponteiro (como Murilo e Dante). Com 1,75m - diz ser um dos mais baixos do time - a canhota, que era elogiada quando ele começou a jogar, no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), segue batendo forte.

- Não sei se vou conseguir (participar da Olimpíada do Rio). Talvez fique para 2020 - avalia.

Se não for atleta, será bom cidadão

José Luís Ventura, incentivador de meninos como Willian, que começou a treinar no Complexo Barro Vermelho, na Restinga, acha que os governos e a mídia deveriam trabalhar na divulgação de outros esportes além do futebol.

- Muitos guris de periferia são bons de bola, mas não passam nas seletivas porque não têm preparo. Ficam frustrados e acabam aliciados pelo crack. É interessante mostrar esportes diferentes para que eles sejam atraídos - observa.

Em relação ao abandono do esporte, ele explica:

- É uma realidade esses que abandonam os treinamentos para ajudar em casa. Também chega uma certa idade e eles precisam de roupa, de tênis e não querem mais depender dos pais. Mas, se eles não forem atletas, (pelo esporte) serão bons cidadãos.

Ouro pela tentativa

Distante das pistas de corrida

O dia a dia do estudante Willian Antônio Rodrigues de Freitas, 18 anos, já não inclui mais o atletismo. Em 2009, o DG mostrou que ele era um dos talentos nos 100m e 200m que despontavam no Complexo Esportivo Barro Vermelho, na Restinga. Agora, cursa o primeiro ano do ensino médio, de manhã e, à tarde, trabalha como supridor de estoque em um mercado do bairro.

- Eu parei de ir nos treinos porque estava puxado. Estava treinando na Sogipa, mas lá é outra realidade, tinha gente melhor do que eu - diz Willian, revelando que a falta de condições financeiras para adquirir o material esportivo e pagar as passagens também pesou na decisão.

O remo deu lugar ao computador

Quando figurou na reportagem sobre canoagem, em 2009, Jatniel Peixoto, hoje com 18 anos, destacou que encarar o Guaíba com o remo nas mãos o fez ficar mais confiante e responsável.

E foi essa responsabilidade que pesou na decisão de deixar os treinamentos, no início do ano, para dedicar-se aos cursos de informática, que garantirão a qualificação para disputar uma vaga de emprego.

- A decisão de parar foi minha. Quero trabalhar para ter dinheiro e comprar as minhas coisas - conta Jatniel.

Para ele, a distância entre a casa onde mora, no Bairro Pedras Brancas, em Guaíba, e o local dos treinos de canoagem, no Centro da cidade, foi importante para a mudança de rumo.


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