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Estreia na Capital "Intocáveis", filme francês fenômeno de público

Produção aborda a construção de uma amizade entre um milionário tetraplégico e um imigrante africano

31/08/2012 - 05h07min

Atualizada em: 31/08/2012 - 05h07min


Marcelo Perrone
Marcelo Perrone
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Califórnia Filmes / Divulgação
Fraçois Cluzet (E) e Omar Sy em cena de "Intocáveis"

No intervalo de dois anos, chegaram ao Brasil os dois filmes franceses com maior público naquele país em todos os tempos: A Riviera Não É Aqui (21 milhões de espectadores) e, a partir desta sexta-feira (31/8), Intocáveis (20 milhões). Mas é curiosa a receptividade que cada um deles teve fora da França. Se o primeiro pouco repercutiu em termos de bilheteria, este segundo consolidou-se como um fenômeno global. E as razões deste sucesso, para o bem e para o mal, estão bastante explícitas.

Para se ter ideia do que representam estes números no mercado francês, proporcionalmente é como se Tropa de Elite 2 - o longa brasileiro campeão de público, com 11 milhões - tivesse levado aos cinemas mais de 60 de milhões de espectadores. A Riviera Não É Aqui atingiu em cheio o imaginário dos franceses por tratar de forma escrachada a rivalidade entre habitantes do norte e do sul do país. Mas, aos olhos estrangeiros, grande parte de suas piadas passavam batidas.

Com Intocáveis ocorre o contrário. Até existe um grande tema nacional no enredo, mas ele é epidérmico à leitura universal a qual se abre a história de uma amizade improvável, que supera barreiras sociais e culturais para, ao fim, dar uma lição moral de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças.

Os diretores de Intocáveis, Olivier Nakache e Eric Toledano, adaptaram a história real de Phillippe Pozzo di Borgo, milionário tetraplégico que criou um forte laço de amizade com o enfermeiro argelino que foi seu braço direito, Abdel Sellou. No filme, Phillippe é interpretado pelo ótimo François Cluzet. Mas Abdel ganhou o nome de Driss (vivido pelo igualmente ótimo Omar Sys) e representa outra ex-colônia francesa na África, o Senegal.

Esta mudança, na França de hoje, é significativa. Se os argelinos integraram-se (um pouco) melhor à sociedade francesa, os imigrantes negros e seus descendentes vivem marginalizados nas periferias. Intocáveis, nessa perspectiva, promove um chamado por demais pertinente nos rumos futuros do país.

Para os não franceses, o filme cumpre com eficiência e graça o roteiro da fábula moral, investindo na estrutura dramática já tantas vezes vista entre risos e lágrimas. O aristocrático Phillippe e o ex-detento Driss são como azeite e água. Um é expert em música erudita, uma chatice sem vibração para o outro, apaixonado por funk. Na galeria de arte, onde Phillippe interpreta significados ocultos, Driss vê borrões infantis. Sofisticação versus rudeza, limitação física contraposta à energia da força bruta. As diferenças que, em vez de afastar, os aproximam, cumprem todas as etapas e clichês possíveis. Mas Intocáveis é imperdível por não ambicionar nada além do que o espectador espera ver - entrega um pouco mais: dois atores em estado de graça.


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