A força da vizinhança
Depois da chuva, exemplos de solidariedade
Depois de mostrar, durante toda a semana, os estragos provocados pelo mau tempo, o Diário Gaúcho conta hoje histórias de apoio mútuo e colaboração
Em meio à tristeza que atinge quem é vítima de enchentes e temporais, surge um sentimento que torna mais fácil suportar o momento difícil: a solidariedade. A mão estendida, normalmente, surge de quem mora ao lado. São os vizinhos os primeiros a correr para ajudar quem precisa - mesmo se também foram atingidos.
Família pronta para auxiliar
Há cinco décadas morando na Vila Olaria, em Cachoeirinha, a dona de casa Eva Maria Gomes Liens, 60 anos, já não se assusta mais com as enchentes. E sabe a importância da solidariedade. É por isso que sua casa se transformou em abrigo para filho, nora, netos, cunhado e amiga, que estão com as moradias alagadas:
- Um ajuda o outro. A gente coloca um colchão lá, um colchão aqui e todo mundo se ajeita.
Da varanda de Eva, a dona de casa Maria Jacira da Silva Buiz, 52 anos, observa a sua residência, alagada. Ela não vai para o abrigo por medo de saques. Moradora do local há dois anos, diz que construiu verdadeiras amizades:
- A gente cuida até da casa de quem já saiu. Não tenho palavras, fui muito bem recebida.
Comunidade em ação
A queda de uma árvore na noite de quarta no Beco Servidão, no Bairro Vila Nova, na Capital, mobilizou a comunidade para ajudar as famílias que tiveram as moradias atingidas.
- Todo o pessoal se juntou para cortar os galhos. A gente fez isso no escuro, com machado e facão - conta o balconista Fabiano Ferreira, 37 anos.
Uma das casas é da operadora de telemarketing Jéssica Moreira da Silva, 25 anos. Ela chegou do trabalho avisada pela vizinha Lara Fagundes, 52 anos, que cuidava os filhos dela.
- Eles que se uniram e começaram a cortar tudo - destaca Jéssica.
A remoção da árvore foi concluída pelos bombeiros.
A jovem barqueira
Quem foi ajudado também ajuda. É o caso da dona de casa Roseli da Silva Marques, 30 anos, e sua filha Emily Marques da Silva, dez anos. Nora e neta de dona Eva, elas tiveram a casa invadida pela água, mas aproveitam para auxiliar no deslocamento dos vizinhos.
- Muitos aqui não têm barco, o pessoal precisa. A Emily gosta, se deixasse ela ficava o dia todo - afirma Roseli.
E a menina não faz feio mesmo: comanda o remo com habilidade e rapidez, conversa com os vizinhos e circula pela água com muita facilidade. Basta alguém chamar, e lá vai a menina, que diz não cansar nem achar a tarefa complicada.
Resgate, abrigo e alimento
Foi graças aos vizinhos que um grupo de moradores da Rua João Francisco Alves, no Bairro Três Marias, em Esteio, conseguiu enfrentar a força das águas.
- Quando eu vi que começou a encher, vim e fiquei aqui nos vizinhos - relata a dona de casa Elisiane Silva de Oliveira, 23 anos, que deixou a casa onde mora com o marido e os dois filhos.
A vizinhança também resgatou a doméstica Janaína Bonfim, 36 anos, que estava ilhada, também com o marido e dois filhos.
Cidades às escuras
O temporal deixou 350 mil clientes sem energia elétrica ao mesmo tempo no Estado. Ontem, cerca de 94 mil ainda esperavam o retorno do serviço. O maior problema enfrentado desde terça é a dificuldade de atendimento devido ao congestionamento dos telefones das concessionárias.
Procuradas pelo jornal Zero Hora, CEEE, RGE e AES Sul disseram ter sido surpreendidas pela alta demanda, mas reiteraram estar trabalhando para regularizar a situação.
Na Região Metropolitana, uma das cidades mais atingidas é Alvorada. A falta de luz atingiu principalmente os bairros Nova Americana, Stela Maris e Jardim Algarve. À noite, moradores bloquearam uma rua em protesto contra a Ceee.
Para falar com as empresas:
AES Sul - 0800-707-7272. Torpedo para 28410 com o código do cliente (está na conta de luz). Atenção: torpedo somente em casos de falta de energia.
CEEE - 0800-721-2333 ou torpedo com a palavra LUZ e a instalação para para o número 27307.
RGE - Torpedo com a palavra LUZ e o número da UC (Unidade Consumidora) para o número 27350, além do telefone 0800-970-0900
- A Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados (Agergs), responsável por fiscalizar o atendimento, orienta quem não foi atendido a ligar para o telefone 0800-727-0167