Morte 900
Chega a 900 o número de mortes na Região Metropolitana
Execução de comerciante em São Leopoldo confirma que Vale do Sinos vive explosão de homicídios, com alta de 63,3%. O principal motivo: disputa pelo tráfico

As cortinas de ferro do Bazar Keila amanheceram fechadas ontem, com um pano preto colado, simbolizando o luto em um dos três comércios de Régis Garcia, 37 anos, na Vila Brás, Bairro Santos Dumont, em São Leopoldo. No começo da noite de quarta, quando fechava o estabelecimento, ele e a companheira viraram alvos de um atirador.
Régis foi executado com sete disparos de pistola. Ela ficou ferida com um tiro no braço.O crime, ainda misterioso para a polícia, marcou o assassinato 900 do ano na Região Metropolitana. E retrata o surto de homicídios no Vale do Sinos.
Desde o começo do ano, conforme levantamento do Diário Gaúcho, já foram 165 assassinatos entre São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapiranga, Portão e Campo Bom.
Sem líder, mortes aumentaram
O número é superior aos de todo o ano passado. Se comparado com o mesmo período de 2011, a alta é de 63,3%. Para as autoridades, a divisão da liderança do tráfico, explica o fenômeno.
- Depois de uma alta nos homicídios no começo do ano, conseguimos diminuir o ritmo - afirmou o delegado de homicídios de São Leopoldo, Alencar Carraro.
"Funciona como um mercado"
Para o delegado da Homicídios de São Leopoldo, Alencar Carraro, a investigação para sufocar o tráfico e as quadrilhas não é tudo:
- A demanda dos usuários cresce. E isso funciona como um mercado.
A polícia ainda tenta explicar a morte do comerciante, mas a possibilidade de latrocínio (roubo com morte) perde força, já que nada foi levado.
- Provavelmente, alguém estava à espreita - afirmou Alencar.
"As vizinhas também sentem"
O avanço da criminalidade no Vale do Sinos já transformou até mesmo o perfil de cidades antes consideradas pacatas. Em Sapiranga, foram registrados 13 homicídios no ano. Mais do que o triplo do que o registrado em 2011.
A explicação está na multiplicação das bocas de fumo. É o que acredita o titular da DP da cidade, Ernesto Luiz Clasen:
- Quando a violência aumenta nas cidades maiores, as vizinhas sentem.
NH "exporta" criminosos
Segundo o delegado, que também responde pela delegacia de Campo Bom, a forma de evitar o assassinato é combater o tráfico.
- Constatamos que, na maior parte dos casos, são criminosos vindos de Novo Hamburgo que atacam em outras cidades.
Compare
* Dados até 11 de outubro. Na Região Metropolitana, são 900 homicídios no ano. O mesmo índice só foi atingido em 2011 em 22/11. Morre uma pessoa a cada oito horas na região.
Mortes 2011* 2012* Aumento
- N. Hamburgo 48 78 62,5%
- São Leopoldo 43 61 41,8%
- Sapiranga 4 13 225%
- Portão 2 7 250%
- Campo Bom 4 6 50%
- Total 101 165 63,3%
Local é "respingo"
Juntamente com Feitoria, Santa Marta e Arroio da Manteiga, o Bairro Santos Dumont forma uma região onde a polícia detectou o "respingo" da violência com o esfacelamento da gangue liderada pelo traficante Maradona.
A transferência do líder para o Presídio de Catanduvas (PR), em 2011, teria feito explodir as mortes em 2012 no Vale do Sinos - confrontos pelo tráfico teriam aumentado. Em São Leopoldo, foram 61 casos em 2012.
- Após sufocar os Manos, trabalhamos com mapeamento de vítimas e de pontos de tráfico e estamos conseguindo controlar - garante o delegado Alencar Carraro.
Ele contabiliza na cidade, desde janeiro, 102 presos por homicídios consumados ou tentados.
Assassino uniformizado
Régis tinha antecedente por roubo e não estaria morando na Vila Brás. Na quarta, no entanto, passou pelo seu comércio e um homem com uniforme de uma concessionária de energia elétrica desceu de uma Parati e atirou.
Silêncio: aliado do crime
Em Novo Hamburgo, os crimes batem recorde. Pelo levantamento do Diário, foram 78 assassinatos registrados na cidade em 2012. Em relação ao mesmo período no ano passado, alta de 62,5%.
- O tráfico e a procura pela droga aumentaram, e com eles a violência. A maior parte dos casos que investigamos envolvem traficantes ou usuários em dívida - aponta o delegado Enizaldo Plentz.
O índice de resolução de homicídios desde o início da força-tarefa da Polícia Civil em Novo Hamburgo ficou em 55%, bem abaixo do obtido entre todas as cidades envolvidas no reforço.
- São crimes de resolução muito difícil, porque quem viu, diz que não viu. Todos temem ser mortos pela ousadia desses criminosos - diz o delegado.
Atacados por rivais
Foi o caso do último assassinato, na segunda. Eram 17h quando Douglas Valdecir da Motta, 20 anos, e um amigo foram alvo de tiros no Bairro Boa Saúde. Os dois estariam traficando em um ponto de rivais.