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O poder da web

Conheça a história do mendigo que alcançou a fama após ter foto divulgada no Facebook

Por trás do clique do ex-modelo gaúcho há um drama causado pelo crack

19/10/2012 - 04h33min

Atualizada em: 19/10/2012 - 04h33min


Marcelo Gonzatto
Marcelo Gonzatto
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O encontro casual de dois gaúchos em uma praça de Curitiba, no Paraná, na terça-feira, resultou em um fenômeno da internet e trouxe mais uma vez à tona os danos causados pelo vício do crack. Uma fotografia mostrando o ex-modelo e morador de rua Rafael Nunes, 30 anos, vestido com trapos e enrolado em um cobertor foi compartilhada mais de 45 mil vezes no Facebook até o final da tarde desta quinta-feira e reproduzida em dezenas de sites jornalísticos.

Detrás da câmera que focalizou o gaúcho nascido em Tenente Portela estava Indy Zanardo, 38 anos, caxiense que migrou para São Paulo com apenas três anos, depois morou nos Estados Unidos e há cerca de um ano vive em São Marcos, a 158 quilômetros da Capital. Ela visitava parentes e fazia fotos da cidade quando foi abordada pelo rapaz.

Rafael e a família, completada pelos pais, duas irmãs e mais um irmão, deixaram Tenente Portela quando ele ainda era criança rumo a Miraguaí, depois se estabeleceram em Farroupilha. O trabalho do pai, no ramo da construção civil, os conduziu a Sinop, em Mato Grosso. De lá, a irmã Fabiana Nunes foi morar em Curitiba.

Rafael foi viver com ela três anos depois. Começou a trabalhar como modelo e parecia estar iniciando uma carreira de sucesso. Quando o uso de maconha evoluiu para dependência do crack, sua vida perdeu o rumo.

- Depois de algum tempo, eu não consegui mais segurar a barra. Mandei ele de volta para Mato Grosso - conta a irmã Fabiana.

Sofrimento era desconhecido de alguns parentes do RS

Como o pai começara a perder a visão, toda a família se instalou na Região Metropolitana de Curitiba. Nos últimos três anos, o rapaz oscila visitas esporádicas aos parentes com longos períodos em que vaga pelas ruas e consome drogas. Parte da família que ficou no Rio Grande do Sul só soube do drama quando o assunto virou notícia.

- Acho que queriam nos poupar. Quando estive lá, há pouco mais de dois anos, ele parecia estar bem. É um rapaz muito doce - conta a tia Janete Pretto, moradora de Santo Augusto.

A expectativa da família de Rafael, e da fotógrafa Indy, é de que a repercussão provocada pela foto garanta apoio adicional para que o gaúcho volte a ser alvo de fotógrafos - como modelo, e não mais como morador de rua.

Entrevista: Indy Zanardo, fotógrafa

A foto publicada despretensiosamente no Facebook alçou à fama nacional a fotógrafa caxiense Indy Zanardo, 38 anos, atualmente radicada em São Marcos. Ela releva que ficou admirada com a dimensão do caso, e espera que a repercussão da história de Rafael o ajude a encontrar a saída do labirinto das drogas. Por telefone, concedeu na tarde desta quinta-feira a seguinte entrevista:

Zero Hora - Como foi a situação que resultou nessa foto?

Indy Zanardo - Na verdade, ele chegou pedindo dinheiro. Eu disse que não tinha, porque havia outras pessoas nas proximidades, estava um pouco tumultuado, e eu não queria mexer na bolsa. Ele falou "então tira uma foto minha para eu ficar famoso". Ele queria que botasse na rádio, aí eu brinquei com ele que se botasse na rádio não ia aparecer nada...

ZH - E o que ocorreu depois?

Indy - Aí cheguei em casa e, como estava cansada, resolvi que não ia editar as fotos para colocar no Facebook. Eu tirei várias fotos, porque fui para Curitiba para visitar familiares, mas também para fotografar a cidade. Fotografo as cidades onde vou. Mas resolvi colocar só a foto dele no meu Facebook, e aí começou tudo isso.

ZH - Como vê a enorme repercussão do caso?

Indy - Estou acostumada, por trabalhar com a mídia, a um assédio pequeno. Trabalho para uma revista da comunidade brasileira em Atlanta, nos Estados Unidos. Já levamos o Dudu Nobre para lá. Mas foi uma surpresa pelo tamanho da repercussão. Quando abri o meu computador, a foto que eu fiz dele já estava na minha página inicial da internet. Está em todos os lugares. É muito estranho o que aconteceu, mas espero que isso o ajude de alguma forma.

ZH - A senhora chegou a manter contato com a família do rapaz?

Indy - Li em algum lugar que as irmãs dele tentaram fazer contato comigo pelo Facebook, mas eu não estava aceitando contato de ninguém porque eu utilizo apenas para minhas relações pessoais. Depois disso procurei elas pelo Facebook mesmo e perguntei o que estavam achando disso tudo. Elas disseram esperar que isso pelo menos sirva para que alguém faça alguma coisa por ele. Talvez, agora exista uma esperança para esse rapaz. É nisso que eu penso.


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