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A Educação precisa de respostas

Por que os alunos não aprendem o esperado em Matemática?

Cerca de 89% dos estudantes chegam ao final do ensino médio sem aprender o suficiente na matéria

27/10/2012 - 09h09min

Atualizada em: 27/10/2012 - 09h09min


Os dados são do Relatório De Olho nas Metas 2011, do movimento Todos Pela Educação, baseado em dados do Saeb 2009 (MEC/Inep).

A Matemática como vilã

Tida como bicho de sete cabeças para muitos estudantes, que reforçam a cultura de que a disciplina é difícil e chata, a Matemática está no centro de um diagnóstico preocupante: quase nove em cada dez alunos que chegam ao final do ensino médio não sabem o esperado em Matemática.

Especialistas apontam que a defasagem de conteúdo escancarada no final da educação básica é resultado de um caminho de problemas no ensino - a raiz está no começo da vida escolar.

Currículos extensos, sem significado para o aluno, carência de professores permanentemente qualificados, ou motivados a trabalhar a Matemática de maneira interessante, são alguns nós que precisam ser desatados.

Na quinta reportagem da campanha A Educação Precisa de Respostas, do Grupo RBS, alunos do Instituto Estadual Professora Gema Angelina Belia, no Jardim Carvalho, que estão no fim do ensino médio, discutem o tema.

Avaliação da turma

Para a turma 302, a Matemática não é um bicho-papão. Com maturidade, alguns alunos avaliam as barreiras que impedem que o desempenho na educação básica seja melhor.

- Eu nunca tive dificuldade em pegar o conteúdo de Matemática, mas ele tem de ser passado muito bem. O professor faz toda a diferença - opina Luan Rios Paz, 18 anos, que também acha que investimento na estrutura física da escola ajuda na aprendizagem.

Pedro Vaz, 17 anos, conta que, até a sétima série, não dominava a operação da divisão. E na Matemática, o aluno precisa aprender bem um conteúdo prévio para compreender o posterior.

- Eu não sabia dividir. Com o tempo, fui aprendendo - conta ele, que teve a dificuldade sanada quando os professores perceberam que ele precisava de ajuda.

Alisson Lemos, 17 anos, acha que, para combater a defasagem é preciso atenção ao ensino fundamental.

- Precisam inovar o modo de ensino - opina.

Caroline Naibert, 18 anos, ressalta que, para que aconteça o aprendizado da Matemática, é preciso um clima silencioso e demanda atenção e empenho dos alunos. Já Claiton Pereira Santos, 25 anos, pensa que trabalhar em grupo, com os colegas cooperando entre si, pode melhorar o desempenho.

"Faço guisadinho da matéria"

Ismara Padilha de Freitas, professora de Matemática da Gema Belia, confirma que há alunos que apresentam defasagem de conhecimentos - a tabuada é um exemplo -, mas não são todos.

- Tem o aluno que vem porque está preocupado em ser aprovado e tem o preocupado em aprender. Tem que vir para aprender, a aprovação é consequência. E não pode ter medo de errar, o erro faz parte da aprendizagem.

Ismara avalia que, no ensino fundamental, as turmas numerosas podem contribuir para que alguns alunos não acompanhem o conteúdo. Já no ensino médio, a carga horária menor favorece a incidência do problema.

A postura do professor pode reverter o quadro:

- O professor tem que ter boa vontade, ser alegre, disponível para explicar de outras formas. Vejo detalhe por detalhe, faço guisadinho da matéria. Olho o caderno dos alunos, a avaliação é feita todos os dias.

Quando percebe a defasagem, a professora tenta retomar o conteúdo no dia a dia, ou indicar fontes e sugerir pesquisas.

Dicas de um campeão

Alisson Silva Neimaier, 13 anos, aluno da sétima série da Escola Municipal José Plácido de Castro, de Sapucaia do Sul, foi um dos medalhistas de ouro da 7ª Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas. No Estado, outros 13 jovens garantiram a mesma colocação no Nível I. O campeão dá dicas que podem ajudar aqueles que não curtem muito a disciplina:

- Os pais podem ajudar, estimulando os filhos com desafios (quando era pequeno, Alisson pedia que a mãe propusesse desafios para que ele resolvesse).

- Prestar atenção na aula e ficar atento às explicações é mais importante que estudar sozinho em casa.

- Perguntar ao professor sempre que surgir uma dúvida.

- Driblar a preguiça.

- Não é preciso amar os números para ir bem em Matemática. Basta esforço e prática.

O que as autoridades devem fazer

- Um plano de carreira que estimule os professores e dar condições para que participem de cursos de formação.

- Trabalhar para evitar a infrequência e o abandono escolar.

- Não preparar o estudante apenas para o conteúdo, mas para a vida escolar.

- Repensar o currículo considerando o aluno.

- O professor precisa diversificar as tarefas que propõe.

O que as famílias podem fazer

- Os pais podem se envolver mais nas atividades da escola.

- Mais que auxiliar o filho no tema (muitas vezes os pais desconhecem o conteúdo), é importante acompanhar de perto as propostas da escola.

Fala, especialista!

Para Samuel Bello, professor da Ufrgs e doutor em Educação, uma das maneiras de reverter o quadro é fortalecer o ensino nos anos iniciais.

- Precisamos de professores do primeiro ao quinto ano que saibam Matemática, assim como estudam e tratam a alfabetização.

No ensino médio, a incidência da infrequência e do abandono contribuem para a defasagem. Segundo ele, o currículo precisa ser repensado para dimensionar conteúdos e considerar as características dos alunos.


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