Reforço no Natal
O 13º é por conta própria
Trabalhadores sem carteira assinada se viram para aumentar a renda no final do ano. Segundo o Dieese, em setembro eram 862 mil na Região Metropolitana
No calendário dos trabalhadores autônomos, duas datas passam em branco: 30 de novembro e 20 de dezembro, dias em que os empregados com carteira assinada recebem, respectivamente, a primeira e a segunda parcelas do 13º salário. Este ano, o benefício injetará R$ 8 bilhões na economia do Estado - R$ 130 bilhões no país.
Em setembro, segundo o Dieese, havia 908 mil pessoas com carteira assinada e 862 mil trabalhando sem carteira na Região Metropolitana.
Sem direito à gratificação de Natal, garantida por lei aos que atuam no mercado formal, profissionais liberais como a florista Cleuza Flores, 47 anos, a diarista Verilde Meneguetti Boniatti, 45 anos, e o barbeiro Nei Bernardes, 64 anos, são obrigados a estender a jornada de trabalho para engordar o orçamento.
Uma hora a mais todos os dias
Todo ano é assim. Quando chega na reta final, Cleuza faz as contas e descobre que precisa trabalhar mais para ganhar mais. Florista há cinco anos de uma banca na Praça Osvaldo Cruz, no Centro da Capital, ela precisa vender mais arranjos ou unidades de rosas, crisântemos, violetas e cravos do que em outras épocas. Neste período, Cleuza trabalha uma hora a mais por dia, de segunda a sábado, para ganhar R$ 200 extras ao final de um mês.
- Tem que sobrar, né? Afinal, a gente não trabalha só para comer - brinca a florista, que usa o dinheiro para comprar roupas para ela e para o filho.
"Se não faço assim, fica difícil"
Barbeiro há 32 anos no Bairro Cidade Baixa, Nei sabe que precisa cortar mais cabelos para reforçar o caixa. Trabalhando duas horas a mais por dia, ele fatura R$ 80. Ao final de um mês, R$ 2 mil. Tirando as despesas, sobra R$ 1,2 mil.
- Se não faço assim, fica difícil. Não temos 13º, FGTS e férias - afirma Nei.
Verilde faz faxinas extras
Nos dez primeiros meses do ano, a diarista Verilde faz cinco faxinas por semana. Desde o começo deste mês, o número de casas e apartamentos para limpar passou para sete e poderá aumentar. Ela também faz compras no supermercado para uma de suas clientes, o que aumenta o faturamento. No final do ano, o esforço compensa. São cerca de R$ 400 a mais na sua conta.
- Não sou de gastar, mas aproveito o dinheiro das faxinas extras para comprar presente para minhas afiliadas - disse.
Planejar evita o desgaste
O economista e educador financeiro Everton Lopes sugere uma medida óbvia, sempre indicada, mas nunca cumprida para guardar uma grana sem desgaste: gaste menos do que você ganha. Se o trabalhador informal ganha R$ 1,2 mil e guarda R$ 120 por mês, ao final do ano ele terá o seu 13º sem precisar aumentar a carga horária.
Outra forma de compensar é dividir ao longo do ano as horas de trabalho a mais para não ficar sobrecarregado em novembro e dezembro.
- Se fizer isto, ele não terá que fazer mais horas nesta época - ensina.