Dias de dor
Aventuras de adolescentes viram tormentos para os pais
Período de festas e férias escolares é o preferido de adolescentes que fogem de casa. Neste ano, Deca investiga 16 casos. DG conta três histórias e dá dicas aos pais
Os próximos quatro dias exigirão atenção redobrada dos pais que têm filhos adolescentes. Um levantamento feito pelo Serviço de Investigação de Crianças e Adolescentes Desaparecidos, órgão ligado à Delegacia de Polícia para Crianças e Adolescentes Vítimas de Delitos (Dpcav), aponta que, entre o Natal e de Réveillon, o número de desaparecimentos triplica em relação a outros feriados.
Duas épocas são as campeãs
No feriadão de Natal deste ano, foram 16 desaparecimentos de crianças e de adolescentes somente na Capital. O número foi igual nos mesmos quatro dias de 2011. Num final de semana comum, a média é de cinco sumiços.
- A tendência é que estes números aumentem no Réveillon - relata o escrivão Julio Fraga.
Julio afirma que a maior parte dos casos envolve adolescentes fujões, entre 13 e 15 anos, que reaparecem dias depois. Correm riscos ao saírem de casa em busca de aventuras ou por causa de um namoro proibido pelos pais.
- Querem algo novo, fugir das regras impostas pela família. Depois, se arrependem e regressam - conta o escrivão.
"Me dizia tudo o que fazia"
O fim do ano letivo, a partir da segunda quinzena de dezembro, marca a decisão dos fujões. E a internet é apontada como o meio mais usado para planejar fugas. Foi o caso das amigas Sabrina Correa Souza, 14 anos, e Gabrielle Martins Vianna, 15 anos, do Morro Santana, na Capital.
- Jamais imaginei que ela seria capaz de nos deixar. Ela tinha liberdade, mas me dizia tudo o que fazia - lamentou a doméstica Maria Eloá Correa, de 50 anos, mãe de Sabrina.
Se liguem, pais
Dicas do Deca
- Desconfie sempre do filho. Principalmente, do adolescente. É melhor ser chato do que negligente.
- Demonstrar ansiedade, ficar calado demais ou mudar a rotina são sinais que o filho pode estar planejando algo.
- Conheça os amigos do seu filho e os pais deles.
- Quando um amigo for convidado pelo seu filho para dormir em casa, peça o telefone dos pais dele.
- Crianças que usam redes sociais devem ter as senhas compartilhadas com os pais.
PLANO TRAÇADO POR MENSAGENS NA INTERNET
Desaparecidas há nove dias, as estudantes do oitavo ano Sabrina Correa Souza, 14 anos, e Gabrielle Martins Vianna, 15 anos, usaram a internet para planejar a fuga, segundo investigadores do Deca.
Sem mudarem a rotina, traçaram o plano em trocas de mensagens pelo Facebook. Na noite anterior ao sumiço, Sabrina ajudou a mãe a montar o roupeiro no quarto que acabara de ganhar, reformado.
Ela e a amiga sumiram na manhã do dia 19. As duas teriam sido vistas por uma amiga em um ônibus no Bairro Rubem Berta. Porém, não deram retorno aos pais. Desesperados, familiares espalham cartazes com foto das duas gurias pelo bairro, em ônibus e no comércio.
- Ela estava entusiasmada porque pintaria o quarto de lilás, como sempre pediu. Jamais demonstrou que estava insatisfeita com algo. Não conseguimos acreditar que ela nos deixou - desabafou a irmã de Sabrina, Edneia Correa, 19 anos.
Se souber do paradeiro delas, ligue para 0800-642-6400.
"A tal liberdade vem parar na delegacia"
Psicóloga e investigadora de polícia do Deca, Suzana Braun afirma que os pais confundem liberdade com ausência paterna. O resultado da falta de conhecimento sobre o filho, geralmente, é o desaparecimento.
- Os pais devem responder diversas vezes ao dia a três questões: onde está, com quem e o que está fazendo o meu filho? Não significa aprisioná-lo. Seja criança ou adolescente, ele precisa estar protegido pelos pais - diz a psicóloga.
Suzana reforça que o diálogo desde a infância é a melhor forma de manter o filho seguro. Pais que se calam a partir da adolescência acabam perdendo o controle.
- Não existe esta história de que o filho precisa de liberdade a partir da adolescência. Acaba que a tal liberdade dada pelos pais vem parar na delegacia - resume Suzana.
Namoro proibido provoca sumiço
Para manter o namoro proibido pela mãe, Idolem Etiam Moura Oliveira, 16 anos, do Bairro Partenon, em Porto Alegre, saiu de casa na tarde de 25 de dezembro.
Desde então, a mãe, Débora Ferreira, peregrina em busca de pistas:
- A proibi de continuar namorando um rapaz de 17 anos, e ela não aceitou. Fugiu sem pensar no sofrimento que isso causaria.
Débora desconfia da participação do namorado devido a uma mensagem de celular. Informações: 0800-642-6400.