Natal seco
Sem água, não tem festa na Grande Porto Alegre
Moradores de Viamão, além de sofrerem no calorão devido à interrupção do abastecimento da Corsan, tiveram de abreviar os encontros familiares
Nem São Pedro ajudou. Sem uma gota de água em casa ou pingos de chuva na rua até a noite de ontem, moradores do Bairro São Tomé, em Viamão, interromperam a festa natalina, que costuma se estender até acabar o estoque de bebidas no freezer.
Luz até tinha, mas com torneiras secas e sob uma temperatura de assar peru sem precisar de forno, não restou outra coisa senão ficar plantado em ambientes refrigerados, na frente de ventiladores turbo ou tudo que porventura fizesse vento na tarde abafada de terça.
Casa de Édila foi se esvaziando
Enxugando o suor do rosto com um pano, a dona de casa Édila Moura Barbosa, 70 anos, lamentou a debandada dos parentes. Sem água na véspera, os convidados passaram a ceia reunidos, mas no dia de Natal não deu para suportar. A partir das primeiras horas da manhã, filhos e parentes tomaram outro rumo.
Na pia, o problemão
Chateada, Édila conta que nem o reservatório de 250 litros foi suficiente para garantir banho e higiene para 15 pessoas. Na cozinha, o resultado da festa: uma montanha de pratos, copos e talheres.
- Não tem lugar para botar um dedo ali - afirmou a dona de casa.
A única fonte de líquido era um balde com água até a borda, controlada com mão de ferro.
- Essa aí não dá pra gastar, pois não se sabe quando irá voltar - disse Édila.
Em diversos pontos da Região Metropolitana, moradores indignados reclamavam da falta de água. Na Capital, foi o dia mais quente do ano: 39,8ºC.
Piscina é a salvação
Embora localizem-se próximo à parada 19, na Lomba do Pinheiro, na Capital, os moradores do Bairro São Tomé vivem no lado de Viamão e são atendidos - ou deveriam ser - pela Corsan. A dona de casa Zilá Vargas da Rosa, 55 anos, e o motorista Neri Rodrigues Garcia, 43 anos, que pagam cerca de R$ 90 de conta por mês, retiraram água da piscina de um parente que mora a algumas quadras da Rua Arroio Grande. Foi a única forma encontrada para aliviar o calorão.
- Buscamos de balde para nos refrescar e para usar no banheiro. Não dava mais para aguentar. Se a água não voltar, vamos ter que procurar uma sanga por aí - disse Zilá.
Corsan culpa aumento do consumo e desperdício
Em nota publicada em seu site, a Corsan indicou os responsáveis pelo desabastecimento que indignou moradores de cidades da Região Metropolitana. Segundo a companhia, os temporais que interromperam o fornecimento de energia elétrica há uma semana e, por consequência, as operações de bombeamento de água, associados ao aumento do consumo e à alta temperatura, prejudicaram o abastecimento. Moradores das zonas altas de Alvorada, Viamão, Guaíba Cachoeirinha e Gravataí foram os mais atingidos. O abastecimento deverá ser normalizado na madrugada de hoje, desde que não falte energia elétrica.
O diretor de Operações, Ricardo Rover Machado, pede aos usuários que utilizem a água de forma racional, evitando desperdícios, como a lavagem de carros e calçadas.