Depois do susto, o alívio
Adolescentes que fugiram voltam pra casa
Familiares viajaram até o Paraná e reencontraram adolescentes que haviam fugido antes do Natal. Angústia deu lugar a alívio no Morro Santana, na Capital
Foram mais de 24 horas sem dormir, a maior parte do tempo na estrada. Mas, para as famílias, valeu a pena. Depois de 16 dias de angústia, na manhã de sexta-feira os pais de Gabrielle Martins Vianna, 15 anos, e Sabrina Correa Souza, 14 anos, finalmente, as reencontraram. As duas adolescentes haviam sumido em 19 de dezembro.
- A Sabrina ficou surpresa por a gente ter ido até lá. Mas, pela família, a gente vai até ao inferno se for preciso - resumiu a mãe dela, Maria Eloá, minutos após ela e o pai da menina, Flavio Teixeira, aírem do carro e entrarem em casa, no início da noite de sexta.
Puxar ou não as orelhas?
A mãe admite que, "se for o caso", dará um puxão de orelhas na filha. Mas a ideia, agora, é outra.
- Nós todos vamos conversar, entender o que aconteceu. Vou buscar algum tipo de orientação. Não quero que isso aconteça. Foi o maior susto da minha vida - continuou.
Pai de Gabrielle, Marcio Vianna tem discurso parecido. Primeiro, quer acarinhar a filha:
- Nada é melhor do que saber que ela está bem - disse, por telefone, do Paraná.
Interlocutor teria perfil falso
A aventura das duas meninas começou no Morro Santana, na Capital, onde moram. O destino era Umuarama, no Paraná, para encontrar um suposto jovem de 17 anos que conheceram em chats de relacionamento pela Internet.
- Já sabemos que o tal rapaz não existe, é fake (alguém que usa identidade falsa em comunidades virtuais). Falei com a polícia e eles acham que deve ser um homem mais velho, que tenta aliciar meninas, atraí-las para Umuarama e mandá- las para o Paraguai, que fica a menos de 200km de lá. Se minha filha tivesse ido para o Exterior, como eu ia fazer para encontrá-la? - declarou Marcio.
Do carro para a cozinha, assustada
Gabrielle e Sabrina foram localizadas em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. Na noite de quinta, as duas famílias se uniram para ir ao Paraná. Os pais de Sabrina pediram ajuda ao padrinho da menina, Jeferson Keni, que prontificou-se a levá-los de carro ao Paraná e dar carona para Marcio e a mulher, Roberta, mãe de Gabrielle.
Os cinco partiram no Santana 1999 de Jeferson às 19h de quinta. Exaustos, mas com a menina, os familiares de Sabrina voltaram às 19h de sexta - a família de Márcio voltaria de ônibus a partir das 20h30min de sexta.
Mulher agradece empenho de pai
Assustada com a repercussão da história, Sabrina evitou a reportagem e ficou reclusa na cozinha. Na viagem, contam os pais, ela pouco falou.
- Foi um milagre a gente ter encontrado elas. O pai da Gabrielle que as localizou. Nessas horas que a gente tem certeza de que Deus existe - finalizou Maria Eloá.
Segundo o Conselho Tutelar, as famílias terão auxílio psicológico.
Pai de Gabrielle: "Estou feliz e muito aliviado"
Por telefone, de Curitiba, Marcio Vianna falou com o Diário sobre o reencontro com a filha:
Diário Gaúcho - Como está Gabrielle?
Marcio Vianna - Ela dormiu em rodoviárias, emagreceu um pouco e ainda está abalada. Mas não aparenta estar mal de saúde. O que eu mais queria é dar um beijo na minha filha. Estamos conversando, ela está entendendo que o que ela fez não é certo. Ela poderia até estar morta agora.
Diário - Ela já disse como foi a aventura?
Marcio - Ela contou por alto, não é minha preocupação agora. No dia 19, elas foram para Florianópolis às 19h45min. Dormiram na rodoviária de lá e, depois, encontraram um garoto de São Paulo, que já conheciam da internet. As meninas ficaram um tempo na casa que ele estava, alugada. Elas conseguiram um emprego numa padaria. Depois do Ano-Novo, foram até Itajaí de carona e, de lá, pegaram um ônibus até São José dos Pinhais.
Diário - Como foram encontradas?
Marcio - Pelo MSN (programa de mensagens na internet), elas contataram um amigo de Minas. O rapaz tinha meu número e me mandou uma mensagem, dizendo que elas estavam perto de Curitiba. Ele só me disse que estavam em uma loja de conveniências de um posto de combustíveis perto do aeroporto. Pela internet, levantei telefones de várias polícias do Paraná. Um policial me passou o número da Guarda Municipal. Liguei às 10h (quinta) e passei os dados. Perto do meio-dia, me ligaram dizendo que estavam com as duas. Fizeram um trabalho incrível. No Conselho Tutelar daqui (Paraná), até a passagem de volta me pagaram.
Diário - Qual o sentimento que fica?
Marcio - Agora estou feliz e muito aliviado. A internet é uma ferramenta maravilhosa para informação, mas é também um perigo. Para relacionamentos, não presta. Quase destruiu nossa família. Que isso sirva de exemplo para outros pais. A gente acha que isso não acontece com a gente, mas acontece.
ENTENDA O CASO
- Em 19 de dezembro de 2012, Gabrielle e Sabrina saíram de casa de manhã. No mesmo dia, vasculhando o Facebook, os pais das duas descobriram que elas haviam tramado fugir de casa.
- A polícia foi acionada e, após investigação, concluiu que o provável destino delas era o Paraná, onde mora um amigo de Gabrielle.
- Policiais civis pediram a quebra de sigilo telefônico das meninas, mas até quarta-feira, não havia pistas. Até que, ontem, um amigo, com quem elas haviam mantido contato, informou o pai de Gabrielle sobre o paradeiro das meninas.
- Na manhã de sexta, houve o reencontro entre as meninas e familiares que viajaram de
carro. Sabrina voltou com a mãe, o pai e o padrinho. Gabrielle e os pais, Marcio e
Roberta, sairiam de ônibus, do Paraná, na noite de sexta-feira.