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Waldir Saldanha: Um ex-juiz do Ringue 12

Waldir Bittencourt Saldanha fez parte de uma das mais famosas atividades do Rio Grande Sul nos anos 60 e 70

16/03/2013 - 08h41min

Atualizada em: 16/03/2013 - 08h41min


Aos 80 anos, Waldir Bittencourt Saldanha mantém a lucidez e a determinação de quando fazia parte de uma das mais famosas atividades do Rio Grande do Sul nos anos 60 e 70: o Ringue 12. Inúmeras fotos de lutadores, árbitros e artistas compõem um registro único da atividade que, durante mais de dez anos, atraiu a atenção de milhares de gaúchos.


Nomes como Ted Boy Marino, Fantomas e Tigre Paraguaio (todos falecidos) participavam de lutas performáticas e arrastavam multidões. Em Porto Alegre, o evento ocorria nas noites de domingo no Ginásio da Brigada. Eram cinco lutas transmitidas ao vivo pela TV Gaúcha, o canal 12. Bittencourt foi árbitro enquanto as lutas duraram, de 1962 a 1973.


- Eu era o ruim, parceiro do base (lutador sujo) e contra o volante (lutador "mocinho"). Sempre os ginásios estavam lotados. Tenho saudade - relembra Waldir de seu apartamento no Bairro Glória, zona sul da Capital.


Em 1947, aos 14 anos, Waldir começou no boxe, esporte que praticou até 1958. Foi quando tentou ser lutador. A carreira durou um dia.


- Foi uma luta na pistola (antiga gíria para combates não ensaiados, nos quais ganhava quem imobilizasse o adversário) contra o professor de judô Henrique Dias, já falecido. Foram quatro rounds e deu empate, mas fui salvo pelo gongo. Ele me deu uma chave de pescoço. Até hoje sinto dores. Daí, fui ser juiz - resume.


Waldir logo se adaptou à profissão. A cada final de semana, seguia com a trupe para o Interior. E mais de uma vez apresentou-se em Santa Catarina e no Paraná.


- A gente era celebridade, mas íamos de ônibus. Não dava tanto dinheiro assim.


Agressão: tamancada e pulseira de ouro


A fama trazia percalços. Certa vez, no ginásio, uma mulher atirou um tamanco na cabeça do juiz, que chegou a perder a consciência. Outra expectadora jogou uma pulseira de ouro em Bittencourt, que se irritou, mas devolveu o enfeite. Porém, nada se compara às horas que passou na delegacia de Tapes, ainda nos anos 60.


- O Nelson Campos, também juiz, brigou com um lutador, não me lembro qual. Fomos todos para a delegacia, mas terminou tudo bem. O inspetor era um tal Paulo Sant'Ana, conhece? - brinca.


Com o declínio das lutas, em 1974, foi trabalhar (e aposentou-se) como oficial administrativo da prefeitura. A essa altura, já sofria com males causados pelo cigarro - por 30 anos, fumou três maços por dia. É a única coisa da qual se arrepende. Em 4 de abril, ele e Odete Saldanha, 78 anos, completam 60 anos de casados. São dois filhos, cinco netos e uma bisneta.


- Só tenho boas lembranças. Pena que a maioria dos amigos já morreu. Sou o único juiz do Ringue 12 ainda vivo. Foi uma época maravilhosa. Valeu muito a pena.


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