Polícia



Capão da Canoa

Empresário morto na frente do filho havia mudado de cidade para fugir de ameaças

Zelomar Ortiz, 52 anos, passou a investir no ramo de automóveis após herdar herança do pai

21/08/2013 - 06h02min

Atualizada em: 21/08/2013 - 06h02min


Ponto na parada 70, em Gravataí, abrigou a última revenda de carros e motos de Ortiz

Foi para se esconder que o empresário do ramo de motos e carros Zelomar Ortiz, 52 anos, se mudou com toda a família para Capão da Canoa, no Litoral Norte. Mas a tentativa de fugir de ameaças que recebia em decorrência de dívidas, segundo a Polícia Civil, não foi suficiente para evitar a morte dele, na frente do filho, em plena luz do dia.

Ortiz foi alvejado com três disparos de revólver calibre 38 dentro de um camioneta Mercedes-Benz, no começo da manhã de sexta-feira, quando deixava o filho de 12 anos no colégio. A linha de investigação da polícia aponta para uma vingança, por questões patrimoniais. O valor do veículo em que o empresário estava com o filho ainda não havia sido quitado.

- Ele veio para Capão porque já estava sofrendo ameaças. Temos suspeitos, mas não vou entrar em detalhes - comenta a delegada Walquiria Meder, titular da Delegacia de Capão da Canoa.

Recentemente, em um churrasco entre amigos já na nova residência - uma casa em um condomínio de alto padrão do Litoral Norte - Ortiz teria dito que pessoas foram até a revenda de automóveis que tinha na parada 70, em Gravataí, para ameaçá-lo. Sem dar muitos detalhes aos amigos, Ortiz resolveu se mudar, mesmo sem estabelecer um novo negócio.

A revenda na parada 70 era a terceira loja de automóveis do empresário, que há cerca de dois anos recebeu uma herança do pai. O ponto durou pouco tempo. Com as chaves recebidas em maio, o empresário teria fechado as portas da Zelo Motos em julho. No mesmo mês, adquiriu a casa no condomínio e matriculou os dois filhos na escola de Capão da Canoa. Ortiz estaria no terceiro casamento e tinha a guarda da filha de 11 anos e do filho de 12 anos, que testemunhou a morte do pai. As outras duas revendas na parada 64, uma delas só com motos importadas de alta cilindrada, não estavam mais em operação, e as sociedades já haviam sido desfeitas.

Sem carros e motos à venda, o espaço da revenda na parada 70 permanece sendo alugado no nome de Ortiz e é utilizado como estacionamento nos sábados e domingos, quando festas são promovidas em um clube ao lado. Conforme o dono do ponto, que pediu para não ter o nome divulgado, o local estava com o aluguel vencido havia dois meses. Uma carta de aviso foi mandada para cobrar o pagamento.

O investimento de Ortiz no ramo de veículos em Gravataí começou no ano passado, mas o empresário já ostentava a paixão por motos havia anos. Conforme o presidente da Associação Motoesporte e Lazer de Gravataí (Ameg), Gilson Ilha Cardoso Junior, o pai do empresário era dono da Fazenda Ortiz, que antigamente abrigava uma pista de motocross muito conhecida na cidade. Em 2012, já com a herança da família, Ortiz patrocinou um ponto grande no 1º Moto Aldeia, encontro organizado pela Ameg. Em outra ocasião, ainda no ano passado, investiu em reformas de um espaço com pistas de corrida para realizar um campeonato de nível estadual.

- Ele expôs em um espaço bem bacana. O forte dele eram motos esportivas, acima de R$ 30 mil - comenta Junior.

Apesar do gosto por motocicletas, o empresário não costumava andar muito nelas, diz um amigo que pede para preservar o nome por temer represálias. Ortiz era considerado integrante da equipe Só Zerinho Moto Show, que faz apresentações com acrobacias em motos e carros. Comprou um motor-home para acompanhar, com toda família, as apresentações no começo do ano. Em janeiro, durante uma apresentação em Balneário Gaivota (SC), teria dito:

- Nunca fui tão feliz como estou sendo.

Mesmo após se mudar para Capão da Canoa, teria mantido contato com a equipe. Por pelo menos duas vezes, reuniu o grupo para churrascos na nova residência.

- Ele era bem divertido, gostava de festa - descreveu o amigo.

 
Empresário foi morto na frente do colégio do filho
Foto: Carlos Alberto de Deus da Rosa, Especial

Polícia descarta problemas de herança

Procurado pela reportagem de Zero Hora, João Ortiz, irmão de Zelomar por parte de pai, disse que não vai se manifestar neste momento e que não mantinha muito contato com a atual mulher da vítima. Familiares já prestaram depoimentos à Polícia Civil. Conforme a delegada Walquiria Meder, o homicídio não teria relação com o dinheiro da herança:

- Houve o recebimento de herança, que mudou a situação econômica da vítima. As testemunhas e familiares não especificaram o valor, mas a divisão entre os irmãos foi tranquila, não tem suspeita nenhuma sobre envolvimento da família no crime.

Diligências para colher depoimentos continuam sendo feitas enquanto a delegada aguarda o laudo de um veículo suspeito de ter sido usado pelo matador. O carro, um Fiesta preto, foi encontrado na noite de sexta-feira, com placas clonadas nas proximidades de um parque aquático de Capão da Canoa. Mesmo sem conseguir identificar detalhes do veículo em imagens de câmeras do local da execução, a polícia acredita que o carro possa ajudar a esclarecer a autoria do crime.


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