Longe dos olhos
Obras de duplicação da BR-280 entre Guaramirim e Jaraguá do Sul seguem em ritmo lento
Empresas concentram trabalhos em túnel e nos trechos onde não há obstáculos com desapropriações, mas o próprio DNIT admite que ritmo da obra não é o ideal

Dez meses depois do início da duplicação, bem longe dos olhos da maioria dos motoristas que passam pelo traçado original da BR-280, duas empresas intensificam os trabalhos onde as desapropriações não se transformaram em um obstáculo. Por enquanto, dos três lotes da rodovia, só há obras entre os dois que ficam entre a BR-101 e a área urbana de Jaraguá do Sul - a ordem de serviço para o lote 1, entre a BR-101 e São Francisco do Sul, ainda não foi assinada.
Vídeo: confira o andamento das obras
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o ritmo da obra não é o ideal, mas não há atrasos significativos no cronograma desde o início dos trabalhos, há dez meses. As primeiras equipes começaram a terraplenar o novo traçado da BR-280 no dia 6 de junho do ano passado, em Guaramirim.
O lote 2.1, entre a BR-101 e Guaramirim, está sendo executado pela Sulcatarinense e tem 4% das obras concluídas - praticamente tudo ainda está na fase de terraplenagem e preparação do solo. No lote 2.2 (entre o km 50,7, em Guaramirim, e o 74,6, na zona urbana de Jaraguá do Sul), que está sob a responsabilidade da empresa paulista Cetenco, a situação é um pouco diferente: são 6% dos trabalhos concluídos, boa parte também de terraplenagem. Mas neste trecho há um túnel que começa a ganhar forma na região conhecida como Vieira ou Morro da Vieira.
Os dois principais obstáculos têm sido a chuva - que já era esperada pelos engenheiros e é tratada com certa resignação pelas equipes - e a falta de recursos para a agilizar as desapropriações. Até o começo deste ano, haviam sido concluídos os processos de compra de 36 áreas entre a BR-101 e Jaraguá do Sul.
Segundo o engenheiro supervisor do DNIT em Joinville, Antônio Carlos Gruner Bessa, ainda faltam cerca de 200 áreas. A previsão é de que entre junho e julho sejam realizados novos mutirões, com a presenção do Ministério Público Federal e da Justiça Federal. Esses mutirões agilizam o processo da desapropriação em massa, evitando entraves futuros com demandas judiciais.
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Obras avançam mata adentro
A expectativa é de que, com a liberação dos recursos, ainda no primeiro semestre, seja possível atrair todos os proprietários para a negociação direta nos mutirões e, assim, acelerar a obra. Por enquanto, os avanços mais significativos estão ocorrendo numa área rural paralela à rodovia atual, cortando a mata e os morros entre Guaramirim e Jaraguá do Sul. Não é possível ver toda a movimentação das máquinas do asfalto, mas ela existe.
- A gente se sente realizado em ver a obra andando, embora ainda não esteja no ritmo mais acelerado - diz o engenheiro João Roberto Schmitt, que atua em Itajaí, mas acompanhou de perto dois momentos distintos da duplicação da BR-101 (um em Garuva, nos anos 1990, e outro no Sul do Estado, perto do Rio Grande do Sul, nos anos 2000).
- Há uma satisfação enorme da nossa parte em ver que a comunidade está, finalmente, sendo atendida - complementa Bessa.
Canteiros espalhados
Há pelo menos dez frentes de trabalho ao longo do novo traçado da BR-280. Em alguns pontos, toda a terra fértil usada no plantio do arroz está dando lugar a pedras e a uma grossa camada de solo argiloso, mais seguro e considerado ideal para dar sustentação ao tráfego que vai passar pela rodovia.
No quilômetro 56 está um dos pontos mais importantes de toda a obra. Um morro no bairro Schoroeder 1 está sendo praticamente redesenhado. Pequenos acessos de terra foram abertos até o ponto alto da rodovia. Mais de 20 metros de morro tiveram de ser cortados com dinamite e poderosas máquinas escavadeiras. Lá também está uma espécie de mina das pedras que servem para fazer a base de toda a rodovia. Ontem pela manhã, uma escavadeira fazia o trabalho de reduzir imensos blocos de pedra para que eles pudessem ser postos sobre os caminhões, que não param de subir e descer os morros da região.
O traçado da rodovia também já pode ser visto em meio à mata. Ao longe, algumas curvas. Mas também há situações que revelam que a burocracia ainda não deixou a obra deslanchar como deveria. Em muitos pontos, a obra está dividida por longas áreas que ainda não foram desapropriadas.
- À medida que elas forem sendo liberadas, o trabalho avança rapidamente - diz o engenheiro José Carlos Loiola de Lacerda, coordenador da supervisão da obra.
Lacerda trabalha para a Sotepa, empresa contratada para fazer a supervisão da obra. Ou seja, ele fiscaliza se o que está no projeto está realmente sendo executado e com a qualidade prevista desde a licitação.
Máquina vinda da Finlândia ajuda na escavação e na estruturação de dois túneis
Jumbo, o robô-tatu gigante
Um personagem que entrou em cena há algumas semanas está roubando a atenção e aliviando em muito o trabalho da equipe responsável pela escavação e estruturação dos dois túneis que fazem parte do projeto. É o Jumbo, uma máquina computadorizada com três braços movidos por joystick, que faz a perfuração de até 15 metros na rocha e escava numa velocidade pelo menos dez vezes maior do que as britadeiras manuais.
O Jumbo foi comprado por cerca de R$ 1,4 milhão pela Cetenco especialmente para a obra. É uma perfuratriz hidráulica fabricada na Finlândia e que no Brasil foi usada somente para a construção de um túnel de 15 quilômetros (o Cuncas), que interliga os Estados do Ceará e da Paraíba pelo Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco.
Os engenheiros chamam o sistema de perfuração com fogo controlado. Segundo Marledo Manoel da Silveira, engenheiro residente do túnel, a velocidade é maior porque reduz os ciclos de trabalho. Durante a operação, o Jumbo fica boa parte do tempo dentro do túnel, com os três braços funcionando simultaneamente. Depois, ele sai e há a preparação para as detonações.
Numa terceira etapa, há a retirada do material do fundo do túnel. São toneladas e toneladas de rocha que são usadas na base do traçado da nova rodovia. Cada ciclo de perfuração leva entre oito e dez horas. Os operários são distribuídos em várias frentes de serviço simultâneas. Por enquanto, apenas uma das extremidades está sendo escavada. A expectativa é de que ainda neste ano sejam abertas outras três frentes. A nova BR-280 terá dois túneis, um de 1.070 metros e outro de 1.040 metros. Os dois seguem paralelamente dentro da montanha, no bairro Vieira.

