Mais Brigada, mais Civil
Aumento dos homicídios faz as polícias se unirem
Desde janeiro, o Diário contabilizou 416 mortes ao redor da Capital
Michael Rodrigues de Freitas, 16 anos, foi executado na tarde de ontem no Bairro Restinga. O assassinato, infelizmente, está longe de ser novidade. Na verdade, retrata um surto de violência na Região Metropolitana. Desde janeiro, o Diário contabilizou 416 mortes ao redor da Capital. Os números sensibilizaram o governo, que antecipou medidas contra a onda de assassinatos. A Polícia Civil e a Brigada terão acréscimos de homens nas 11 cidades mais violentas - oito delas na Grande Porto Alegre. Todas contarão com equipes exclusivas para homicídios (algo que já existe na Capital e em Canoas). O chefe de Polícia, delegado Ranolfo Vieira Júnior, fez um anúncio que deve causar polêmica: espera contar, na investigação, com ajuda de PMs.
Da Capital para a Capital
O reforço da Capital virá da própria Capital. As 24 DPs distritais, as delegacias do Deic e do Denarc estão na mira para ceder agentes - no máximo, um servidor cada uma. Essa nova turma, que deverá ter entre 20 e 30 homens, formaria uma espécie de força-tarefa, comandada pelas duas Delegacias de Homicídios.
- Sabemos que o prédio onde hoje funciona a Homicídios (Palácio da Polícia) não tem lugar para abrigar tanta gente. Estamos avaliando um novo local para instalar esse reforço de agentes - informou Ranolfo.
Número ainda insuficiente
A força-tarefa tem prazo de validade: 120 dias. Isso porque, até outubro, a Academia da Polícia Civil espera formar 820 agentes.Com a incorporação, e se nenhum se aposentar, o efetivo do órgão ficaria perto dos 6,2 mil agentes. Ainda assim, segundo admitiu Ranolfo, o número será inferior ao registrado no final da década de 80, quando a Polícia Civil tinha 6,5 mil servidores.
Nessa ofensiva, a Brigada trará do Interior 200 PMs para cinco cidades da Região.
Michael, a vítima 416
Letícia Barbieri
leticia.barbieri@diariogaucho.com.br
Com o olhar desolado, Maria Denise Rodrigues, 37 anos, teve de ser amparada, ontem, na oficina onde o filho trabalhava havia três dias, na Restinga. Na data em que o primogênito completava 18 anos, a mãe perdia o de 16 anos. Segundo ela, por engano.
Com cinco tiros nos ombros e no pescoço, Michael Rodrigues de Freitas tombou, às 14h20min, em meio aos carros da oficina na Estrada do Barro Vermelho.
- Meu filho queria seguir o caminho do bem, mas não deixaram - lamentou.
Alvo seria o irmão maior
Maria Denise conta que o alvo era o mais velho, o aniversariante Douglas. Segundo ela, há tempos ele "andava aprontando". E apresentava-se como Ratinho, apelido do mais novo.
A família conta que Douglas colecionou inimizades. Uma delas, a do principal suspeito da morte de Michael, já tinha atirado contra Douglas na semana passada - ele foi salvo pelos gritos do irmão morto ontem.
- Tinha gangue atrás dele - contou a mãe.
E a primeira aposta da polícia é na gangue dos Madeireira. Um jovem de 24 anos foi detido pouco depois do crime. De dentro da viatura da Brigada, ouviu gritos de "assassino". Uma testemunha, porém, não o reconheceu.
- Não sabemos se por medo - disse o delegado Felipe Borba, da equipe volante do Deic.
Acréscimo no Interior
Até a semana que vem, DPs de 11 cidades devem receber agentes. O delegado não informou quais cidades cederão policiais. A ideia é qualificar a investigação de homicídios, crime que cresceu este ano em boa parte dos municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas o cobertor é curto: no máximo, 60 policiais civis desviados.
- Se mexermos, será com 1% do quadro, que hoje é de 5,3 mil pessoas. Assim, garantimos que não haverá problemas nas cidades de origem - antecipou o chefe de Polícia, delegado Ranolfo Vieira Júnior, idealizador do plano.
Força é para o cartório
Segundo ele, em cidades como São Leopoldo e Novo Hamburgo, a tendência é enviar agentes ao cartório. E os policiais que fazem esse serviço passam a ajudar na investigação.
- Policiais que já estão na DP, certamente conhecem melhor a comunidade e têm mais condições de investigar - lembrou.
Cidades
Locais que receberão reforço:
- Porto Alegre
- Guaíba
- Canoas
- Alvorada
- Viamão
- Gravataí
- São Leopoldo
- Novo Hamburgo
- Caxias
- Pelotas
- Passo Fundo
Civil "convoca" BM
O velho plano de unir forças entre as polícias Militar e Civil é outra faceta do atual plano do Estado. E uma medida anunciada pelo chefe de Polícia promete causar polêmica:
- É preciso um estreitamento com a Brigada, sobretudo no que diz respeito aos homicídios. A BM nos ajudará na investigação, pois ela normalmente é a primeira a chegar na cena de crime. Os PMs coletarão os primeiros dados e nos repassarão - afirmou Ranolfo.
Informalmente, a medida já é adotada entre alguns batalhões e DPs. mas há policiais civis que não aprovam.
- Os PMs querem ajudar, mas, às vezes, atrapalham. Apertam as pessoas, alertam os gansos, dificultam as coisas para nós - disse, em jargão policial, um agente que pediu para não ser identificado.
Na semana passada, também para tentar conter as mortes, a BM anunciou medida semelhante: 200 PMs do Interior virão para a Região Metropolitana por 60 dias. O efetivo deve chegar até quinta.
- Qualquer agente de segurança pública, ao chegar ao local, tem de levantar o máximo de informações - analisa o responsável pelo Comando de Policiamento da Capital, tenente-coronel Paulo Stocker.
O comandante vai além:
- Temos feito ações integradas, trocado informações entre o setor de inteligência da Brigada e da Civil. Juntos, levantamos informação de assalto e tráfico. O resultado é muito melhor.
2012 é a prioridade
Casos anteriores a janeiro não serão engavetados, mas o plano da Polícia Civil é reforçar a investigação em assassinatos ocorridos em 2012. Ele não esconde o motivo:
- Vimos o crescimento de homicídios. Não dá para saber o quanto esse tipo de crime vai diminuir, mas estamos tomando providências. Em termos de mortes, com certeza é a melhor arma que podemos ter - raciocinou o chefe de polícia.
Conforme a assessoria da Secretaria de Segurança Pública, o secretário Airton Michels vai se pronunciar hoje a respeito das novas medidas. O custo do projeto que inclui pagamento de diárias e alimentação para policiais realocados, é de R$ 120 mil ao mês - total de R$ 480 mil.
Guaíba, o bom exemplo
A prisão de Ilton Marques Gonçalves, 41 anos, ontem em Guaíba, para o chefe de Polícia é um exemplo de medida que pode diminuir os homicídios:
- Essa ação tirou das ruas um suspeito de 19 homicídios. Tudo devido a um trabalho de investigação.
Apontado pela polícia como matador de aluguel, Ilton, nos últimos dez anos, responde a dez inquéritos de assassinato.
- "Ele é um homem temido"
Na manhã de ontem, agentes de Guaíba o prenderam em casa, no Bairro Vila Nova, com uma pistola calibre 22 debaixo do travesseiro. Ele estava com mandado de prisão preventiva decretado por, supostamente, ter ordenado um comparsa matar um homem de 27 anos, no dia 10 de março. Rival de Ilton, o homem levou sete tiros, mas sobreviveu ao ataque.
- Ele é um homem temido, violento. Tem fama de executar homicídios para outros criminosos, por isso poucas pessoas o denunciam - explicou o delegado Rafael Soares Pereira.
Escalada das mortes: 2011-2012
Dados de janeiro a abril de cada ano: Aumentaram
- São Leopoldo: 19 para 33 (73%)
- Viamão: 26 para 34 (30%)
- Alvorada: 35 para 42 (20%)
- Gravataí: 26 para 29 (11,5%)
- Novo Hamburgo: 32 para 35 (9,3 %)
- Porto Alegre: 142 para 149 (4,9%)
Reduziram
- Guaíba: 13 para 9 (30%)
- Canoas: 38 para 32 (15,7%)
Fonte: planilha do Diário Gaúcho. As outras cidades (Passo Fundo, Caxias do Sul e Pelotas) não entram na contagem.