Polícia



Criança tem drama dobrado

Burocracia em caso de abuso de menina de 8 anos em Capão da Canoa

Há 15 dias, menina de oito anos denunciou padrasto por abuso. Enquanto se esconde na Região Metropolitana, o suspeito está solto no Litoral. DP ainda não investiga caso

11/05/2012 - 07h08min

Atualizada em: 11/05/2012 - 07h08min


Quando a menina de oito anos tomou coragem de falar para uma prima as barbaridades a que já era submetida pelo padrasto, de 31 anos, achou que seria o fim de um drama. Era 25 de abril, quando foi registrado no plantão do Deca, na Capital, o caso de estupro - que já se repetia havia mais de um ano na casa da família, em Capão da Canoa.

Mas até a manhã de ontem, passados 15 dias, o caso seguia emperrado pela burocracia. O inquérito que deve ser feito no Litoral Norte sequer foi iniciado: o malote com a ocorrência ainda não havia chegado lá.

- Sem o papel não podemos dar início ao inquérito. Infelizmente, as coisas, às vezes, não andam no ritmo que nós gostaríamos - disse o delegado Valdernei Tonete.

Por volta das 14h de ontem, a esperança da menina chegou a ser renovada... por pouco tempo. Os papéis chegaram à Capão. Mas ainda falta o resultado do exame de corpo de delito, feito em 25 de abril, no Hospital Presidente Vargas, na Capital.

- O exame é fundamental para comprovar se houve a conjunção carnal. Se isso aconteceu, não tenho dúvidas de que pediremos a prisão preventiva deste homem - afirmou o delegado.

Família vive de favor

Enquanto as autoridades tropeçam nos detalhes burocráticos, a vida da vítima e da sua família está completamente alterada. Ela não frequenta a escola e não vê seus amigos. Nesta semana, iniciou o acompanhamento psicológico em um hospital de Porto Alegre.

- Estamos vivendo inseguras e de favor enquanto esse sujeito está livre lá em Capão! É como se minha sobrinha é que tivesse cometido algum crime - desabafou a tia de 29 anos.

Medo impede retorno ao lar

Ao saber do que a menina contava, a tia não pensou duas vezes. Saiu da casa com os dois filhos e os dois sobrinhos. Desde então, eles vivem na casa de um parente, na Região Metropolitana, à espera de, ao menos, segurança para voltar a Capão da Canoa.

Crimes na ausência da mãe

O relacionamento entre a mãe da vítima, 34 anos, e o padrasto começou há cerca de três anos. Foi quando a menina e o irmão mais novo foram morar na casa em uma área invadida de Capão da Canoa.

O sofrimento começou quando a mãe soube que sofria de osteomielite (inflamação óssea, causada por infecção bacteriana ou fúngica). Desde então, passou a dividir seu tempo entre a casa e o hospital, em Torres. Na ausência dela, os abusos se repetiam.

- Quando ela me contou, eu não conseguia acreditar. Foram barbaridades. Ele a forçava a ter relação sexual. É revoltante! - contou a mãe.

Relacionamento acabou

No dia em que a filha denunciou o caso, ela estava hospitalizada. Deveria ficar em Torres mais 20 dias, mas cessou o tratamento para proteger a menina. E terminou o relacionamento.

- Polícia não deu proteção pedida

No domingo passado, a tia da vítima, que também morava em Capão, foi até a casa com o caminhão de um amigo para buscar os pertences da família:

- Eu cheguei a ligar para a polícia pedindo para, pelo menos, nos darem proteção, ou chamarem esse homem para depor. Só me disseram que, por enquanto, ele não era nem suspeito. Fui lá cheia de medo, mas as crianças já não tinham roupas para vestir.

Segundo ela, o suspeito estava em Capão da Canoa e, à distância, teria observado a retirada das coisas da casa.


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