Polícia



Mortes

Balanço trágico: + 18% homicídios em 2012

Contagem do DG revela que 590 pessoas já perderam a vida assassinadas

10/07/2012 - 06h29min

Atualizada em: 10/07/2012 - 06h29min


Antônio Roberto da Rocha Laufer é o último caso

Um policial militar da reserva, que saiu de casa dizendo que já voltava, foi a vítima do último homicídio ocorrido no primeiro semestre deste ano. Com a morte de Antônio Roberto da Rocha Laufer, 53 anos, a contagem dos assassinatos que o Diário Gaúcho realiza em 2012 chegou a 590 casos. A velocidade média beira os cem mortos por mês.

No ano passado, junho chegou ao fim com 500 mortes. Ou seja: percebe-se agora um aumento de 18% em relação aos primeiros seis meses do ano passado.

O drama da hora de reconhecê-lo

Para tentar desvendar o que aconteceu com Antônio Roberto da Rocha Laufer na noite daquele sábado, os familiares dele depuseram ontem na 2ª Delegacia de Homicídios da Capital. Contaram que Antônio morava na Lomba do Pinheiro, área elencada pelo governo para receber o projeto RS na Paz, que combate o aumento nos assassinatos. Justo o mesmo bairro em que Antônio morreu.

O PM da reserva saiu de casa na noite de 30 de junho. Pediu que cuidassem do pai dele e disse que já voltaria. Os familiares contam que um homem teria saído com Antônio. Alguém chegou a questionar "tu vai sair com esse cara, tu nem conhece ele?" Antônio teria reafirmado que não se preocupassem: ele voltaria.

Da noite de sábado à manhã de domingo, Fabiano Nunes Laufer, um dos quatro filhos de Antônio, não pregou o olho. Ligavam para o celular dele que chamava até cair. Pela manhã, uma prima viu na internet a notícia de que o PM havia sido morto. Domingo, no plantão do Palácio da Polícia, ainda aguardando para identificar o corpo do pai, Fabiano relutava.

- Tem que ver o corpo, né?! Pode não ser ele.

Mas era.

Antônio havia sido executado pouco antes da meia-noite, quando caminhava na Rua Santo Antônio. Seis tiros de revólver, seguidos dos sons de alguém correndo. Foi isso que os moradores da rua ouviram. Quando chegaram, Antônio já estava morto.

Era a última vítima de assassinato na Capital no primeiro semestre.

Polícia continua sem pistas

Neste momento, os policiais da 2ª Delegacia de Homicídios acreditam que a tese de um crime passional seja a mais fraca. Ainda não descartam as demais, mas já sabem que conforme a família, Antônio não tinha dívidas. Os R$ 2 mil que ele carregava no bolso seriam de uma parte de um precatório recebido pelo governo do Estado.

No entanto, com quem ele saiu de casa e por que estava andando numa região da Lomba do Pinheiro em que não costumava ser visto ainda é um mistério.

Soldado, ele estava na reserva havia mais de dez anos. Segundo a família, o desligamento das atividades na Brigada se deu por conta de problemas de saúde.

Média passa de 2,76 para 3,24

No primeiro semestre de 2011, a média diária de mortes foi de 2,76 (500 casos em 181 dias), segundo a planilha do Diário Gaúcho.

Neste ano, chgou-se a 3,24 (590 casos em 182 dias), o que permite uma projeção de 1.180 assassinatos ao final de dezembro.

No fechamento do ano passado, o balanço contabilizou 1.088 crimes.

Assunto mobilizou governo

Desde setembro passado, a Secretaria de Segurança Pública implementou projeto para tentar conter a crescente onda de homicídios. Em Porto Alegre, o RS na Paz abrangeu quatro bairros mais violentos: Rubem Berta, Santa Teresa, Lomba do Pinheiro e Restinga, os chamados territórios de paz.

Foram destinadas viaturas e patrulhas específicas, assim como um ônibus fixo, que servem como postos móveis para os PMs. Pouca coisa mudou.

Tanto que, em maio deste ano, a Secretaria trouxe 200 PMs do Interior para atuar em Porto Alegre, Alvorada, Viamão e Gravataí. Na Capital, foram divididos entre Rubem Berta e Lomba do Pinheiro. Deu resultado e foi estendida até setembro.

Brigada tem dados de redução

Amanhã, completa-se dois meses do reforço de PMs. Ainda nesta semana, o Diário fará uma comparação de dados deste período com os 60 dias anteriores à ofensiva.

Segundo dados da Brigada Militar, houve redução de 25% no número de homicídios na comparação do bimestre anterior à iniciativa com o período de reforço. Em números absolutos: foram 104 casos contra 77.

As reduções: Alvorada (-32,2%), Gravataí (-36,4%), Porto Alegre (-17,4%) e Viamão (-31,3%). Porém, Cachoeirinha aumentou em 200% - cidade recebeu reforço um mês depois das demais. Incuindo-a, a queda nas mortes foi de 19,6%.

Capital: dias melhores após o verão

Para o titular da 1ª Delegacia de Homicídios do Deic, delegado Cléber dos Santos Lima, a tendência é de que os assassinatos se estabilizem na Capital. A explicação para o aumento de 12,8% na Capital, de acordo com o delegado, estaria em uma misteriosa onda de homicídios nos dois primeiros meses. E mostra-se otimista:

- Foi uma sequência forte e não sabemos exatamente a motivação. Mas a resposta tem sido eficiente. Os territórios da paz estão conseguindo controlar a maior parte dos conflitos, sobretudo do tráfico.

Duas áreas conflagradas

Mais de 60% dos homicídios na Região Metropolitana tiveram como motivação o tráfico ou acertos de contas. A maior parte das vítimas (192) tinha entre 16 e 25 anos. O delegado observa:

- São os jovens que morrem e, cada vez mais, são eles que matam. Essa é a tendência das quadrilhas do tráfico - afirma Cléber.

Os dois principais focos de preocupação dos investigadores na Capital estão na Zona Norte - entre os bairros Mario Quintana e Rubem Berta - e na Zona Leste - entre as vilas Mapa e Quinta do Portal, na Lomba do Pinheiro. São dois territórios da paz.

Viamão: sob a lei do tráfico

O mais preocupante crescimento de homicídios do primeiro semestre aconteceu em Viamão. Foram 53 assassinatos no primeiro semestre - aumento de 112% em relação ao mesmo período do ano passado.

- É uma questão grave, e estamos fazendo prisões. Mas, por enquanto, não vimos diminuição efetiva. Em geral, são crimes relacionados ao tráfico e por motivos fúteis. Eles se matam por R$ 20 - avalia o delegado Carlos Wendt.

Esperança após uma prisão

O município é apontado como uma área de atuação dos Bala na Cara, facção ligada ao tráfico, motivo de, pelo menos, 70% dos crimes. Com o reforço de policiais recebido pela Região Metropolitana no último mês, ao menos a resolução dos crimes evolui. Dos oito homicídios em junho, seis já estariam com autoria determinada.

Um adolescente de 17 anos, apontado como um dos principais matadores da cidade neste ano, foi preso na sexta passada. Mas, para o delegado, isso não significa o fim das mortes violentas:

- É possível que lá na área de atuação dele, na Vila Augusta, dê uma diminuída, mas o tráfico em Viamão é muito esparso.

Alvorada: boas e más notícias

Os números ainda colocam Alvorada só atrás de Porto Alegre na relação de crimes. E o volume cresceu 25% em relação a 2011: foram 60 mortes até junho.

Mas os últimos 50 dias do semestre - quando o município recebeu o reforço de PMs do Interior - demonstraram um alento. Até o começo da operação, ocorria, em média, um homicídio a cada 2,8 dias. Agora, o número caiu para uma morte a cada 3,5 dias.

Apelo por testemunhas

Em junho, foi a vez de a Polícia Civil mudar sua estratégia. A 1ª DP concentra as investigações de homicídios. O desafio lá é quebrar o silêncio de possíveis testemunhas.

- As pessoas têm muito medo de falar. Temem represálias de criminosos que ainda estão na rua, mas quando descobrem que foram presos, perdem o medo - explicou o chefe de investigação Felintho Souza Santos.

Até o início da ação reforçada, por exemplo, a delegacia tinha 70 inquéritos abertos este ano entre homicídios e tentativas de homicídios. Em duas semanas, sete deles estavam resolvidos.

Canoas: vigilância aumentada

A solução encontrada por Canoas para ao menos estabilizar os índices preocupantes de homicídios em 2011 também envolveu o reforço no policiamento. O Bairro Mathias Velho foi estabelecido no final do ano passado como um território da paz. A área ainda concentra a maior parte das mortes de Canoas, mas foi registrado o mesmo número de homicídios neste primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2011.

Raio-x da planilha

A planilha de mortes do Diário Gaúcho faz hoje seu primeiro balanço comparativo de semestres. Nos números abaixo, a comparação de itens entre os primeiros seis meses de 2011 e 2012.

Todas as mortes registradas pelo jornal têm ocorrências em delegacias: são 33 DPs (no total de 19 municípios) que costumam ser consultadas. Glorinha e Barra do Ribeiro não tiveram crimes neste semestre.

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