Estatísticas
Afinal, o que é caso elucidado?
Após divulgação de dados positivos sobre elucidação de crimes contra a vida em nove cidades do Estado, Diário buscou detalhes da rotina de uma delegacia

No dia 3, a Polícia Civil anunciou ter duplicado o índice de esclarecimentos de homicídios e tentativas, comparando o último quadrimestre deste ano com o mesmo período de 2011. Passou de 36% para 71% nas nove cidades mais violentas do Estado. Ou seja: de cada três, agora são dois suspeitos identificados, e não apenas um - índice histórico no Estado.
Para entender o que significa esta eficiência festejada, o Diário ouviu o secretário Airton Michels. Questionado sobre o que seria um "caso encerrado" para a polícia, rechaçou a hipótese de trabalhos incompletos:
- Inquérito fechado é o que possibilite a denúncia. Com identificação correta do suspeito e elementos probatórios concretos. Espero que não estejam nos números casos em que só esteja identificado o apelido do suspeito. Confio na experiência dos delegados.
A força-tarefa nas cidades com mais mortes se desfez. Mas no lugar dos 60 policiais civis que vieram do Interior, o Estado promete escalar policiais recém-formados. E será mantida a ideia de reunir homicídios em DPs específicas.
- Mais gente, a explicação
Titular da Delegacia de Homicídios de Guaíba, o delegado Rafael Soares Pereira resume o motivo do êxito: mais gente.
- Houve especialização e incremento de funcionários, que era o problema número 1 - considera Rafael.
"Nível de impunidade ainda é muito alto"
Responsável pela Secretaria Estadual de Justiça, Airton Michels comenta dados e fala sobre novas medidas:
Diário Gaúcho - É possível aumentar mais os índice de resolução dos homicídios?
Airton Michels - Temos historicamente uma média de 36%. É alto em relação ao país, mas mostra um nível de impunidade ainda muito alto: só um em cada três suspeitos vai à Justiça. Então, estabelecemos os homicídios como prioridade e conseguimos dobrar o índice.
Diário - 71% de resolução é uma meta até o final do ano?
Michels - Não. Em segurança pública é muito temerário estabelecer metas.
Diário - O acréscimo de agentes foi importante. É possível manter a estrutura?
Michels - Com a entrada dos agentes recém-formados, a Região Metropolitana terá uma delegacia dedicada exclusivamente aos homicídios em cada uma das cidades.
Diário - Há prazo para novas delegacias de homicídios?
Michels - Até a metade de novembro, a ideia é transformar DPs já existentes nos quatro Territórios da Paz da Capital e somá-las às duas já existentes. Dependemos de detalhes administrativos.
Diário - Mesmo com aumento na resolução, cresceram os homicídios.
Michels - Mas não no ritmo que vinham crescendo. Isso já é positivo. Mas penso que mais importante do que a repressão é a capacidade de evitar a impunidade, resolvendo crimes.
Alvorada, bom exemplo
Destacado para responder por Alvorada, o delegado Maurício Barison Barcellos apresentou números surpreendentes: 274% de melhoria entre junho e setembro em comparação ao mesmo período do ano passado. Em 2011, das 74 ocorrências, 16% foram esclarecidas. Em 2012, de 89, em 61% o autor do crime é conhecido.
- Logo que chegamos dava nada no papel, tinham medo. Agora, fazem a denúncia e a equipe vai no local na hora, a população ganhou confiança - destaca o delegado.
Os três agentes viraram líderes de equipe e formaram-se quatro times de investigadores:
12 agentes no total.
Como funciona
Depois da Polícia Civil, o caminho é longo:
- Após descobrir o autor de um assassinato, o delegado conclui o inquérito e o remete à Justiça, que o repassa ao Ministério Público.
- O promotor analisa e tem três opções: arquiva o caso, pede novas investigações à Polícia Civil ou oferece denúncia para a Justiça.
- Caso a denúncia seja aceita, vira processo. Se o juiz não aceitar, o caso é arquivado - o MP poderá recorrer da decisão. Se ele aceitar, o suspeito passa a ser réu e pode ir a júri popular.