Polícia



Caso Cristiane

Após um ano de sumiço, nenhuma notícia de Cristiane

Mulher que saiu de casa para buscar a filha, no Bairro Restinga, está desaparecida há 366 dias. Polícia garante estar investigando, mas não tem pistas

29/10/2012 - 07h19min

Atualizada em: 29/10/2012 - 07h19min


José e Eloni: Milhares de horas de angústia

Helicóptero, 160 mil panfletos, 68 mil e-mails, quatro delegados, recompensa de R$ 25 mil e... nada. São 366 dias (8.784 horas) de angústia. Natal, Ano-Novo e aniversário sem uma única notícia de Cristiane Oliveira de Oliveira, 32 anos, que saiu de bicicleta para buscar a filha na escola e, simplesmente, sumiu na Capital. Nunca mais foi vista.

Sábado, completou-se um ano daquela quinta-feira, quando ela deixou a casa em construção no Bairro Lajeado, na Zona Sul, em direção à escola da filha, na Restinga. Depois de tanto tempo, tantas noites sem dormir, Eloni Oliveira, 54 anos, só suporta a ausência da filha à base de remédios.

Visitas semanais à delegacia

- Ela era tudo para mim. Outro dia, meu genro disse que a polícia vai dar o caso por encerrado e me desesperei - conta.

O genro é o bancário Rodrigo Velloso de Freitas, 31 anos. Com medo do que possa ter ocorrido à mulher, ele não permite ser fotografado e deu uma única entrevista no ano. Mas toda semana visita a DP.

- Apesar do meu esforço, o caso continua sem solução - lamenta.

Mas, diferentemente do que ele disse à sogra, a Polícia Civil não pretende encerrar o caso. Pelo contrário: com uma nova equipe de investigação, os policiais estão com as expectativas renovadas.

- O caso não será encerrado - avisa o comissário Mauro Nascimento.

Ajude a encontrar

Quem tiver notícias sobre o paradeiro de Cristiane pode entrar em contato com a Polícia Civil pelos telefones 0800-510-4701, 3288-9866 e 3288-2323.

Pedidos reiterados até ao governador

Em busca de respostas, Rodrigo já disparou 68 mil e-mails a diversas autoridades. Com acesso à lista de endereços eletrônicos de delegados, coroneis da Brigada, chefe de polícia, secretário de Segurança Pública e até do governador, semanalmente ele envia mensagens como a da terça passada, endereçada a Tarso Genro. Veja ao lado:

"Gostaria de lhe dizer que continuo firme no meu propósito de ajudar a Policia Civil Gaúcha no que for necessário para resolver esse caso, inclusive no próximo ano tem concurso para inspetor e se até lá não tivermos uma solução para o desaparecimento de minha esposa, vou ingressar através de concurso na Policia Civil Gaúcha. "Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha". E assim sendo poderei colaborar ainda mais se me for permitido. Volto a lhe pedir desculpas por toda a semana lhe enviar esses e-mails, o senhor é a pessoa mais importante de nosso Estado e possivelmente a mais ocupada também, mas é que tenho que dar uma satisfação primeira a minha filha e depois a minha sogra." Rodrigo Velloso de Freitas

Entenda o caso

Cristiane Oliveira de Oliveira, 32 anos, foi vista pela última vez em 27 de outubro de 2011, quando passou na obra da casa nova da família, no Bairro Lajeado, e seguiria de bicicleta até a Restinga para buscar a filha na escola.

Na obra, encontrou o pedreiro Rodrigo Silva, o último a vê-la. Segundo relato dele aos familiares dela, Cristiane deu banho no cachorro e disse que buscaria a filha.

Cristiane vestia camiseta branca, calça preta e boné laranja. Ela trabalhava numa farmácia (estava de licença havia seis meses por tendinite no pulso direito).

"Acho que ela tá morta"

Rodrigo reúne fichas de suspeitos e não cansa de bater à porta das DPs. Sabe que figura na lista dos suspeitos da polícia e da família, mas acha isso natural:

Diário Gaúcho - Como está o ano?
Rodrigo Velloso de Freitas
- Tive que mudar de casa, de carro, de local de trabalho, a escola da minha filha, tudo pela nossa segurança. Não sabemos quem está por trás disso.

DG - E a menina?
Rodrigo
- Tranquila, mas sinto que preciso dar uma resposta a ela e a minha sogra. Por isso, trabalho 24 horas por dia, oito no banco e as outras em casa, percorrendo delegacias. Incomodo muito a polícia.

DG - O senhor alugou helicóptero. Quanto já gastou?
Rodrigo
- Isso não importa. Vendi carro, me endividei, estou fazendo de tudo. Não descarto a possibilidade de entrar para a polícia, virar policial. Gostei de investigar. Sou realista, acho que ela tá morta. Ninguém some assim. Só tenho que correr atrás para ajudar a polícia.

DG - Mesmo ao saber que esteve na lista de suspeitos?
Rodrigo
- Sim, acho isso natural. No lugar da polícia e da família, eu também pensaria isso. O delegado me mandou fazer DNA. Fiz porque quem não deve, não teme. O que pedirem, faço. Quem mais quer isso resolvido sou eu.

De volta ao começo

Semana passada, o pai, a mãe e uma das cinco irmãs visitaram o local de onde Cristiane teria desaparecido: a casa em construção para onde ela, o marido e a filha Gabriela, oito anos, se mudariam em novembro passado.

Foi o vazio do local que recebeu Eloni e José Oliveira. Na época do sumiço, o pai entrou no mato para procurar a filha.

- Às vezes, a pessoa tonteia e pode cair num valo, né? Mas nada encontrei - diz José.

Os pais têm esperança de achá-la com vida e engolem o choro. A irmã Jéssica, 18 anos, desabafa:

- Dizem que a coisa mais horrível para uma família é a morte. Discordo. É o desaparecimento. Bate um desespero, uma angústia, e a gente só se pergunta o porquê?

85 desaparecem por mês

Um levantamento feito pela 1ª Delegacia de Homicídios e Desaparecidos (DHD) indica que, em média, 85 pessoas, por mês, desaparecem na Capital. Os números foram contabilizados de janeiro para cá. Os casos têm variados perfis: medo, drogas, doença mental e briga familiar.

Pelo menos dez dos 12 meses de investigação do caso Cristiane estiveram a cargo do delegado Cleber Lima:

- Todas as linhas de investigação foram cuidadosamente checadas. Foram feitas interceptações telefônicas, buscas, mas não chegamos a conclusão alguma.

Ele não ousa falar em crime perfeito:

- Não sabemos se houve homicídio ou desaparecimento voluntário, não há o corpo. A investigação segue.


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