Polícia



Assassinato

Luto no rap do Bairro Bom Jesus, na Capital

Um dos líderes do movimento hip hop foi morto a tiros no sábado. Ele teria sido vítima do conflito entre gangues que disputam o domínio do tráfico no bairro

29/10/2012 - 07h11min

Atualizada em: 29/10/2012 - 07h11min


Nego Caio mantinha projetos sociais em duas escolas do bairro

Em vez dos tradicionais encontros com música e valorização da cultura, a tarde de ontem foi silenciosa no Bairro Bom Jesus. Em torno de 400 pessoas foram ao Cemitério Jardim da Paz dar adeus a Antônio Carlos Vasconcelos, o Nego Caio, 47 anos. Um dos principais incentivadores do rap no bairro, ele foi morto a tiros na tarde de sábado, na Rua Panamá, supostamente por ter se "atravessado" no conflito entre os grupos Bala na Cara e Banha, que teriam dividido o território da Vila Mato Sampaio.

As circunstâncias do crime ainda não foram esclarecidas pela polícia. Nego Caio levou pelo menos três tiros, nas costas e no peito, próximo ao campo de futebol da Rua Panamá. Socorrido no Pronto Atendimento do bairro, não resistiu. Outros dois homens, de 40 e 60 anos, foram feridos, mas não correm risco de morte.

Os disparos teriam partido de um homem em uma moto, com uma mulher na carona. Mesmo com o movimento no local, ele teria passado atirando. Pouco tempo antes, afirmam moradores, havia ocorrido outro tiroteio.

- Isso aqui está fora de controle. A polícia só aparece quando tem alguém morto, aí vai embora, e voltam os tiroteios - comenta um morador, que prefere não se identificar.

"Inocentes ficam nas mãos deles"

Testemunhas afirmam que Nego Caio não tinha relação com o conflito dos criminosos. E que não tomava partido. Era morador da Rua A, onde mantinha o Bar do Nego Caio, na parte dominada pelos Bala. Sábado, porém, teria sido visto conversando com membros da outra gangue da vila.

- Infelizmente, acham que são donos disso aqui. E inocentes ficam nas mãos deles - lamentou o morador.

O caso será apurado pela Delegacia de Homicídios do Deic.

Silêncio no Bar do Nego Caio

Morador da Bonja havia pelo menos 30 anos, Nego Caio era pai de quatro filhos e transformou seu bar em um dos principais redutos do rap em Porto Alegre.

- Fazia questão de tocar no bar os sons que nós fazemos aqui no Bom Jesus e em Porto Alegre. O Bar do Nego Caio reunia os nomes do rap nacional sempre que estavam por aqui. Perdemos um ativista verdadeiro. Foi um golpe da violência contra a nossa cultura - lamentou Éder Pires, integrante da banda Bonja S.A.

Para crianças, uma perda

A influência de Nego Caio na Bonja já havia ganhado espaço até mesmo na educação. Ele mantinha projetos de hip hop com as crianças em pelo menos duas escolas do bairro. Nas tardes de domingo, tradicionalmente, o Bar do Nego Caio se transformava para o Domingão do Rap da Bom Jesus. Ontem, não. Quem é militante do movimento no bairro se vestiu de luto.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias