Polícia



Porto Alegre

No corredor dos roubos de carros

Entre a área central e a saída da cidade, crime disparou no eixo formado entre os bairros São Geraldo e Auxiliadora. Média é de quase três casos por dia em outubro

23/10/2012 - 07h24min

Atualizada em: 23/10/2012 - 07h24min


Moradora teme os ataques

Desde o começo do mês, o instalador de antenas Fábio Roberto da Silveira, 37 anos, se desdobra para, pelo menos, minimizar seu prejuízo. Conseguiu apoio de um amigo do mesmo ramo e, em parceria com ele, continua fazendo a média de quatro instalações por dia, mas ganha um terço do que poderia.

É que, no dia 10, Fábio entrou para uma estatística que tem tirado o sossego da Zona Norte da Capital. Enquanto fazia uma instalação na Avenida Ceará, Bairro São Geraldo, teve o Uno Mille branco, placas ISA-6733, roubado.

- Só depois que levaram o meu carro, os moradores vieram me contar que ali tem quase um roubo por dia - contou.

Ataque na hora do cigarrinho

O Bairro São Geraldo e os vizinhos Floresta, Auxiliadora, Moinhos de Vento, Navegantes e Farrapos fazem parte do perigoso corredor dos roubos de carro da Capital. Com até 400 mil pessoas circulando todos os dias, o eixo é um prato cheio para a bandidagem. Foram 226 roubos registrados desde agosto. Uma média de quase três por dia.

Até ontem, a área da 3ª DP já repetia a média de setembro: 1,86 caso por dia. Na área da 4ª DP, outubro também ficou mais arriscado para os cidadãos. Nos dois locais, a média cresceu 50% em relação a setembro.

Enquanto instalava uma antena, às 20h, um auxiliar de Fábio foi até o carro guardar ferramentas. Antes de voltar, resolveu fumar um cigarro ao lado do veículo. Virou alvo de um bandido armado com uma pistola e um revólver. Foram-se as ferramentas, o carro e os documentos.

- Antigamente, era comum usar chave-mixa para abrir carros estacionados. Hoje, não pensam duas vezes antes de colocar uma arma na cabeça da vítima - disse o titular da 3ª DP, delegado Marcos Machado.

Em busca do mapa

A reação da polícia está em fase de planejamento. Um grupo de delegados da Zona Norte formula um banco de dados com detalhes e a forma de agir dos criminosos. Enquanto isso, algumas ações já dão resultado.

Na área da 3ª DP, a recuperação de veículos tem ocorrido com mais frequência. Foram 34 desde agosto. Mas nem sempre há prisões.

- Estamos mapeando os locais onde os carros ficam em "quarentena", até os bandidos se certificarem de que não há rastreador - explicou o delegado Marcos Machado.

Ele garante que há três grupos na mira:

- Uma resposta importante foi a ação da semana passada nos desmanches.

Família "premiada" pelos ladrões

Sair de casa exige um esquema de guerra para uma família que mora na Avenida Nova York, no Bairro Auxiliadora. Quando alguém pretende sair de carro, pede auxílio para que alguém monitore a vizinhança, se não há ninguém suspeito. Só então abre a garagem. E o mesmo vale para a volta.

- Antes de estacionar, dou duas voltas na quadra. Aí buzino. Então, minha filha e minha sobrinha dão a última olhada antes de abrir a garagem - conta Gislaine Melo, 53 anos.

Tamanho cuidado não evitou que, aproveitando a porta da garagem estragada, bandidos furtassem o estepe.

Rastreador salvou funcionário público

Precaução é palavra de ordem na família. Nos últimos meses, cinco parentes foram vítimas de assalto. O último "premiado" foi o funcionário público Henry Dürks, 41 anos. Ele se viu na mira de uma arma por volta das 19h30min, quando parou sua caminhonete ix35 na Avenida Nova York.

- Enquanto eu registrava o assalto na DP, um casal tinha sido roubado a uma quadra de lá, uma hora depois. Às 23h, outro senhor foi roubado. E em todo esse tempo não vimos um brigadiano aqui - desabafou.

A precaução de Henry, pelo menos, o recompensou. O carro tinha rastreador e foi achado no Bairro Boa Vista.

Peregrinação em vão

Desesperado para reaver o carro, comprado em março, Fábio não demorou muito para perceber o corredor do crime. Logo depois do roubo, em um táxi, tentou seguir o bandido. Viu-o fugir pela Avenida Farrapos, mas o perdeu de vista. Durante dois dias percorreu o caminho que a própria polícia aponta como o mais comum em casos de desmanche de carros.

- Varri aquela Zona Norte, passei em ferros-velhos, percorri Alvorada. Foram dois dias incansáveis e em vão - lamentou.

Cada local tem seu horário

Em vão também foram as câmeras da EPTC e do Ciosp, que monitoram a Avenida Farrapos e deveriam auxiliar nas buscas da Brigada Militar.

- Temos nos esforçado para ampliar o policiamento nos lugares de pico e de maior incidência dos crimes. Infelizmente, assim que abafamos de um lado, surgem roubos em outro - disse o comandante do 9º BPM, tenente-coronel Jorge Maya.

No Bairro São Geraldo, são comuns os ataques por volta das 8h, quando há grande volume de trabalhadores chegando. Já no Auxiliadora, o horário mais frequente é o começo da noite, quando as pessoas chegam aos bares ou às suas casas.

Os números

3ª DP (Auxiliadora, Floresta, Independência, Moinhos de Vento e parte de São Geraldo):

127 roubos de veículos desde o início de agosto

Média diária de 1,5 roubo no período

Em outubro, a média está em 1,8 roubo/dia

4ª DP (Navegantes, Farrapos, Humaitá, ilhas e parte de São Geraldo):

99 roubos de veículos desde o início de agosto

Média diária de 1,2 roubo no período

Em outubro, a média está em 1,6 roubo/dia

O perfil do corredor do roubo:

As ruas mais visadas: avenidas Amazonas, Ceará, Berlim, Nova York e Benjamin Constant e ruas Marquês do Pombal e Santa Rita.

Horários mais visados: entre 7h e 8h no Bairro São Geraldo e das 18h às 20h no Bairro Auxiliadora.

Conforme a Brigada Militar, até 400 mil pessoas circulam pela região todos os dias.


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