Os homicídios registrados nos primeiros dias de novembro elevam a Região Metropolitana a um triste patamar: 956 mortes em 2012. O assassinato do coronel reformado do Exército Júlio Miguel Molinas Dias, 78 anos, no dia 1º, no Bairro Chácara das Pedras, na Capital, deixa o alerta: idosos tendem a reagir.

A hipótese de que Júlio tenha reagido a uma tentativa de assalto (a sua casa ou ao seu carro) é investigada pela 14ª DP. Marcas de dedos deixadas por suspeitos no C4 da vítima e em um Gol que teria sido usado pelos bandidos estão sendo comparadas com as cadastradas no banco de dados da polícia.

"Mais apegados à parte material"

Assim como o coronel, outros 19 idosos foram mortos no ano. E pelo menos nove deles em assaltos.

- O idoso é uma vítima em potencial. São mais vulneráveis e parecem apresentar menos perigo - observa o diretor da Delegacia Regional de Porto Alegre, delegado Cleber Ferreira, que está à frente da Delegacia do Idoso da Capital.

A idade, a saúde debilitada e a falta de agilidade acabam tornando as pessoas com 60 ou mais anos presas mais fáceis para criminosos. E a postura de não entregar o patrimônio complica o quadro.

- Eles são mais apegados à parte material e acabam reagindo. Querem defender o que é seu e acabam morrendo - avalia o delegado.

Hora de usar a sabedoria

Mas há também idosos mortos dentro de casa por familiares ou tentando proteger um ente querido.

- Os autores de delitos contra idosos geralmente são pessoas próximas a eles. Desde os maus-tratos até a morte - frisa Cleber Ferreira.

A orientação da polícia é não reagir.

- O idoso tem vivência e precisa ter a sabedoria de ser tolerante. Se estiver sofrendo algum mal, deve procurar as autoridades e jamais reagir. O bem material se busca, mas a vida, não - resume Cleber.

Até o começo de novembro de 2011, a polícia havia registrado 22 homicídios de idosos.

Alguns casos deste ano

6 de janeiro - Heitor Ambos da Silveira, 65 anos, Guaíba
Dois adolescentes de 15 e 16 anos são apontados pela Polícia Civil pela morte. Os dois teriam sido contratados para roubar o idoso. Acompanhados de outro adolescente, atiraram em Heitor, que ficou hospitalizado durante seis dias antes de morrer. Eles procuravam R$ 4 mil que o comerciante teria em casa. Foram apreendidos em abril.

15 de janeiro - Getúlio Oliveira Machado, 61 anos, Porto Alegre
A vítima e o sobrinho de 22 anos foram mortos na Zona Sul. A suspeita da polícia é de que os atiradores tenham invadido a casa em busca do sobrinho, André Gustavo Machado Silva. Ao encontrarem Getúlio, acabaram matando-o também.

6 de março - Clementino Ribeiro, 63 anos, Alvorada
A equipe da 1ª DP prendeu, em maio, Fernando Ribeiro de Matos, 18 anos, neto de Clementino, que confessou ter matado para roubar R$ 300.

25 de abril - Miguel Ortiz, 66 anos, Porto Alegre
Em junho, dois homens foram presos suspeitos pelo crime. Teriam roubado uma tevê da casa dele e o matado enforcado com cadarço de tênis.

22 de maio - Ari Schuck, 60 anos, Cachoeirinha
Namorada dele, Odete Bortolini, 54 anos, admitiu à Polícia Civil ser a mandante do crime. Dois jovens, de 19 e 20 anos, foram presos e confessaram terem executado o idoso em troca de R$ 10 mil.

26 de agosto - Floriano de Souza e Silva, 62 anos, Guaíba
O idoso trabalhava como vigilante na mesma rua do mercado no qual fazia compras quando uma dupla invadiu o local. Ele teria reagido e atirado em Alex Vieira Costa, 26 anos, que caiu morto. O segundo assaltante, Peterson Fontoura Figueiredo Borges, 22 anos, estava nos fundos e o atingiu de surpresa pelas costas. Foi preso.

14 de julho - Rosalino dos Santos, 61 anos, Novo Hamburgo
Morto com seis tiros dentro de casa.