Polícia



Tráfico infantil

Uma nova luz para o desaparecimento de Gabriel

Família do menino desaparecido em Cachoeirinha revela que mulher, investigada na CPI do Tráfico de Pessoas na Câmara Federal, pode estar envolvida em sumiço

08/11/2012 - 07h19min

Atualizada em: 08/11/2012 - 07h19min


Simara Guimarães, mãe de Gabriel, espera que CPI do Tráfico de Pessoas traga respostas

A investigação sobre as suspeitas de envolvimento da gaúcha Carmem Kieckhofer Topschall, 47 anos, numa possível rede de tráfico de crianças, reavivou a esperança na família de Gabriel Guimarães Nogueira de encontrá-lo. Ele sumiu aos cinco anos, em 1999, da casa da mãe, em Cachoeirinha. Na época, Carmem era vizinha de familiares de Gabriel, no Passo do Hilário, em Gravataí. Esse fato pode levar a polícia a reabrir o caso.

A novidade veio logo na primeira aparição de Carmem em reportagens do Fantástico, da Rede Globo, que apuravam supostas adoções irregulares na Bahia. De Igrejinha, o irmão mais velho de Gabriel, Felipe, hoje aos 23 anos, avisou a mãe:

- Essa mulher era vizinha da vó (paterna), mãe, lá em Gravataí.

"Por que não desconfiar?"

Simara Guimarães, 42 anos, surpreendeu-se com o fato de o filho manter viva uma lembrança de 13 anos atrás. Apesar do medo de se iludir, ela resume:

- Por que não desconfiar? Quando os meninos iam para lá (Gravataí), conviviam com os tios do meu ex-marido, que eram vizinhos dela. Mas eu nunca tive contato com essa Carmem.

Ela tem certeza de que Gabriel está vivo - hoje, com 18 anos. A hipótese da participação de Carmem no sumiço reforça a desconfiança da mãe:

- Sempre achei que foi alguém conhecido que levou ele embora. Era um menino muito esperto. Sabia onde a gente morava e com quem andar. Não teria sido levado assim, tão quietinho, por alguém desconhecido.

Idas constantes ao mesmo bairro

Ela e o ex-marido Nilton Jorge Nogueira, 47 anos, chegaram a viver em Gravataí, onde até então morava Carmem. Deixaram o Passo do Hilário quando Gabriel fez oito meses. E, depois disso, eram constantes as visitas dos meninos à casa da avó paterna, no bairro situado perto da ERS-020.

- Nunca tive nada contra a Carmem. Mas essas histórias me fazem desconfiar dela - revelou o pai.

Carmem conhecia o único suspeito

Em 1999, a investigação pouco evoluiu na 1ª DP de Cachoeirinha. Na época, as principais suspeitas levaram os investigadores ao Bairro Passo do Hilário, em Gravataí. Dois meses depois do desaparecimento, chegaram a capturar um homem conhecido como Jorginho, então com 24 anos, como principal suspeito. Morador do Passo do Hilário, foi preso em Tramandaí, mas pouco tempo depois liberado por falta de provas.

Testemunhas apontam que Carmem (hoje moradora de Pojuca, na Bahia) tinha contato com Jorginho. Boatos indicavam o envio de Gabriel para a Europa. Uma das desconfianças da Justiça baiana é de que uma das conexões do casal Topschall esteja no continente europeu.

Agora, investigadores da 1ª DP de Cachoeirinha e do Deca prometem revirar os arquivos e apurar elos entre a gaúcha sob suspeita na Bahia e o sumiço de Gabriel.

Famílias tinham relação próxima

A tia do pai de Gabriel, Marilena Cencio, 60 anos, era vizinha de rua da família de Carmem, em Gravataí, e garante que era comum as duas famílias conviverem.

- O Gabriel não vinha tanto aqui. Eu nunca tive algo para dizer contra ela (Carmem), mas só Deus sabe, né? - afirmou Marilena.

Procurado pela reportagem do Diário Gaúcho, o advogado Maurício Vasconcelos, que defende Carmem na Bahia, disse que ela só se manifestará em juízo sobre qualquer assunto que se refira ao seu passado.

Avó lutou, mas morreu sem reencontrar o neto

Quem mais investigou o caso de Gabriel foi sua avó materna. Mas Judite Mendes faleceu em agosto, sem reencontrar o neto. Foi ela quem desconfiou de Jorginho, ex-namorado de uma parente de Gabriel - ouvida pela polícia na época, a mulher chegou a contar três versões diferentes para o desaparecimento, mas não figurou entre os suspeitos.

Para a avó, a presença constante deste homem na casa onde ficavam as crianças nunca foi bem vista.

- Ela (ex de Jorginho) cuidava dos filhos da minha irmã, que moram no mesmo terreno. Naquela noite de sexta para sábado, ela dormiu aqui e deveria levar o Gabriel para a avó paterna de manhã, quando eu já estava trabalhando - contou Simara.

Seguidamente, Jorginho visitava a casa da família, sempre com balas e pirulitos para os pequenos. Uma das suspeitas é de que ele tenha se aproveitado da confiança de Gabriel para levá-lo a mando de uma rede de tráfico de crianças.

Caso é destaque no Diário

A investigação na qual Carmem Topschall aparece como elo entre quadrilhas de tráfico de crianças e famílias que perdem a guarda dos filhos é destaque no Diário Gaúcho desde o dia 27 de outubro.

Com exclusividade, o jornal encontrou empresas nas quais ela aparece como proprietária e que, na verdade, nunca funcionaram - para a CPI, servem apenas para lavar o dinheiro ganho com a venda de crianças.

Natural de Gravataí, ela é suspeita de crimes cometidos no sertão baiano e no interior de São Paulo.

"Vamos investigar o passado dela"

Depois de não comparecer a duas convocações da CPI do Tráfico de Pessoas na Câmara dos Deputados, nas últimas duas semanas, Carmem Topschall teve sua prisão preventiva solicitada e a determinação da sua "convocação coercitiva" (deve ser levada mesmo que à força), a ser cumprida pela Polícia Federal até Brasília.

De acordo com o presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy, do Pará, os interesses da comissão vão muito além dos casos revelados na Bahia.

- Conhecer o passado dessa mulher será fundamental. E vamos investigar isso porque, naqueles casos concretos da Bahia, ela é peça-chave - afirmou ontem, por telefone, ao Diário Gaúcho.

Mulher está em casa, diz advogado

Segundo o deputado, a CPI ainda não tem dados concretos sobre tráfico de crianças. Mesmo assim, ele assegurou que a suspeita existe e ganha cada vez mais força.

- O depoimento dela é fundamental. Precisamos evitar que ela fuja ou saia do país - alertou o deputado federal.

O advogado Maurício Vasconcelos garante que sua cliente continua na própria residência, em Pojuca, Região Metropolitana de Salvador. Segundo ele, até agora, ela não recebeu qualquer intimação formal da Justiça ou da Câmara dos Deputados. Por isso não teria ido à CPI.

Como foi o desaparecimento:

No dia 13 de novembro de 1999, Gabriel Guimarães Nogueira, com cinco anos, deveria ter sido levado da casa da mãe, no Parque Brasília, em Cachoeirinha, por uma tia para passar o feriado na casa da avó paterna, no Bairro Passo do Hilário, em Gravataí.

A tia disse que, ao acordar, não viu a criança e achou que a mãe (ou outro parente) havia passado na casa, pego Gabriel e o levado. Como a mãe tinha pouco contato com a ex-sogra, demorou a saber do ocorrido.

O sumiço do menino só foi percebido e registrado na polícia no dia 16 de novembro daquele ano.

A investigação policial evoluiu pouco. Em 13 anos, não foi encontrado nenhum corpo ou pista concreta de que o menino esteja vivo - hoje, teria 18 anos.

Informações: telefones 3463-4499, 9844-3490 e 8197-2548. Denúncias anônimas podem ser feitas também pelo 197, da Polícia Civil, de qualquer lugar do Estado.

O caso Carmem

Na década de 1990, Carmem Kieckhofer Topschall, que morava no Bairro Passo do Hilário, em Gravataí, se mudou para a Alemanha, onde casou-se com o alemão Bernhard Topschall.

Neste período, fez diversas viagens internacionais. Uma delas, em 1999, ano do desaparecimento de Gabriel.

Em 2002, já de volta em definitivo e casada, Carmem teria entrado na Justiça pedindo a guarda de duas meninas, filhas de um parente seu de Gravataí. Queria levá-las para a Bahia, onde montaria um frigorífico, mas sua tentativa teria sido frustrada.

Carmem é investigada pela Justiça baiana como principal intermediária de adoções suspeitas. Seria peça-chave na retirada de crianças de famílias pobres, repassadas para o interior de São Paulo.


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