Diário Não Esquece
Quem matou Roginho?
Jovem foi morto no dia 20 de novembro no Centro da Capital. Circunstâncias do crime ainda não estão esclarecidas
O ferreiro aposentado Manoel Santiago, 60 anos, mal fala. Com a dor de quem perdeu o caçula de seis filhos, limita-se a andar em volta da mesa em que estão a mulher e um dos filhos e a olhar as fotos de Roginho.
Roger Ferreira Santiago, o Roginho, 20 anos, era o ala de dois times de futsal de amigos. Era quem trazia o pão do café da tarde para a mãe, Ezi do Carmo Pacheco Ferreira, 54 anos. Era o amigo do Cristiano e do Douglas. Era ferreiro em uma obra na Zona Norte da Capital, e às 5h30min saía de casa, no Bairro Santo Operário, em Canoas para trabalhar. Era o rapaz que, na manhã de 20 de novembro, esfaqueado no peito, pediu ajuda a seguranças do Camelódromo.
- Chega 17h e a gente olha pra rua, esperando que ele venha caminhando com o saco de pães nas mãos. Mas não vem mais. Eu coloco a mesa, todos sentam, e a cadeira dele fica vazia. Esse vazio parece tão gigante - diz Ezi, com os olhos já inundados.
Dona Ezi, agora, quer respostas. Quer saber o que aconteceu com o caçula. Como fazia sempre, às 5h40min daquela manhã, Roginho pegou o ônibus e desceu no Centro de Canoas. Lá, antes de entrar no trem para Porto Alegre, tomou café da manhã. Por hábito, ao chegar na Estação Mercado, seguiu a pé até o Camelódromo, pela Avenida Voluntários da Pátria.
- A gente não entende por que, naquele dia, ele entrou no terminal de ônibus, já ferido, pela Salgado Filho. Não faz sentido - diz o irmão, Emanoel, 25 anos.
"Nunca faltou a um dia de trabalho. Era exemplar"
Emanoel recebeu o primeiro telefonema (ainda não se sabe de quem) avisando sobre a morte do irmão. Ferreiro como o pai, Roginho estava feliz. Trabalhava no segundo canteiro de obras de uma grande construtora da Capital. A mãe lembra do guri ser sempre responsável:
- Ele mandava os amigos embora porque tinha que levantar cedo no outro dia. Nunca faltou a um dia de trabalho. Era exemplar.
Amigos do Boca Juniors RS e do Juventude F.C. sentem falta do camisa 8. Do garoto que tinha medo de ir a Porto Alegre por causa dos assaltos. Do rapaz que economizou para comprar uma moto e desistiu por medo que ela fosse roubada. Do filho que sonhava em trabalhar no Canadá para melhorar as condições da família, e que faz seu Manoel ficar olhando de novo cada uma das fotos de família, na sala, sem entender o porquê da tragédia.
Os policiais contam com um vídeo de câmeras de segurança do Camelódromo. As imagens mostram Roginho ferido, cambaleando. Ele passa por uma banca de frutas e cai sentado junto à escadaria, onde conversa com um segurança.
- Ele veio pela Júlio de Castilhos e pediu ajuda. Disse que tinha sido ferido num assalto - contou o segurança.
O assassinato foi o de número 1.002 este ano nas 19 principais cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos.
Polícia espera depoimentos
As investigações começaram na semana passada.
- A ocorrência foi registrada pela Homicídios. Eles ouviram algumas pessoas e entenderam que se trata de latrocínio (roubo com morte), por isso nos remeteram - explicou o titular da 17ª DP, delegado Hilton Muller.
- Ali no entorno da Julio de Castilhos há câmeras da EPTC, vamos verificar se também flagraram algo - continuou.
Sem muitas pistas, os policiais esperam por denúncias para ajudar na identificação do assassino.
- Estou depositando toda a minha esperança nesses policiais. Já entreguei o trabalho deles nas mãos de Deus. Eles vão conseguir me explicar o que aconteceu e por que mataram o meu Roginho - suplica Ezi.