É quando as portas do comércio de Alvorada se abrem, às 9h, que proprietários e funcionários das óticas e joalherias ao longo da Avenida Presidente Getúlio Vargas, que cruza a cidade, sentem mais medo. A justificativa está nos assaltos frequentes, exatamente, no início da manhã. Os dois mais recentes foram ontem e sábado.

A tática tem sido sempre a mesma: os assaltantes chegam em bando, mostram as armas e rendem funcionários e clientes. Em seguida, recolhem joias, relógios e óculos. Ontem, uma joalheria do Bairro Bela Vista foi a vítima. Três bandidos renderam os trabalhadores logo após a loja abrir. A ação durou menos de dez minutos. O carro usado pelo grupo, um Levina, foi abandonado na Rua Santo André, a cerca de 1km dali.

Câmeras filmaram o assalto

No sábado, o alvo foi uma joalheria com 22 anos de existência no Centro. Segundo o dono, que pediu para não ser identificado por temer represálias, três bandidos entraram às 9h10min. Quatro clientes e cinco funcionários foram rendidos pelo trio, que usava óculos escuros. Em cinco minutos, levaram joias e relógios. Câmeras da loja gravaram o roubo.

- Não nos agrediram, mas o trauma ficou. A primeira hora de trabalho é a pior, pois os bandidos estão acostumados a assaltar entre 9h e 10h. Não há policiamento no Centro neste horário - afirma o proprietário.

Segundo a vítima, foi o quinto assalto nos últimos três anos. Desmotivado, ele pensa em abandonar o ramo e fechar as três lojas da família. E anuncia: vai parar de trabalhar com joias:

- Vou seguir, mas apenas com óculos. Desta vez, quase nem registrei mais este assalto. Perco meu tempo, pois posso ser mais útil trabalhando para recuperar as perdas do que parado, registrando mais uma ocorrência - desabafou.

"Como ficam as lojas?"

Olhos atentos à porta e a cada novo cliente que entra na loja. Assim têm vivido um funcionário de uma das mais tradicionais óticas de Alvorada. Vítima de assalto há quase dois anos, quando teve uma arma apontada para a cabeça, ele teme nova tentativa.

- Apesar de termos segurança particular, não inibe os assaltantes. Amanhã, posso ser a próxima vítima. O pior é não ver brigadianos circulando no Centro antes das 10h. Então, como ficam as lojas que abrem às 9h? - questionou, revoltado.

Presas fáceis para bandidos

Segundo a titular da 3ª DP de Alvorada, delegada Graciela Foresti, pelo menos outros dois assaltos a joalherias foram registrados na cidade no segundo semestre de 2012. Mas o temor dos comerciantes de Alvorada já se tornou rotina no Interior do Estado.

Foram registrados 150 assaltos a joalherias e óticas nos últimos cinco anos no Rio Grande do Sul, 44 deles no ano passado. Se comparado a 2010, quando foram registrados 18 assaltos no total, o saldo do ano passado é 144% maior.

Uma das explicações é que estes comércios são menos protegidos que bancos, e os produtos roubados podem ser revendidos ou derretidos para fabricação de novas joias.

Brigada quer reunião com comerciantes

Comandante do 24º BPM (Alvorada), o major Marcelo Couto de Souza confirma que a Brigada tem uma patrulha exclusiva para a área comercial, que começa a atuar nas ruas por volta das 9h30min.

- Nas reuniões com o segmento comercial, jamais foi pedido para que este horário fosse mudado. Mas estou sempre aberto a mudanças. É claro que podemos iniciar mais cedo, se for necessário - garantiu.

O comandante se disse um facilitador e afirmou que pretende reestabelecer o diálogo com os comerciantes para montar novas estratégias do policiamento ostensivo.

- É claro que nossa área de atuação não se limita apenas às joalherias. Tenho todo o comércio e os bancos para proteger no Centro de Alvorada. Precisamos entrar num consenso sobre os horários e as estratégias que utilizaremos - concluiu.