BBB do crime
Faltam policiais por trás das câmeras de monitoramento da Capital
Estrutura precária da Brigada Militar ficou escancarada com crime bárbaro no Centro. Linchamento foi acompanhado por uma das 162 câmeras da cidade, mas resposta veio tarde
Exatos 2min47seg. Foi o tempo entre um morador de rua começar a ser espancado até a morte, na madrugada de segunda-feira, no Centro de Porto Alegre, e a primeira viatura da Brigada aparecer na calçada do Mercado Público. Tudo foi filmado por uma câmera de vigilância do Centro, mas a tragédia poderia ter sido evitada se mais PMs estivessem na sala de monitoramento.
O crime mostra a fragilidade do sistema que deveria garantir resposta rápida da Brigada Militar.
Precisa-se de 20, mas só há quatro
Segundo o chefe do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), major Gilberto da Silva Viegas, entre três e quatro PMs, em turnos de seis horas, visualizam 162 câmeras na Capital - 58 da segurança pública e 104 da prefeitura. Cabe a eles acionar viaturas em situações suspeitas.
- Seriam necessários 20 PMs por turno. Há defasagem de PMs em toda a Brigada, não só aqui - pondera o major.
O crime na Rua Siqueira Campos foi captado por uma das câmeras da EPTC, transmitidas simultaneamente ao Ciosp, mas controladas (zoom e giros) pela EPTC e Guarda Civil.
- Priorizamos as 58 câmeras próprias, não tem como fazer diferente - diz o major.
Prioridade era o socorro
Quando um PM notou as agressões, o ataque já havia começado. Ele deu o alerta, mas o tempo não foi suficiente. De acordo com o major André Luís Córdova, que responde pelo 9º BPM, foram 40 segundos entre o acionamento de uma viatura e a chegada ao local:
- Quando os PMs chegaram, o morador de rua ainda estava vivo. Então, a prioridade era socorrê-lo. Até fizemos buscas, mas não encontramos os envolvidos na agressão.
Vítima ainda sem identificação
A 2ª DHPP recebeu ontem as imagens do crime e iniciou o trabalho para identificar os agressores. Um deles, de 50 anos, foi preso logo após o crime - alegou que não conhecia os três homens e a mulher que o ajudaram.
O corpo ainda estava sem identificação ontem no DML. Segundo os peritos, a vítima era branca e aparentava 30 anos. Tinha a letra "A" tatuada no ombro esquerdo e a letra "E", com estrelinhas, no ombro direito.
De acordo com a versão do único suspeito preso, o morador de rua teria tentado roubá-lo no Terminal Parobé. Assustado, ele teria gritado por socorro e o grupo de jovens, que supostamente saía de uma casa noturna no Centro, resolveu ajudá-lo. E, com pedradas na cabeça, mataram o mendigo.
Violência não percebida no posto da BM
Conforme análise dos investigadores, a perseguição partiu das proximidades da Praça XV. Os criminosos teriam passado praticamente em frente ao posto da Brigada Militar, mas não cruzaram com qualquer PM.
- Aquele é um horário problemático no Centro. Temos pelo menos 12 pontos com festas e, logo depois das 4h, mobilizamos o efetivo para controlar a saída. São muito comuns incidentes nesses locais - aponta o major André Luís Córdova.
Segundo ele, todas as equipes estavam trabalhando em viaturas pelas ruas da região no momento do assassinato do morador de rua.
Há um ano, desfecho diferente
Há um ano, as câmeras foram fundamentais para a prisão de um assaltante na Rua Marechal Floriano, no Centro. As imagens foram captadas por uma das câmeras do Ciosp, no começo da madrugada.
Menos de dois minutos depois de o monitoramento mostrar o assaltante derrubar um rapaz com um soco no rosto, uma viatura do 9º BPM chegou ao local e prendeu o suspeito.
Até março do ano passado, 55 câmeras eram controladas pela segurança pública na Capital. Agora, são 58 de um total de 162.
Saiba mais
O minuto a minuto do crime
4h15min43seg - A câmera mostra o morador de rua correndo e cinco pessoas em sua perseguição chegando à calçada do Mercado Público.
4h15min48seg - O grupo passa a agredir o rapaz a socos e pontapés.
4h17min06seg - Depois de 1min18seg, os agressores deixam o morador de rua imóvel, caído no chão, e saem a passos lentos.
4h18min30seg - Somente 1min24seg depois de terminado o linchamento, chega ao local a primeira viatura da Brigada.
Tempo de resposta
Conforme o Ciosp, levou 40 segundos desde o alerta até a chegada da viatura ao local. Significa que, quando PMs foram alertados, os criminosos já nem estavam próximos do corpo.
O Ciosp
A cada turno, no máximo quatro PMs controlam as câmeras. Em média, cada um teria 40 câmeras para visualizar.
A cidade tem 162 pontos monitorados, 58 deles controlados pela Brigada e o restante, pela prefeitura.
Na sala do Ciosp, há dois monitores de 42 polegadas. Neles pode-se visualizar, simultaneamente, até nove câmeras. Há duas telas de 17 polegadas (quatro câmeras cada) e uma de 14 polegadas (duas câmeras).
Ontem à tarde, três policiais controlavam as imagens. Não mais do que 15 câmeras eram visualizadas simultaneamente. As câmeras permitem giro de 360° e zoom. As 104 da prefeitura, a Brigada só acompanha as imagens. Para controlá-las, precisa telefonar para o órgão e pedir.
Assista às imagens da agressão: