Polícia



Pistola taser

Garçom morre com choque da BM no dia do casamento

Julio Cezar pode ter sido a primeira vítima da pistola taser no Estado. Sábado, ele surtou e, para contê-lo, PMs usaram a arma. Para familiares e testemunhas, houve abuso

04/02/2013 - 07h30min

Atualizada em: 04/02/2013 - 07h30min


Vítima foi enterrada com o terno que usaria para casar

No dia em que casaria, o garçom Julio Cezar Leal Vaz, 35 anos, acabou morto, na manhã de sábado, em Viamão. E a família dele acusa PMs, armados com uma pistola de choque (taser), de serem os responsáveis.

Segundo a mulher de Julio, Josiane Vieira Menezes, 34 anos, no sábado o casal registraria no Cartório Civil a união existente havia dez anos. Porém, o garçom, que tinha problemas de depressão e usava remédios, teria sofrido um surto devido à emoção do momento.

- Estávamos saindo para o cartório quando ele tirou o terno. Perguntei o que tinha, e ele não respondeu. Saiu para a rua só de bombachas, sem camisa e descalço. Chovia muito naquele momento - recorda Josiane.

A pé e fora de si, Julio saiu de casa sem rumo. Preocupados, familiares acionaram a Brigada e o Samu. Há dois anos, contam parentes, o garçom tinha passado por crise idêntica e sido socorrido pela BM.

- Ele não podia se emocionar muito que entrava em surto. Mas era de bom coração e trabalhador - assegura o sobrinho José Augusto Xavier Vaz, 28 anos.

Julio percorreu cerca de dois quilômetros até a Praça da Matriz, no Centro. Lá, segundo testemunhas, pegou um botijão de gás de 13kg, que estava em um caminhão, e o jogou em um carro.

Garçom teria atacado PMs

Quando a viatura da Brigada chegou, o garçom arremessou um tijolo contra os policiais.

- Os policiais deram o choque mais de uma vez e, quando ele caiu, o algemaram e continuaram dando choque. Só tiraram a algema quando os colegas de trabalho do Julio se aproximaram e o reconheceram - revelou o motoboy.

"Deram o choque mais de uma vez"

À distância, o motoboy Charles Costa Marins, 26 anos, que trabalha na lancheria onde Julio era funcionário, viu toda a ação, sem saber que se tratava de um colega.

- Os policiais deram o choque mais de uma vez e, quando ele caiu, o algemaram e continuaram dando choque. Só tiraram a algema quando nossos colegas se aproximaram e o reconheceram - conta o motoboy, que estava na frente da lancheria, a 100m do local.

Ontem, durante o velório no Cemitério Parque Saint Hilaire, José Augusto lamentava a morte precoce do tio:

- Ele não podia ter morrido desta forma. Na quinta-feira, eu vi meu tio feliz, comprando o terno para o casamento. Infelizmente, o terno acabou sendo usado para o enterro.

Caso será investigado

Socorrido pela ambulância do Samu, o garçom morreu no Hospital de Viamão. No laudo preliminar, a causa da morte está indeterminada.

A própria Brigada Militar registrou o caso na DPPA de Alvorada, que enviará inquérito para a 1ª DP de Viamão, responsável pela investigação.

Conforme o comandante da 1ª Companhia do 18º BPM (Viamão), capitão Emerson Rama Quadros, o uso da taser foi dentro da técnica.

O que diz a Brigada Militar

"O homem estava incontrolável. Havia ingerido muitos remédios e, ainda, tinha comido uma comigo-ninguém-pode (planta venenosa). Estava só de bombachas, sem camisa e descalço na rua, na chuva. O policial aplicou apenas dois disparos. O primeiro não fez efeito e o homem arrancou o dardo do tórax. O PM recarregou e disparou uma segunda vez. O homem caiu. Em seguida, ele ficou com um lado todo roxo. Teve uma parada cardíaca. Mas não se pode afirmar que foi a taser. Vamos abrir um inquérito policial militar para apurar o que ocorreu".

Comandante da 1ª Cia. do 18º BPM, capitão Emerson Rama Quadros.


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