Polícia



Atraso bem-vindo

Morte número 100 chega mais tarde em 2013

Em média, são quase três assassinato por dia em 19 principais cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos

06/02/2013 - 07h20min

Atualizada em: 06/02/2013 - 07h20min


Ex-marido de Geneci Batista é a morte cem de 2013

Exatamente uma semana depois do registrado no ano passado, a contagem de mortes em 2013 atingiu a marca das cem primeiras vítimas nas 19 principais cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos. Ontem, mais quatro casos engrossaram a estatística organizada pelo Diário Gaúcho. Em média, são quase três assassinatos por dia na região. Uma queda de 20% em relação ao observado na arrancada do ano passado. Mas ainda acima do que foi registrado em 2011, quando aconteciam, em média, 2,3 homicídios por dia. Se a frequência de crimes for mantida, 2013 deve repetir a marca de mais de mil pessoas assassinadas. Janeiro de 2012 foi o mês mais violento do último ano, apontado pelas autoridades como um período atípico.

O centésimo homicídio de 2013 ainda está envolto em dúvidas. Ontem, a polícia tomou os primeiros depoimentos e o delegado Eduardo Moraes, da 2ª DP de Sapucaia do Sul, voltou ao local onde Walter Roberto Andrade Ramos, 46 anos, morreu com dois tiros de pistola (perna e barriga) e atingido por um disparo da taser, por policiais militares que deveriam tê-lo contido durante surto psicótico na tarde de segunda. Para a família, o ex-vigilante foi executado pelos brigadianos.

- Já vimos tantos casos de negociação da polícia, mas o que fizeram com o Walter não foi isso. Chegaram atirando nele - disse a ex-mulher, Geneci Batista, 42 anos.

Um vizinho, de 35 anos, que depôs ontem, concorda:

- Ele estava surtado e quando viu os brigadianos, se trancou em casa. Os policiais não ficaram mais de dez minutos na porta. Ele só gritava que nada tinha feito. Arrombaram a porta e atiraram no homem.

Para outro vizinho, de 47 anos, a ação policial foi correta:

- Era a única forma de fazer o sujeito parar. Ele estava louco, ameaçando todos aqui na rua.

Walter morava sozinho em uma casa simples, de madeira, na Rua Eli Camargo Alves, Bairro Colina Verde, em Sapucaia. Havia pelo menos dois anos convivia com transtorno bipolar, que o forçou a abandonar a profissão de vigilante. Segundo testemunhas, tinha parado de tomar os medicamentos e, pelo menos desde a manhã de segunda, estaria em surto.

Homem estava trancado em casa

Corria de um lado a outro na rua. De acordo com a BM, moradores acionaram o 190 alegando que ele havia ameaçado pessoas com foice e machadinha.

Ao notar a chegada dos policiais, Walter teria trancado a porta.

- Ele tinha medo da polícia porque quando teve o primeiro surto, há uns dois anos, foi agredido por PMs e ficou três meses preso. Diziam que o Walter tinha ameaçado eles - explicou Geneci.

O caso de segunda foi registrado como tentativa de homicídio contra os PMs, que alegam que a ação foi necessária para preservar a vida deles.

Ação foi correta, garante comando

Os armamentos usados na ação foram recolhidos para perícia. De acordo com o batalhão, o entendimento é de que os policiais envolvidos agiram de acordo com as normas para esse tipo de situação.

- Houve cerca de uma hora de negociação para que o cidadão se entregasse. Mas ele continuava violento e arremessando ferramentas contra o negociador. A integridade do servidor foi colocada em risco - afirmou o subcomandante do batalhão, capitão Rafael Luft.

- Primeiro, foi feito disparo não letal, mas o homem ficou mais agressivo. Foi feito então um disparo na perna e ele seguiu a caminho do oficial que negociava. Então veio o segundo tiro e ele foi prontamente socorrido - continuou.

Do lado de fora da casa, uma equipe do Samu, acionada pela família, aguardava o desfecho do caso para encaminhar Walter à internação.

Duas cápsulas foram recolhidas pela Brigada e mais uma foi encontrada no pátio, ontem pela manhã. A Polícia Civil analisou a cena do crime ontem.

- Por enquanto, temos duas versões que precisam ser apuradas, com cuidado - resumiu o delegado Eduardo Moraes.

Aumento na Capital

A tendência é de queda nos homicídios em relação ao ano anterior em toda a região, mas Porto Alegre contraria a regra. Responde por 47 dos 104 assassinatos registrados até agora. Um aumento de 20% em relação ao ano passado - 39 casos. Para o diretor da Divisão de Homicídios, delegado Cristiano Reschke, uma estatística ainda sem resposta.

- De maneira geral, a criminalidade não mudou o seu perfil em relação ao ano passado. Mas ainda é muito cedo para fazermos qualquer tipo de análise dos homicídios - explicou.

O delegado comanda a implantação das quatro novas delegacias especializadas em homicídios em Porto Alegre, que dividiram as investigações dos crimes por região.

"Estamos em fase de implantação"

Segundo ele, um trabalho que trará respostas a médio e longo prazo.

- É um trabalho que tende a dar bons resultados. A redução da criminalidade virá na medida em que as investigações evoluírem e conseguirmos mapear os crimes, com as prisões dos responsáveis. Estamos em fase de implantação do novo serviço - argumentou.

Quadro:

Em 2011: Cem mortes em 42 dias: média de 2,38

Em 2012: Cem mortes em 28 dias: média de 3,57

Em 2013: Cem mortes em 35 dias: média de 2,85

Neste ano

Homens: 94
Mulheres: 6

Ranking

Capital: 47
Canoas: 11
Novo Hamburgo: 9
Viamão: 8
Gravataí: 8

101 foi em São Leo

Uma morte diante de uma fábrica de cerâmica quebrou a calmaria em São Leopoldo, ontem. Foram dois casos este ano, contra 13 em 2012. Câmeras de segurança auxiliam a Delegacia de Homicídios a identificar suspeitos.

José Ferreira, 52 anos, levou diversos disparos. Seu colega Vilson dos Santos Cavalheiro, 34 anos, também foi atingido e, até ontem, permanecia em estado gravíssimo no Hospital Centenário. Um rapaz de 22 anos tomou um tiro, mas não corre risco. A polícia não descarta latrocínio (roubo com morte), mas acredita que tenha havido desavença envolvendo José.

Outros casos

102 - Era macabra a cena encontrada em um beco da Rua Itati, Bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, na manhã de ontem. Moisés Borges Ferraz, 38 anos, estava desfigurado. Havia sido morto e empalado com um cabo de vassoura. Teve ainda o crânio esmagado a pedradas. O crime teria sido cometido durante a madrugada, mas a polícia ainda não tem suspeitos. Moisés teria antecedentes criminais por furto, mas tinha registros também por ameaças e lesão corporal, relacionados à Lei Maria da Penha.

103/104 - Por volta das 7h de ontem, a cerca de 200m do caso 102, dois homens foram encontrados mortos a tiros, elevando para nove o número de vítimas este ano em Novo Hamburgo - no mesmo período, em 2012, foram 11. Apesar da proximidade, os investigadores não acreditam que as mortes de Tiago da Silva Natel, o Gato Félix, 28 anos, e Marciano Theobald Leal, o Coxa, 27 anos, tenham relação com o crime anterior. Eles estavam numa moto na Avenida da Divisa, Bairro Santo Afonso, quando foram atacados.


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