Por R$ 60, o estudante Vinícius da Rosa de Oliveira, 25 anos, foi morto com uma facada no peito. Por um gole de cerveja, Maximiliano Ferreira Machado, 32 anos, levou um disparo fatal. O comerciante Luis Carlos Rodrigues Gomes, 61 anos, foi morto a tiros em seu bar, por assaltantes.

Desarmados, os três inocentes vítimas de latrocínio (roubo com morte) em janeiro exemplificam a nova dor de cabeça da polícia: os predadores. É assim que o delegado Hilton Müller, que investiga a morte de Vinícius, define os assaltantes que não hesitam em assassinar para roubar.

- Mais inocentes foram mortos

O primeiro mês do ano deveria ser de alívio para as autoridades policiais. Houve queda de 25% no número de assassinatos nas 19 maiores cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos, em relação a janeiro passado, conforme o levantamento do Diário Gaúcho.

Mas a constatação é que, embora os homicídios, no total, tenham diminuído, a violência contra inocentes aumentou. Foram oito mortos em assaltos nos primeiros 31 dias do ano, quase o triplo do que aconteceu em 2012.

- Estou assustado, porque o conselho para não reagir para não ser vítima da inexperiência do criminoso, talvez já não se aplique. Estamos lidando agora com bandidos frios. Qualquer obstáculo que o impeça de roubar, ele derruba - define o delegado.

Criminosos enfrentam até mesmo policiais

As imagens gravadas por câmeras de vigilância de um posto de combustíveis na
RS-040, terça, no Bairro Cohab, em Viamão, não escondem a frieza de três assassinos. Eles caminhavam a passos firmes em direção a um açougue, e no caminho se depararam com o sargento da reserva da Brigada Militar, Elias Soares Lindeman, 55 anos, que estacionava o carro.

Todos os anos de prática e treinamento no policiamento foram inúteis. Os bandidos, provavelmente ao reconhecê-lo como policial, atiraram. Elias foi atingido no peito.
Se fossem criminosos inexperientes, provavelmente fugiriam com o carro da vítima. Mas, depois de roubarem a pistola usada em serviço pelo sargento e o seu revólver de uso pessoal, assaltaram o açougue. Só então fugiram no Uno do PM reformado.

- Agente é morto a tiros

O destemor até mesmo em relação a policiais já havia ficado evidente no dia 22, quando o recém- formado na Polícia Civil Michel Vieira, 23 anos, reagiu a tiros para proteger a lancheria da mãe, no Bairro Jardim Carvalho. Os dois acabaram mortos - assim como o ladrão.

Em ambos os casos, a resposta policial foi imediata, com os suspeitos presos e a confirmação do perfil mais preocupante dos criminosos. Todos tinham antecedentes. No caso de Viamão, dois estavam foragidos.

 "Vai se repetir. Sem dúvida"

O assassinato de Vinícius, no Centro da Capital, representa o ápice cruel de um "predador". O suspeito, de 31 anos, está identificado e a polícia aguarda a ordem judicial de prisão. Mais uma.

A vida criminosa dele começou aos 14 anos, quando foi flagrado por furto pela primeira vez. Aos 18, na Zona Leste da Capital, voltou a ser preso por furto. No ano seguinte, foi pego ao furtar no Centro. Em 2002, foi indiciado por roubo e extorsão na região do Bairro Teresópolis.

- Infelizmente, é como uma profissão, em que ele foi subindo na hierarquia - diz o delegado Hilton Müller.

Em 2010, o suspeito foi flagrado com uma arma, no Centro. Preso e solto no mesmo ano, voltou aos roubos. Desde março do ano passado, está em liberdade condicional. Na noite de sábado passado, acertou uma estocada fatal no peito do estudante de Engenharia.

- Pelo menos no Centro, vai se repetir (latrocínio). Não tenho dúvida - aponta o delegado.

BM INTENSIFICA ABORDAGENS

- Nós vamos continuar fazendo o nosso trabalho de abordagens, prisões e apreensões de armas. Mas a realidade é que, cada vez mais, parece que os criminosos estão perdendo o medo da cadeia.

A constatação é do comandante do 18º BPM, de Viamão, tenente-coronel José Luis Ribeiro Paz, que admite ainda não ter um planejamento diferenciado para tentar evitar novos roubos com mortes. Segundo ele, em 2012 o batalhão esteve entre os líderes em apreensões de armas e prisões na Região Metropolitana. A meta era frear os homicídios.

- Vamos aprimorar o policiamento ostensivo para evitar o crime -ressalta o oficial.
Estratégia semelhante é prometida pelo responsável pelo Comando de Policiamento da Capital, coronel Alfeu Freitas Moreira. Depois das mortes do inspetor Michel Vieira e da sua mãe, Odete Vieira, ele confirmou:

- A ordem é abordar, abordar e abordar sempre. Mesmo que tenhamos que prender o mesmo criminoso dezenas de vezes.

Como estão os casos

- 2/1: Ricardo Brasil, 68 anos, reagiu ao roubo do seu carro na frente de casa, no Bairro Camaquã, em Porto Alegre. Ex-funcionário da extinta Caixa Estadual, prestava serviço para a Susepe. A 6ª DP ainda não tem pistas dos assassinos.
- 3/1: Luis Carlos Rodrigues Gomes,
61 anos, foi morto a tiros no assalto ao seu bar, na RS-040, Bairro Morro Grande, em Viamão. Conforme o chefe de investigações Adalmiro Alano, a 1ª DP recebeu há pouco tempo a ocorrência. Diligências já foram marcadas para a próxima semana. Não há suspeitos identificados.
- 9/1: Rogério José Graff, 56 anos, reagiu a assalto no Bairro Camboim, em Sapucaia do Sul. Segundo o delegado Eduardo Moares, já há uma investigação para apontar os três culpados.
- 22/1: Michel Vieira, 23 anos, e Odete Barcelos Vieira, 54 anos, morreram baleados no roubo à lancheria da família, no Bairro Jardim Carvalho, em Porto Alegre. Um dos suspeitos morreu no confronto. O outro foi preso.
- 25/1: Maximiliano Ferreira Machado, 32 anos, foi morto com um tiro no peito durante um arrastão no Bairro Coronel Nassuca, em Guaíba. Três jovens e um adolescente foram detidos.
- 26/1: Vinícius da Rosa de Oliveira, 25 anos, foi esfaqueado no autoatendimento do Itaú, no Centro de Porto Alegre. Polícia identificou o suspeito e solicitou a sua prisão preventiva.
- 29/1: Elias Soares Lindeman, 55 anos, foi morto com tiros no peito por trio que assaltaria um açougue no Bairro Cohab, em Viamão. Os três foram presos pela Brigada Militar.