Polícia



Assassinatos

Execução é a marca da morte 200 em 2013

Canoas registra, este ano, 50% mais mortes do que em 2012. Entre as 19 principais cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos, só tem menos crimes que a Capital

12/03/2013 - 07h30min

Atualizada em: 12/03/2013 - 07h30min


Jovem foi morto à tiros no Bairro Harmonia, em Canoas

"Isso aqui está brabo. A droga está comendo solta e ninguém faz nada. Vamos continuar enterrando nossos filhos."

Foi entre lágrimas que Maria da Glória Ferreira, 52 anos, falou sobre o Bairro Harmonia, em Canoas, onde mora há oito meses com a família, saída do Bairro Rio Branco. Na noite de domingo, a violência do local - considerado desde 2011 um Território da Paz - a atingiu em cheio. Uma mulher encontrou um celular caído na calçada da Rua José Veríssimo, há três quadras de onde mora, descobriu o dono e deu o recado a Maria: o filho dela havia sido morto a tiros diante do bar que frequentava.

A morte de João Luis Ferreira dos Santos, 22 anos, marca a chegada aos 200 assassinatos nas 19 principais cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos no ano, segundo levantamento do Diário Gaúcho. Mesmo sendo o município que mais recebeu investimentos em segurança pública desde 2012, foram 24 mortes - média de uma a cada três dias. Comparado com o mesmo período do ano passado (16 casos), houve aumento de 50%.

"Pensei até que era foguete"

Às 19h de domingo, crianças ainda brincavam nas calçadas e, na Lancheria Queiroz, pelo menos 15 clientes, além do próprio João Luis, se acumulavam entre o balcão e a calçada.

- Eu estava no balcão e ouvi os estouros. Pensei até que era foguete, porque tinha acabado há pouco tempo o jogo do Inter. Quando vi, o guri estava caído na calçada - diz o proprietário do bar, Valter Queiroz, 81 anos.

Tragédia poderia ter sido maior

Pelo menos dois homens teriam se aproximado em baixa velocidade do bar e, sem descer do Chevette cinza, um deles apontou a arma para João, que estava sentado na calçada. Disparou vários tiros, e dois o atingiram. O medo, no entanto, foi generalizado.

- Sorte que ontem (domingo) não abri a parte do lanche. Aqui sempre ficam as crianças, olhando televisão - comenta o comerciante.

A área ao lado da fachada do bar ficou com as marcas do crime. Ontem, Valter ainda se impressionava com os quatro tiros que atingiram as paredes.

Agredido antes de ser alvejado

João Luis havia chegado minutos antes ao bar para pedir ajuda. Estava com o olho roxo, e Valter Queiroz providenciou gelo.

- Fomos todos ajudar o guri. Ele nunca teve problemas aqui. Se esse pessoal aparecesse pouco antes, a tragédia seria maior. Estávamos entre uns cinco ao redor do Joãozinho - lembra o comerciante.

João contou a amigos que havia sido agredido por quatro homens em uma madeireira próxima. Alegou que havia "mexido" com a mulher de um deles. Mas, para a Delegacia de Homicídios de Canoas, a maior possibilidade é de que o crime tenha relação com o tráfico.

No mês passado, João ficou internado para desintoxicação durante 20 dias. Era usuário de drogas e, segundo a mãe, fazia bicos na construção civil.

Governo quer tecnologia

Criado no final de 2011, o Território da Paz na região Mathias Velho/Harmonia está longe de representar uma área controlada. Foram dez homicídios desde o começo do ano, quase o dobro dos seis registrados no mesmo período de 2012. De acordo com o secretário municipal da Segurança, Guilherme Pacífico, o plano está em fase de implementação.

- Na próxima semana, o prefeito Jairo Jorge vai lançar o edital da compra de equipamentos tecnológicos para monitoramento de áudio (tiros) e vídeo e outros instrumentos a serem instalados no Mathias - garante Pacífico, que recém assumiu o cargo.

Ele lembra que Canoas teve a criação das delegacias de Roubos de Veículos, Mulher, Criança e Adolescente e Homicídios:

- Em breve vão começar a dar resultado. No começo de 2012, tínhamos índice de resolução de 16% dos homicídios. Hoje, 55%.

Pelo levantamento do Diário, 70% das mortes na cidade têm relação com o tráfico.

"Não há lentidão"

No Bairro Guajuviras, considerado exemplo de investimentos sociais e de segurança desde a implantação do primeiro Território da Paz, o detector de tiros parece já não surtir o mesmo efeito. Se até 10 de março de 2012 ocorreram apenas dois homicídios no bairro, este ano já foram sete - cinco a tiros.

- Não há lentidão na resposta ou ineficiência no sistema. Infelizmente, a tendência da criminalidade é de se adaptar . Encontram rotas rápidas de fuga e se aproveitam da comunidade para ter cobertura - diz o comandante do 15º BPM, major Daniel Duarte Machado.

A aposta, segundo ele, é no policiamento comunitário. A partir dessa semana, 34 PMs serão treinados para esse serviço, com 11 viaturas.

Queda no Vale, aumento na Capital

Às 21h30min de domingo, moradores da Rua Aquibadan, no Bairro Roselândia, em Novo Hamburgo, encontraram o corpo de Lucian Rodrigo da Silva Gil, 27 anos. Ele havia sido morto com três tiros em um provável acerto de contas. Comum no ano passado, a cena em 2013 se tornou rara no Vale do Sinos. Este ano, somados, Novo Hamburgo e São Leopoldo registraram 22 assassinatos. Menos da metade dos 46 ocorridos no mesmo período do ano passado.

Na Capital, a mudança na estrutura de investigação dos homicídios ainda não fez efeito. Comparado com o mesmo período de 2012, houve aumento de 11% nos assassinatos em 2013 - 88 casos.

Os números:

A média diária de homicídios nas 19 principais cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos é de 2,89.

É a mesma de 6 de fevereiro, quando a contagem chegou a cem homicídios.

A marca de 200 assassinatos, no ano passado, foi alcançada em 5 de março. A média era de 3,11 homicídios por dia.

As mais violentas cidades:

Porto Alegre - 88
Canoas - 24
Gravataí - 16
Viamão - 16
Novo Hamburgo - 12

Veja o mapa das mortes deste ano de 2013:


Ver Ranking dos homicídios na Região Metropolitana e Vale do Sinos 2013 num mapa maior


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