Polícia



Na base da porrada

PMs espancam comerciante e o expulsam de casa no Bairro Rubem Berta, em Porto Alegre

Sargento de 45 anos teria comprado irregularmente lote cedido à vítima pelo Demhab

18/03/2013 - 07h20min

Atualizada em: 18/03/2013 - 07h20min


Ex-mulher de comerciante teria vendido casa para policial militar

A casa do comerciante Adriano Silveira Machado, 37 anos, estava cheia no começo da noite de quinta. Depois de quase uma semana tenso em virtude de ameaças feitas por um sargento de 45 anos, do 20º BPM, ele acreditava que o pior já tinha passado. Mas, as 19h30min, uma viatura com dois PMs fardados - e o sargento à paisana - parou bruscamente diante da casa na qual Adriano mantinha também um armazém, na Avenida Plínio Kroeff, no Porto Seco, Bairro Rubem Berta.

- Eles já foram perguntando de quem era o carro na garagem que, é claro, era meu. Mandaram meus filhos todos saírem da casa para me deixarem sozinho. Eu tive medo que me matassem - lembra o comerciante.

Enquanto vizinhos, assustados com a truculência da ação, se acumulavam ao redor do armazém, aos gritos as cinco crianças e os três adultos que estavam na casa foram retirados pelos PMs. Os policiais armados não se contentaram com o despejo forçado. Teriam empurrado Adriano para dentro da casa que habita há seis anos e, com as portas fechadas, o agredido a socos e pontapés.

Pancadaria foi um recado

A agressão foi um recado para ele deixar a casa cedida pelo Demhab que, irregularmente, teria sido comprada pelo sargento em fevereiro.

Ainda mancando e com hematomas, desde sexta o comerciante procura casas de parentes e amigos para ficar, sem desgrudar o olho de portas e janelas.

Exame comprova: houve agressão

- Já vi eles revistando meus parentes aqui na região. Não sei do que são capazes - disse.

Ele conta que até tentou denunciar a agressão na delegacia mais próxima na noite de quinta. Mas assegura que, para sua surpresa, o sargento estava na porta da 22ª DP e impediu sua entrada. A solução foi o Palácio da Polícia. Os exames no DML comprovaram os ferimentos.

Comando investiga

Ainda na sexta-feira, o comando do 20º BPM abriu inquérito policial militar (IPM). De acordo com o major Alexandre Beiser, não havia qualquer ocorrência que justificasse a presença de viatura naquele ponto da Avenida Plínio Kroeff por volta das 19h30min de quinta.

- A informação que temos é de que esse sargento se utilizou da estrutura da Brigada para tratar de desavença particular - admite o comandante do batalhão.

O caso já é apurado pela Corregedoria da Brigada. Depois da primeira ameaça, feita em 7 de março, Adriano relatou a conduta do sargento, até então empregado nas funções de policiamento do 20º BPM. Segundo o major Beiser, o PM foi afastado do trabalho nas ruas.

Ameaças dias antes

O ataque teria sido a segunda "visita" do PM ao comerciante. Uma semana antes, ele esteve no local e, em tom ameaçador, entregou a Adriano um contrato de compra e venda do lote, firmado com a ex-mulher do comerciante.

- Me apavorei, porque foi um terreno cedido para mim, quando eu ainda morava sozinho. Se nem eu poderia vender, como ela fez isso? - questiona.

Uma certidão do Demhab confirma a cedência do lote e a autorização para Adriano manter ali um comércio, em 2007. Para que o lote fosse repassado a alguém, só com ordem do próprio Demhab.

Durante três anos, até setembro do ano passado, Adriano morou com uma companheira. Com a separação, ela teria argumentado ter direito à propriedade e, sem que Adriano soubesse, a vendeu ao PM. No contrato de compra e venda entregue pelo policial ao comerciante, consta a transação por R$ 10 mil, incluindo a entrega de uma casa em Viamão como troca pelo terreno onde está o armazém.

Passado complicado

Em julho de 2004, o mesmo PM suspeito pelas agressões e pela compra irregular de um lote cedido pelo Demhab na Vila Morada do Sol foi apontado como o responsável pelo atropelamento de Eliane Viegas, 45 anos, na Avenida Farrapos. Depois de 40 dias em coma, ela morreu.

Seis anos depois, o Estado foi condenado a indenizar a família da vítima em R$ 150 mil.

Na época, ainda como soldado, o policial servia no 9º BPM. O processo comprovou que ele dirigia a viatura em alta velocidade e sem as sirenes acionadas. Detalhe: estava com a carteira de habilitação vencida desde 1999. Ainda assim, até sexta, já como sargento, era mantido no policiamento de rua na Zona Norte.


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