Migração do crime
Soldados do tráfico mudam para o roubo de veículos
Lucro rápido obtido nesse tipo de crime tem atraído os chamados "aviãozinhos"
Se você nunca teve um carro roubado ou furtado certamente terá uma história de um amigo, conhecido ou familiar para contar. Em 2012, a cada 53 minutos, um motorista teve seu carro levado por criminosos na Capital. Ou seja, 27 roubos por dia. Este ano, até 3 de março, foram 1.893 casos, elevando a média para 31 por dia.
Além disso, o titular da Delegacia de Roubo e Furto de Veículos, Juliano Ferreira, aponta outro dado preocupante: o lucro rápido obtido nesse tipo de crime tem atraído para o roubo de carros também os soldados do tráfico.
"Novatos" invadem as ruas
O lucro alto e rápido obtido pelos ladrões é uma das explicações para o aumento do roubo de veículos. A grana estaria atraindo criminosos inexperientes no ramo, como aviõezinhos (ou vapozeiros, quem pega a droga com o traficante e entrega ao usuário) e seguranças de bocas de fumo. Nessas funções, os criminosos faturam de R$ 100 a R$ 200 por dia. Ao levar um carro roubado a um receptador, o bandido recebe de R$ 800 a R$ 2 mil pelo veículo.
- Pegamos um receptador que contou ter pago ao ladrão R$ 2 mil por uma L200, e R$ 1,5 mil por cada um dos outros carros: um Sandero, um Focus e um Palio. Dá R$ 6,5 mil. E foram roubados em menos de uma semana - contou Juliano.
Armados, mas inexperientes
O delegado alerta para o fato de que o latrocínio (roubo com morte) tende a aumentar. Isso porque os "novatos" estão geralmente armados, mas, como não têm prática no roubo, se assustam facilmente e atiram.
Foi o que ocorreu no caso de Luane Custódio Lucas, 22 anos, morta numa tentativa de roubo de carro na noite de 11 de março, na Rua São Luiz, no Bairro Santana.
- Pedimos a carteira e ele (o namorado de Luana) fez um movimento e estourou, disparou (a arma) - contou Ivan Paulo Martins Junior, 26 anos, suspeito de ser o autor do tiro que matou a garota e feriu o namorado dela.
- O cara não sabe manusear a arma, ou se assusta fácil com a reação da vítima. O cenário é preocupante - destacou Juliano.
Pelo levantamento do Diário Gaúcho, dos 14 latrocínios na Região Metropolitana, este ano, sete foram em roubos ou tentativas de roubo de veículos.
De olho no receptador
Um outro motivo apontado pelo delegado para o aumento nos roubos e furtos de veículos é o abrandamento da legislação para os receptadores. Em julho de 2011, uma mudança no Código de Processo Penal determinou que crimes com pena inferior a quatro anos sejam afiançáveis, caso em que a receptação se enquadra. O suspeito apanhado com um carro roubado ou furtado paga fiança e dificilmente fica preso.
Para manter presos os receptadores, o delegado Juliano adota uma outra interpretação para o crime: ele considera que o receptador é coautor do roubo.
- Se não tiver quem compra, quem recepta, quem encomenda, não há o roubo. O receptador fomenta o crime e deve ser responsabilizado por isso.
Somadas, as penas de receptação e roubo ultrapassam os quatro anos, portanto, não há fiança. Desde que assumiu a delegacia, no início de março, Juliano já autuou 12 pessoas por receptação e coautoria no roubo. A resposta do Judiciário tem sido positiva.
Vistorias em garagens, oficinas e ferros-velhos
- Todos os flagrantes feitos desta forma foram convertidos em prisões preventivas - diz.
Desmanches e ferro-velhos devem ser os primeiros a sentir a mudança de tática da Delegacia de Roubo e Furto de Veículos.
- Além disso, eles são alvos estáticos, diferente dos assaltantes - explicou Juliano, avisando que, além de desmanches e ferro-velhos, a equipe vai vistoriar estacionamentos e oficinas.
Números
3.627 veículos foram furtados e 6.289 roubados na Capital em 2012.