Vale do Sinos
Violência torna Lomba Grande um bairro com medo
Comunidade na área rural de Novo Hamburgo está apreensiva com o aumento de roubos à mão armada. Criminalidade já mudou rotina da região
A tranquilidade dos moradores do Bairro Lomba Grande, na área rural de Novo Hamburgo, está ameaçada. O cenário de casas de cerca baixa, sem grades nas janelas e de portas abertas está mudando. No comércio, já há quem trabalhe de porta fechada, reflexo dos assaltos ocorridos no bairro em janeiro e fevereiro.
A região é famosa por abrigar sítios e restaurantes. A maioria dos 15 mil moradores vive do turismo rural e do pequeno comércio. Desde janeiro, a rotina do bairro mudou.
Assaltos na porta de casa
- Até nas reuniões da associação de moradores o pessoal fica receoso de vir, deixar a casa, os filhos. Temem que o assalto aconteça na volta para casa - diz a diretora da Associação de Moradores da Lomba Grande (Amolomba), Mariza Schaefer Scherer, 37 anos.
Em 2013, foram nove ataques, todos à mão armada, sempre quando alguém chegava ou saía de sua propriedade. O mais recente ocorreu no dia 3 de março: o dono de um restaurante foi abordado quando chegava em casa. O roubo aconteceu um dia depois de os moradores fecharem a principal rua do bairro em protesto, pedindo mais policiamento.
- Os vizinhos estão com medo. Não querem nem falar muito. Os bandidos entram na casa, sabem das conversas que as vítimas tiveram durante a semana e pegam o que tiver - contou Mariza.
Na manhã de ontem, pelo menos três viaturas da BM circulavam pelas ruas do bairro. A dúvida dos moradores é: elas vão ficar?
Polícia já identificou suspeitos
O assalto ao dono de um restaurante no dia 3 já é dado como esclarecido pela Polícia Civil.
- Já recuperamos os três carros roubados no ataque à casa dele e temos suspeitos identificados - contou o titular da 4ª DP de Novo Hamburgo, delegado Cleomar Marangoni.
Ele avisa que a distrital, distante 10km do centrinho de Lomba Grande, é a única das quatro DPs da cidade que registra ocorrências no plantão, justo para atender a população do bairro.
Por isso, diz o delegado, não há desculpa para os moradores não fazerem os registros de ocorrências.
Ocorrência sem registro
Um dos primeiros comerciantes a ser assaltado esse ano na Lomba Grande, Laércio Müller, 25 anos, não conseguiu registrar o fato.
- Eu tinha saído da loja de material de construção e deixei minha mulher no caixa. Foi aí que o cara entrou e levou o dinheiro. A 4ª DP fica longe, então fui direto no postinho da Brigada Militar para registrar e o PM me disse que não faziam esses registros - contou Laércio.
Depois dele, outros dez comerciantes do bairro foram assaltados. Em geral, por dois homens em uma moto que entram no comércio ainda de capacete e fogem.
- Aqui tem saída para seis cidades: Taquara, Parobé, Campo Bom, São Leopoldo, Gravataí e Sapucaia. Ou seja, várias rotas de fuga. Nunca teve assim tão perigoso - alertou Mariza.
Brigada reforça a vigilância
Depois de uma reunião com moradores, na segunda-feira passada, o comandante do 3º BPM, tenente-coronel Claudio Rieger, decidiu incrementar o policiamento em horários e locais específicos. Nas 24 horas do dia uma viatura fica disponível junto ao posto da BM, no centrinho de Lomba Grande. Em horários considerados mais perigosos, o policiamento será reforçado com outras equipes e barreiras.
- É uma localidade com muitos acessos, faz limite com seis cidades. Temos mandado equipes para fazer barreiras lá - diz Claudio.
Além disso, a Brigada Militar tem a intenção de criar um patrulha rural, mas para isso é necessário a aquisição de um veículo apropriado e incremento de pessoal, o que vai acontecer em abril, com a formatura dos novos PMs.
Quanto ao registro de ocorrências, o comandante lembra que os brigadianos podem registrar só crimes de menor potencial ofensivo. O roubo não se enquadra nesse caso, é preciso ir a uma DP.