De olho nos inferninhos
Brigada tenta resolver descontrole no Centro
Objetivo das autoridades de segurança é reproduzir na área central de Porto Alegre, onde sete pessoas morreram este ano, o modelo adotado no Bairro Cidade Baixa
Já é regra no 9º BPM, que guarnece o Centro de Porto Alegre. A partir das 3h30min, a prioridade máxima é deslocada para as abordagens nos arredores dos "inferninhos", sobretudo na área entre as ruas Marechal Floriano Peixoto e Riachuelo, onde, na madrugada de sexta-feira, um homem foi morto e outros dois, baleados.
É o primeiro passo para a solução que as autoridades planejam para a violência crescente na região. Neste ano, já ocorreram sete homicídios no Centro.
Cidade Baixa é o modelo
A meta é usar como exemplo o que foi feito no Bairro Cidade Baixa. Lá, a partir de reuniões entre representantes dos moradores e dos bares, foram estabelecidos horários de funcionamento, controle do barulho e outras medidas de segurança. Quem garantiu o cumprimento do ajuste foram a Brigada, a Smic e a Smam.
- O problema não vai se resolver só com o policiamento. Nós ficamos submetidos à legislação, que permite certas distorções para o funcionamento das casas noturnas na região. É ruim para os moradores, mas não podemos simplesmente fechar as casas - explica o comandante do batalhão, major André Luis Córdova.
Prefeitura já foi alertada
O diálogo, porém, ainda não tem data para começar. A ideia é manter reuniões no próximo mês.
- É quando teremos fôlego para tratar do assunto com a importância que ele merece. Por enquanto, estamos centrando forças no controle dos planos contra incêndio e alvarás das casas noturnas - explica o secretário municipal de Indústria e Comércio, Humberto Goulart.
Em janeiro, o comando do 9º BPM enviou ofício ao município relatando o descontrole nos arredores dos "inferninhos".
Seis casas a menos
Na última semana, a ação do grupo de trabalho liderado pela Smic para fiscalizar os planos contra incêndios em casas noturnas fechou seis estabelecimentos entre a Rua Duque de Caxias e a Avenida Júlio de Castilhos. De acordo com o secretário Humberto Goulart, a expectativa é de que ao menos a frequência de público diminua nas próximas noites.
- Não resolve o problema, que é muito maior, mas ameniza - sustenta.
Segundo ele, até o momento a Smic age seguindo demandas diretas. Em janeiro, depois de três homicídios na região, a Brigada solicitou ao órgão municipal o fechamento de uma das casas. Foi atendida. O secretário aguarda um relatório sobre o tumulto da sexta passada.
Associação pede fechamento
Presidente da Associação dos Moradores do Centro Histórico, Paulo Guarnieri pretende, nos próximos dias, entregar à Smic mais um ofício relatando os problemas causados pelas casas noturnas da região - seria o terceiro, em dez anos.
- A posição da comunidade é pelo fechamento, pois, no nosso entender, essas casas não podem conviver em um local residencial. Tem de ter um espaço próprio para eles - argumenta.
Paulo conta que foram feitos pelo menos dois abaixo-assinados (com milhares de assinaturas) pedindo ações do poder público. E inúmeras reuniões com Brigada, EPTC e Smic. Nenhuma, porém, surtiu grande efeito.
- Luta comunitária é sempre assim, quando acontece desgraça é que o poder público se sensibiliza. Tem muitos apartamentos no Centro que têm balas encravadas no teto e nas paredes - lembra.
Morador do Centro há 52 anos, ele cita a Rua Marechal Floriano como exemplo de irregularidade:
- Como pode uma quadra que tem 70 metros concentrar três casas noturnas? É uma polarização absurda, descabida, e numa área residencial. Um bar talvez, com horário regrado e proteção acústica, ainda vai. O problema é que esses inferninhos são focos de drogados no entorno, não é dentro. Atraem grupos que fazem tráfico, prostituição e uma série de outras coisas.