Matador da bandeira 2
Reação de taxistas preocupa polícia
Agentes estão alertas depois que motoristas distribuíram fotos de dois homens como suspeitos das mortes de três colegas. O temor é de um linchamento
Além de procurar o assassino de três taxistas na Capital, os policiais da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) têm mais uma tarefa: acalmar os ânimos dos colegas das vítimas. Desde domingo, as fotos de dois homens estão sendo distribuídas entre os motoristas e colocadas nos pontos de táxi.
Para os profissionais, eles seriam suspeitos do crime. No entanto, os retratos e suas possíveis identificações não chegaram à Polícia Civil.
- Não nos trouxeram essas duas fotos. Se são suspeitos, os nomes, fotos ou quaisquer informações têm que ser trazidas para nós - explicou o diretor do DHPP, delegado Odival Soares.
O temor do diretor e dos dois delegados encarregados das investigações é de que os taxistas acabem caçando esses prováveis suspeitos e, em consequência, cometendo uma injustiça. A advertência é embasada em outros casos em que suspeitos de roubos foram pegos e espancados por taxistas.
- A tarefa de investigar é nossa. Se eles têm uma informação, uma suspeita, têm que nos avisar - reforçou Odival.
Não há descrição do assassino
A insegurança dos taxistas também vem do fato de que não há uma descrição do criminoso, já apelidado de Matador da Bandeira 2. Muitos se negam a pegar corridas na rua e até mesmo desistiram de trabalhar na madrugada. Isso sem falar nos inúmeros boatos, que vão desde sumiços de colegas até a suposta ligação feita a uma teletáxi em que alguém, que disse ser o Matador da Bandeira 2, avisou que faria mais três ou quatro vítimas.
Busca por imagens
A falta de um perfil do matador também atrapalha o trabalho da Polícia Civil. Tanto que o delegado Gabriel Bicca, que responde pela 4ª DHPP, foi designado exclusivamente para procurar imagens de câmeras de segurança e testemunhas que tenham visto o criminoso. Três câmeras de empresas teriam gravado a imagem do assassino. Mas os policiais ainda não conseguiram estas imagens. CAROLINA ROCHA
Bala na Cara em ação na Fronteira?
A Polícia Nacional do Uruguai investiga a possibilidade da facção Bala na Cara estar por trás das mortes de três taxistas na última semana entre Santana do Livramento e Rivera. A revelação foi feita pelo jornal uruguaio El Pais e reforçaria a hipótese de que dois dos três taxistas mortos teriam envolvimento com o tráfico de drogas naquela região.
A tese confirmaria o que já é investigado pela polícia gaúcha. Depois de se consolidar como uma grande força nas cadeias da Região Metropolitana - e dominar o tráfico, com características de extrema violência fora da cadeia -, o comando dos Bala na Cara teria como meta se expandir e formar alianças no Interior.
De acordo com o diretor de investigações do Denarc, delegado Heliomar Franco, o departamento não está apurando os casos de Livramento, mas a expansão da facção é uma realidade:
- Não podemos revelar muitos detalhes porque esse é um assunto ainda sob investigação. Mas a realidade dos Bala na Cara é a de uma facção em pleno crescimento. Eles têm o tráfico de drogas como interesse principal e, para isso, alianças são sempre oportunidades.
Conforme o El Pais, a suspeita surgiu porque um traficante uruguaio preso no Presídio Central de Porto Alegre, Ernesto Andréz Villanova Vargas, o Cachorrinho, teria ligações com os Bala na Cara, inclusive estando numa ala da facção no Central.
Vargas cumpre prisão preventiva pelo assassinato de um rival brasileiro no Uruguai. Ele foi preso em Livramento pelo delegado Eduardo Finn, que agora investiga o triplo assassinato.
- O Vargas é muito famoso aqui e, de fato, o grupo dele está em guerra com um grupo uruguaio. Não sabemos se os Bala na Cara estão por trás dessa disputa - pondera Finn.
A suspeita sobre os Bala na Cara é confirmada por autoridades que investigam as mortes em Porto Alegre.
Ciência enfrenta o matador
Enquanto a polícia segue buscando pistas para identificar o criminoso, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) entrou em ação com novas armas para chegar ao matador por meio de provas técnicas. Uma segunda rodada de perícias nos três táxis, realizada ontem, serviu para recolher mais vestígios na tentativa de identificar o assassino por meio de testes de DNA e por impressões digitais.
Peritos do Departamento de Criminalística vasculharam os veículos à procura de manchas de sangue do assassino. Até então, as investigações indicam que apenas um dos três taxistas, Cláudio Gomes, 59 anos, o último a ser atacado, foi ferido quando ainda estava dentro do carro.
O motivo dos crimes
O grupo de Cachorrinho é suspeito da execução do traficante uruguaio Mailcon Jacson Saldivia, baleado dia 14 e que morreu no domingo passado, em Rivera. Mailcon gerenciava uma boca de fumo na esquina das ruas Barnabé Rivera e Figueroa, na cidade uruguaia.
Um dos taxistas mortos, Enio Lecina, teria testemunhado a execução do traficante uruguaio. Os outros dois taxistas assassinados, o brasileiro Hélio Beltrão do Espírito Santo Pinto (ex-PM) e o uruguaio Márcio Fabiano Magalhães Oliveira, receberam chamadas no celular na madrugada de quinta-feira, pouco antes de serem executados. Policiais uruguaios e brasileiros suspeitam que esses dois possam ter morrido como vingança dos traficantes contra os clientes para quem eles (os taxistas) trabalhavam.
Os três taxistas mortos semana passada em Livramento e Rivera foram assassinados com a mesma arma, calibre 22. Não é, no entanto, a mesma usada pelo matador da Capital.