Mudança nas cadeias
Revista íntima vai acabar nos presídios do Estado
Portaria do governo determinará mudança nos procedimentos nas penitenciárias gaúchas. Cerca de 90% dos visitantes são mulheres
A publicação de uma portaria, nos próximos dias, deve mudar a realidade de milhares de visitantes de presídios gaúchos. Ela determina o fim das revistas íntimas para os visitantes, considerada constrangedora pelas mulheres, mães e irmãs de detentos.
- Vai acabar? Que baita notícia! - disse ontem a tarde uma das visitantes do Presídio Central.
A mulher estava com duas amigas em um bar em frente à maior casa de detenção do Estado, após visitar um familiar. E justamente conversavam sobre como o procedimento é humilhante.
Para se visitar um detento primeiro é preciso passar pelo detector de metais e ficar de roupas íntimas.
Usado em casos suspeitas
Caso os agentes da Susepe ou os PMs, no caso do Central, desconfiem do visitante, podem solicitar que ele passe pela revista íntima, em que a pessoa fica nua, passa novamente pelo detector de metais, e ainda faz agachamentos de frente e costas.
Quando as visitantes são mulheres, a revista é feita por agente penitenciárias ou PMs do sexo feminino. Quando o visitante é homem, a revista é feita por homens de uma ou outra corporação.
"É muito constrangedor"
- É uma falta de respeito com a mulher. É muito constrangedor - contou a auxiliar de serviços gerais Andrieli da Costa Fonseca, 24 anos, que passou uma vez pelo procedimento nos três meses em que visita o marido no Central.
Assim como ela, uma auxiliar de restaurante de 48 anos, também se queixa da prática:
- Já fui escolhida seis vezes para fazer a revista íntima. Isso em quatro anos que visito meu filho aqui no Central. É uma humilhação, dá até vontade de ir embora, mas preciso vê-lo - contou a mulher, que pediu para não ser identificada.
A revista íntima será mantida apenas na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Susepe usará scanners
Para a coordenadora penitenciária da mulher da Susepe, Maria José Diniz, a mudança é uma proposta do atual governo estadual, para dar mais respeito e dignidade nos presídios. Isso porque 90% dos visitantes das penitenciárias são mulheres. Só no Central, por mês, acontecem 22 mil visitas.
- Nós já vínhamos com essas propostas e vamos atender com essa medida todos os presídios gaúchos - explica Maria.
Para evitar a entrada de armas, celulares, drogas e outros objetos ilícitos nas cadeias, a Susepe adquiriu scanners corporais e novos detectores de metais. Os aparelhos serão usados para substituir a revista íntima. Alguns equipamentos já foram instalados e devem começar a operar assim que a portaria for publicada.
Em 2000, a revista íntima deixou de ser feita nos presídios gaúchos. Na época, o então secretário de Segurança, Airton Michels, era o superintendente da Susepe. O método foi retomado em 2008. Hoje, o Estado tem 29.214 pessoas presas.