A imagem flagrada pelos vizinhos não chegou a surpreender. Uma das casas da Rua Erechim, na praia de Magistério, Balneário Pinhal, amanheceu com a grade cuidadosamente recortada. E a porta dos fundos, arrombada. O tamanho do estrago, na manhã de ontem, ninguém sabia. Estavam à espera dos donos da casa, que moram em Uruguaiana.

Eles engrossariam o volume de pessoas que chegava à praia na manhã fria que abriu o feriadão. Não foram para aproveitar os dias de folga, mas para contabilizar prejuízos com a abertura da temporada de arrombamentos depois do fim do veraneio.

Há uma semana, Elenita Ilha, 64 anos, e o marido estão na casa da praia, que fica na mesma rua.

- Estão fazendo uma limpa em toda a volta. Só nessa rua, acho que já arrombaram umas cinco casas - comenta a aposentada.

Porta foi arrombada

O casal foi chamado por vizinhos no dia 23, quando a casa foi invadida. Os bandidos retiraram os parafusos do portão e arrombaram a porta. Levaram botijão de gás, batedeira, DVD, televisão e até uma bicicleta elétrica. Em 38 anos de veraneio, foi a primeira vez que tiveram a casa furtada.

- Na mesma noite, arrancaram a janela da vizinha - diz Elenita.

Durante a semana, eles contrataram uma empresa de vigilância.

- Como nenhum de nós dirige, temos de manter a casa mobiliada. É um perigo - lamenta.

Venezianas destruídas

Há poucas quadras dali, na Rua Carazinho, Clara Regina Santiago, 57 anos, esperava, na manhã de ontem, um marceneiro para colocar novas aberturas na casa de veraneio do filho. No sábado passado, os bandidos tentaram arrebentar os marcos pregados às janelas. Não conseguiram, mas destruíram as venezianas.

- O meu guri ainda deu sorte, porque estava planejando comprar móveis novos exatamente nessa semana - conta a dona de casa, que é moradora de Canoas.

Casas abandonadas viram esconderijo

Se os ataques a casas fora da época de veraneio não são novidade no Litoral Norte, o que intriga agora é a estratégia dos criminosos. Eles se instalariam em casas abandonadas, no máximo, durante uma semana, para observar as moradias ao redor.

- Eles ficam em um lugar, limpam algumas casas e, na outra semana, vão para outra rua - garante um morador.

De acordo com a Brigada Militar, essa mobilidade dificulta a identificação dos bandidos. Nesse ritmo, nem os moradores escapam.

Foi o que aconteceu a uma comerciante da Rua Passo Fundo na semana passada. Ela havia saído para uma ida rápida a Porto Alegre. Quando voltou, ao anoitecer, encontrou a casa toda quebrada. Eletrodomésticos foram furtados.

Furtos levados de caminhão

Conforme as vítimas, o aumento na frequência dos arrombamentos coincidiu com a chegada, desde o último verão, de pessoas vindas de Porto Alegre, Alvorada e Canoas para uma área invadida no final da praia. A suspeita é de que o material levado das casas estaria sendo transportado de caminhão para ser vendido na Região Metropolitana.

Moradores falam em mais de 20 assaltos

O número de arrombamentos, que passaram a ser frequentes em Magistério há pouco mais de um mês, é incerto. Boa parte das vítimas nem registra ocorrência. E alguns, quando tentam, esbarram na histórica carência de pessoal da Polícia Civil e da Brigada Militar.

- Arrombaram a casa de uma vizinha minha, chamei a Brigada. O policial veio, mas me disse que não poderia fazer nada, porque naquele dia só ele estava trabalhando - comenta uma moradora.

Nas conversas de cada esquina, a suspeita é de que, no eixo entre as ruas Passo Fundo, Carazinho e Erechim, pelo menos 20 arrombamentos tenham acontecido só em maio. Uma comerciante, que pediu para não ser identificada, garante que já foram mais.

- A gente ouve sobre dois ou três casos por noite. Da minha ferragem, levaram R$ 10 mil em peças há pouco mais de um mês - diz.

Na DP de Balneário Pinhal, os agentes dizem que não há ocorrências que indiquem a existência de uma sequência de arrombamentos.

DOIS SUSPEITOS ESTÃO PRESOS

A primeira resposta a Brigada Militar já conseguiu dar. Depois de semanas de monitoramento, foram presos, na quarta à noite, em Pinhal Sul, Maicon Freitas Rodrigues, o Galo, 19 anos, e Diego Vidal Homem, o Esporinha, 21 anos. Um terceiro suspeito de fazer parte do bando é procurado, assim como um Stilo roubado de moradores.

- Eles são criminosos aqui da praia, que agem de forma mais violenta. Esperam as vítimas chegarem em casa e atacam, mas também teriam participação em arrombamentos - explica o sargento Paulo Ricardo da Silva Santos.

Segundo ele, o batalhão local organizou um pelotão dedicado a identificar e monitorar esse tipo de criminoso.